A comédia, com versão cénica e encenação de Hugo Franco, transpõe para o palco a trama de “Amigos, Amigos, Telemóveis à Parte”, filme realizado, em 2016, pelo italiano Paolo Genovese (1966), que foi coautor do argumento, e que gira em torno dos “problemas difíceis dos casais, como o de [se] sentir traído”, disse Hugo Franco à Lusa.

“[O que] nos faz irmos vasculhar os telemóveis uns dos outros, uma coisa que não se faz, que não se deve fazer, mas que toda a gente faz”, frisou o encenador, no final de um ensaio de imprensa da peça.

“Noventa por cento dos casais fazem isso. Ou cem, talvez. E isto acontece todos os dias, em todo o mundo”, disse, sublinhando que na peça este tema “é tratado a rir”.

Uma temática “cada vez mais proeminente na sociedade atual”, numa altura em que “a maioria das pessoas vive à volta dos telemóveis, das redes sociais, desta coisa das mensagens, das fotografias, dos ‘instastories`, dos ´insta na-na-na”, sublinhou.

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Até que ponto estas coisas parecem - ou são – diferentes quando são lidas por outra pessoa, pela pessoa que vive em conjunto ou que se ama, exemplificou.

“Os telemóveis são as caixas negras dos casais”, diz, a determinado momento da peça, uma das personagens femininas.

“Uma verdade”, nas palavras de Hugo Franco, para quem o que se esconde no telemóvel pode não significar apenas “traições amorosas”.

Haverá mesmo pessoas que nada têm para esconder dos outros nos seus telemóveis, mas esta será a exceção que confirma a regra”, frisou.

Numa noite de eclipse lunar, sete amigos de longa data juntam-se à mesa para jantar enquanto um deles propõe um jogo que consiste em colocarem os telemóveis no centro da mesa e, a partir daí, todas as chamadas telefónicas, SMS ou ´emails` sejam lidos e ouvidos em voz alta.

Com o decorrer do jogo, o que podia ser um jogo divertido acaba por se tornar numa exposição pública da intimidade de cada personagem dando origem a situações cómicas e caricatas e a conflitos entre as personagens já que apenas uma não tem nada a esconder.

“Se propusesse ao meu grupo de amigos uma brincadeira semelhante certamente que todos ficariam em pânico”, disse Hugo Franco. “É claro que o Messenger do Facebook está cheio de traições”, ironizou, classificando esta situação como “um sinal dos tempos”.

Cada vez mais as relações passam pelas redes sociais, frisou, acrescentando que o espetáculo acaba por abordar também a reserva da privacidade.

“Mas até que ponto a nossa privacidade serve para enganarmos o outro”, questionou Hugo Franco, considerando que “isto acaba por ser um bocado pornográfico até”.

A interpretar "Nada a esconder" estão Carlos Paulo, Maria Ana Filipe, Maria D´Aires, Maria Jorge, Marco Paiva, Miguel Sermão e Luís Gaspar.

A tradução e dramaturgia é de Cristina Buero, a cenografia de Hugo Franco e Renato Godinho, os figurinos são de Maria Ana Filipe e a ‘voz off’ do coletivo de atores. A peça estará em cena até 29 de março.

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