O ator norte-americano e membro da Igreja da Cientologia Danny Masterson foi condenado esta quarta-feira a uma pena de 30 anos a prisão perpétua pela violação de duas mulheres na sua residência, em Hollywood Hills.
O tempo específico é o que terá de cumprir antes de ser elegível para liberdade condicional.
A estrela das séries de TV "That '70s Show" e "O Rancho" enfrentava uma pena de 30 anos a prisão perpétua pedida pela acusação, com a defesa a apelar aos 15 anos a prisão perpétua.
Com 47 anos, o ator estava preso desde que, a 31 de maio, um júri de Los Angeles formado por sete mulheres e cinco homens o considerou culpado de duas acusações de violação entre 2001 e 2003, quando estava no auge da popularidade televisiva pelo papel de Steven Hyde em "That '70s Show", não chegando a um veredito sobre uma terceira acusação.
Masterson é casado desde 2011 com a atriz Bijou Phillips ("Quase Famosos", "Bully", "Raising Hope"), que foi vista a usar óculos escuros e a chorar no início da audiência antes de se recompor.
Na sala estavam ainda a mãe do ator e os outros irmãos, todos atores: Christopher Masterson ("O Casamento do Meu Melhor Amigo", "Malcolm in the Middle"), Jordan Masterson ("Virgem aos 40 Anos", "Last Man Standing") e Alanna Masterson ("The Walking Dead").
"Não é a vítima aqui. As suas ações há 20 anos tiraram a escolha e a voz de outra pessoa. As suas ações há 20 anos foram criminosas e é por isso que está aqui”, disse a juíza Charlaine F. Olmedo antes de ler a sentença, citada pela Legal Affairs and Trials.
A juíza acrescentou que sabe que o ator se está a perguntar “como é que pode ser condenado por cada acusação de incidente sexual ocorrido há 20 anos” envolvendo “uma mulher que acredita estar descontente e ter uma vingança contra si”.
Mas “não foi condenado com base no testemunho de uma pessoa. Não foi condenado com base em rumores, insinuações, bisbilhotices e especulações. Foi condenado com base em provas que 12 pessoas da comunidade consideraram credíveis. (...) Foi condenado porque cada uma das vítimas denunciou as violações a alguém logo após terem acontecido".
Foi ainda recordado que o ator pagou a uma das suas vítimas quase um milhões de dólares para assinar um acordo de confidencialidade: "É um valor enorme a pagar por um incidente que afirma nunca ter acontecido".
A pena foi anunciada após ser rejeitada a moção da defesa para um novo julgamento e ouvidas as alegações dos advogados das duas partes e declarações das vítimas, para quem Masterson olhou sem qualquer reação visível segundo os relatos da imprensa presente na sala.
"Adoras magoar as mulheres. É o teu vício. Sem dúvida que é a tua coisa favorita para fazer. Viveste a tua vida atrás de uma máscara, como duas pessoas. Mas a verdadeira está aqui agora. Quando me violaste, roubaste-me. A violação é isso, um roubo do espírito. És patético, perturbado e extremamente violento. O mundo fica mais seguro contigo na prisão”, disse uma das mulheres.
Identificada apenas pelas suas iniciais NT, terminou a dizer que "a vida é preciosa e frágil. Encontra o teu coração… aprende alguma coisa. Lê livros. Ouve o brilho do vazio e fica bom. Perdoo-te".
NT salientou que a Igreja da Cientologia foi a “facilitadora e protetora” de Masterson e ela foi um “membro que sofreu lavagem cerebral” durante sete anos.
A Igreja sabia que “andavas a violar os seus membros, mas fez esforços concertados não só para punir as vítimas por terem sido agredidas por ti”, mas também para encobrir as violações e que ela teve a sua "privacidade invadida diariamente pelo Culto da Cientologia”.
A segunda vítima, Jennifer B, que tinha assinado o acordo de confidencialidade, disse que o ator "não demonstrou um pingo de remorso pela dor que causou” e dirigiu-se à juíza para dizer que "sabia que o lugar dele era atrás das grades para segurança de todas as mulheres com quem teve contacto. Lamento muito e estou tão transtornada. Gostaria de o ter denunciado mais cedo às autoridades".
Este foi o segundo julgamento por violação que Masterson enfrentou: o processo anterior foi anulado em novembro de 2022 porque outro júri não conseguiu chegar a uma decisão unânime. Durante uma audiência preliminar em 2021, o seu advogado disse que as relações sexuais foram consensuais com duas das mulheres e que a terceira alegada violação nunca tinha acontecido.
No segundo julgamento o júri deliberou durante sete dias, distribuídos durante duas semanas. A terceira acusação de violação, sobre a qual não se chegou a um veredito, envolvia uma ex-namorada de Masterson.
Masterson esteve em liberdade durante os julgamentos após ter pago uma fiança de 1,3 milhões de dólares, mas foi algemado e levado sob custódia para aguardar a sentença na prisão após a leitura do veredito a 31 de maio.
Ligado à Cientologia, o ator ganhou fama com a estreia, em 1998, da série "That '70s Show", na qual interpretava Steven Hyde e dividia a ecrã com Mila Kunis e Ashton Kutcher.
Voltou a trabalhar com Kutcher em "O Rancho", da Netflix, mas foi despedido em 2017 e a sua personagem foi eliminada da história após a polícia de Los Angeles confirmar que acusações de violação contra ele estavam a ser investigadas. Naquela altura, os procuradores descartaram outros dois casos de agressão sexual contra Masterson por falta de provas.
As três denunciantes também faziam parte da Igreja da Cientologia e foi por meio deste grupo restrito que Masterson as conheceu. Duas delas disseram que as autoridades da Igreja lhes pediram que não entrassem em contacto com a polícia.
O ator, que não testemunhou nem apresentou testemunhas, declarou-se inocente e o seu advogado disse que os atos foram todos consensuais.
A acusação referiu que o ator colocou droga nas bebidas das mulheres, para que pudesse violá-las, acrescentando que utilizou a sua posição na igreja para evitar consequências durante décadas.
Na sua argumentação final ao júri, os advogados de Masterson questionaram que se falasse "muito sobre a Cientologia" e sugeriram que um preconceito contra a igreja pode ter motivado a decisão.
A Igreja da Cientologia, que conta entre os seus membros com estrelas de cinema como Tom Cruise e John Travolta, e tem fortes bases em Hollywood e nas regiões vizinhas de Los Angeles, onde possui múltiplas propriedades, não reagiu nem à condenação em maio nem à sentença desta quinta-feira.
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