O New York Times (NYT) publicou na quarta-feira ao fim da tarde uma devastadora investigação que acusa Harvey Weinstein, fundador da Miramax e um dos produtores mais famosos de Hollywood, de praticar assédio sexual durante décadas.

Harvey Weinstein criou a Miramax no fim dos anos 1970 com o seu irmão Bob, que se tornou uma das produtoras essenciais na transformação de filmes do cinema independente em sucessos comerciais, colocando-os na corrida aos Óscares, como "Sexo, Mentiras e Vídeo", "Jogo de Lágrimas", "O Piano" e "Pulp Fiction". Os irmãos fizeram campanhas agressivas para "O Paciente Inglês" e "O Bom Rebelde" até que o próprio Harvey ganhou o prémio como um dos produtores de "A Paixão de Shakespeare".

Posteriormente, os dois irmãos criaram a The Weinstein Company e produziram sucessos como "Sacanas sem Lei", "O Discurso do Rei", "O Artista" e "O Jogo da Imitação", também distinguidos pelos Óscares.

Este é o mais recente caso do assédio envolvendo figuras públicas nos EUA após o actor Bill Cosby, Roger Ailes e Bill O’Reilly (do canal Fox News) e o lendário blogger de cinema Harry Knowles ("Ain't It Cool News"). Todos ficaram com as reputações destruídas e foram banidos.

Segundo o jornal, o alegado comportamento inadequado de Harvey Weinstein ocorre ao longo de quase três décadas e foram pagas indemnizações privadas a pelo menos oito mulheres entre os 80 e 150 mil dólares cada.

Entre as acusadoras estão as atrizes Rose McGowan e Ashley Judd. Esta última recorda o momento em que foi convidada para o quarto de Weinstein num elegante hotel de Beverly Hills há 20 anos, esperando ter um pequeno-almoço para discutir projetos.

Em vez disso, contou a atriz, Weinstein apareceu de roupão e perguntou se ela queria fazer-lhe uma massagem ou vê-lo a tomar banho. Sobre esse momento, recorda-se de ter pensado: "Como é que eu saio do quarto o mais possível ser alienar Harvey Weinstein?”

Judd já tinha descrito o episódio à revista Variety em 2015, mas sem identificar o produtor.

Duas ex-assistentes e uma modelo italiana fizeram acusações semelhantes e supostamente chegaram a um acordo.

Uma das assistentes foi alegadamente assediada por Weinstein para que lhe fizesse uma massagem enquanto estava nu, deixando-a "a chorar e muito angustiada", nas palavras de uma colega de trabalho, Lauren O'Connor, segundo o Times.

O'Connor assegurou que Weinstein criou "um ambiente tóxico para as mulheres" na sua atual produtora, a The Weinstein Company.

Segundo várias fontes, o artigo deixou os funcionários em estado de choque, tanto mais que muitos dos gestores de topo são mulheres.

Um produtor em Hollywood disse ao jornalista Jake Tapper da CNN que nada disto é uma surpresa: "Chocado que tenha demorado tanto tempo para ser denunciado o comportamento de Harvey Weinstein. Um dos segredos mais conhecidos em Hollywood."

Sob anonimato, um relações públicas com muitos anos de carreira também disse que "a única surpresa é 'Porque é que demorou tanto tempo?'", enquanto que um gestor de topo de um dos grandes estúdios de Hollywood declarou "Finalmente. A cultura chegou a este tipo de comportamento. Não é tolerado e graças a Deus".

Poucas horas após a publicação, Harvey Weinstein pediu desculpas e anunciou que irá tirar uma licença da sua produtora, antecipando-se ao pedido que lhe ia ser feito pelo conselho de administração.

"Considero que o modo como me comportei com colegas no passado causou muita dor e peço sinceras desculpas por isso", disse o produtor ao NYT após a história ser publicada.

Weinstein acrescentou que contratou terapeutas: "Embora esteja a tentar fazer o melhor, sei que o caminho será longo [...]. O meu caminho agora será descobrir e dominar os meus demónios [...]. Planeio tirar algum tempo da minha empresa e tratar primeiro deste problema", acrescentou.

"Cresci nos anos 1960 e 1970, quando todas as regras sobre o comportamento e os lugares de trabalho eram diferentes", continuou o produtor de 65 anos.

"Era a cultura dessa época e aprendi desde então que não é uma desculpa, na companhia ou em outro lugar", justificou.

Num declaração, afirmou ainda que respeitava as mulheres e gostaria de ter uma segunda oportunidade, embora saiba que tem "de trabalhar para conquistar isso".

"Tenho metas que agora são prioridades", assegurou. "Confiem em mim, este não é um processo do dia para a noite.  Tentei durante dez e esta é uma chamada de atenção", continuou, referindo ainda que começou a organizar há um ano uma fundação de cinco milhões de dólares para conceder bolsas a mulheres realizadoras na Universidade do Sul da Califórnia.

"Receberá o nome da minha mãe e não a decepcionarei", disse.

Lisa Bloom, uma das advogadas de Weinstein, especializada em casos de assédio sexual, disse em declaração separada que o seu cliente "nega muitas das declarações, que são claramente falsas".

Muitas pessoas da indústria do entretenimento já expressaram o o seu apoio às supostas vítimas, incluindo a atriz, argumentista e realizadora Lena Dunham: "As mulheres que escolheram falar da sua experiência de assédio por Harvey Weinstein merecem a nossa admiração. Não é divertido nem fácil. É corajoso".

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