O rapper Pablo Hasél, detido na terça-feira na Universidade de Lérida, tornou-se um símbolo da liberdade de expressão em Espanha, depois de ter sido condenado por tuites em que insultava as forças de ordem espanholas e atacava a monarquia.

Hoje, a portuguesa Capicua expressou, através das redes sociais, toda a sua solidariedade para com Hasél “e com todos os outros rappers espanhóis (são cerca de 15), como Valtònyc (exilado há uns anos para não ser preso), que, por criticar o estado espanhol e sua monarquia, têm sido alvo de perseguição e condenação”.

“Prender alguém por 'tweets' e rimas em pleno 2021 é inaceitável. Temos de estar vigilantes e espalhar a mensagem! Podia ser qualquer um de nós!”, escreveu a rapper.

Por seu lado, NBC, também nas redes sociais, mostrou-se surpreendido por, em 2021, ver “um poeta, escritor, a ser preso por dar a sua opinião numa música sobre o que ele acha do poder instituído em Espanha”.

“Se todos os que usam a palavra tiverem que ser presos por dizer o que sentem em relação ao estado ou ao seu patrão, então todas as pessoas merecem ir presas, porque toda a gente o faz em alguma altura da sua vida. Mas em 2021, a empatia e colocar-se no lugar do outro [são] um eufemismo”, escreveu NBC.

O criador de “Afro-Disíaco” acrescentou: “Todos os sistemas devem ser colocados em causa, nenhum sistema deve ficar impune desse escrutínio, mas se em 2021 assobiamos para o lado quando um artista é preso por contestar alguma coisa, então batemos no fundo. Se batemos no fundo, paz à nossa alma”.

Enquanto Bispo publicou, no Instagram, uma mensagem a dizer que “A voz de uns é a voz de todos”, acompanhada da hashtag “#freepablohasel”, o rapper Estraca recordou, no Facebook, quando em 2018, numa escola secundária, lhe desligaram o microfone: “Em seguida entram quatro agentes da PSP com a abordagem de que tinham sido chamados e que eu não podia estar a cantar aquelas coisas dentro daquele espaço e logo de seguida me convidaram a abandonar o recinto”.

“Numa altura em que vemos a nossa liberdade em risco mais do que nunca, os nossos direitos a serem abusados diariamente, onde é que estão os rappers, que sempre tiveram uma postura firme e algo a dizer quando as coisas não estavam bem? Será que têm medo de não ser aceites? Com medo que a indústria não os aceite? Por isso decidem ficar na zona de conforto e andar de mãos dadas com um sistema podre?”, questionou o artista.

Estraca, usando outra das hashtags a pedir a liberdade de Pablo Hasél, escreveu: “Farei sempre a minha parte enquanto artista e cidadão, irei continuar a gritar quando tiver de gritar, falar o que tiver de falar! Isto é muito mais do que guerras partidárias, que só servem para dividir e segregar ainda mais as pessoas, isto é muito mais do que qualquer ideologia política, é a nossa liberdade é o bem comum!”, terminando a frase em maiúsculas.

Já Valete partilhou, no Instagram, uma notícia da detenção de Hasél com uma só palavra: "Franquismo".

Os factos pelos quais o rapper foi condenado remontam a 2014 e 2016, quando publicou uma canção no YouTube e dezenas de mensagens no Twitter, acusando as forças da ordem espanholas de tortura e homicídios.

Hoje, um tribunal de Lérida, na região espanhola da Catalunha, confirmou outra sentença de dois anos e meio para Hasél.

O rapper foi agora condenado por ameaçar uma testemunha num julgamento contra a polícia urbana de Lérida, uma sentença de dois anos e meio de prisão que poderia ser acrescentada aos nove meses que está a cumprir por mensagens enviadas na rede social Twitter em que fazia a glorificação do terrorismo e injuriava a monarquia.

O atual executivo de coligação de esquerda de Espanha quer alterar o código penal do país para eliminar as penas de prisão por ofensas envolvendo a liberdade de expressão, especialmente quando se trata da forma de expressão artística.

Entretanto, o Unidas Podemos, coligado ao Partido Socialista (PSOE) que lidera o atual Governo, afirmou que vai trabalhar para conceder um indulto a Hasél.

A 8 de fevereiro, mais de 200 personalidades, incluindo o realizador Pedro Almodóvar e o ator Javier Bardem, assinaram um manifesto pedindo a libertação do rapper e a alteração da lei, divulgado no jornal El País.

“A perseguição a rappers, autores de twits, jornalistas, bem como de outros representantes da cultura e da arte, por tentarem exercer o seu direito à liberdade de expressão, converteu-se numa constante”, escreveram.

“O Estado espanhol passou a encabeçar a lista de países que mais represálias lançou contra artistas pelo conteúdo das suas canções. Agora, com a detenção de Pablo Hasél, o Estado espanhol está a equiparar-se a países como a Turquia ou Marrocos”, criticaram.