Militantes feministas francesas reagiram esta quarta-feira à defesa feita por um grupo de cerca de 100 mulheres, entre elas a atriz Catherine Deneuve, ao direito dos homens de "importunar", acusando-as de desprezar as vítimas de violências sexuais.
"Cada vez que se avança para a igualdade, apesar de meio centímetro que seja, há almas boas que imediatamente alertam que podemos cair no excesso", afirmam as signatárias de um texto colocado no 'site' francetvinfo.
Esse texto é uma resposta à manifestação de grande impacto divulgada na véspera no jornal francês Le Monde, no qual um grupo de mulheres alerta contra um regresso ao "puritanismo" como uma das consequências do escândalo do produtor de cinema americano Harvey Weinstein.
"Na França, todos os dias, milhares de mulheres são vítimas de assédio. Milhares de agressões sexuais. E centenas de violação", recorda o novo grupo formado por cerca de 30 mulheres, entre elas a militante Caroline de Haas e várias jornalistas.
Para elas, as mulheres que assinaram o texto publicado no Le Monde, "misturam deliberadamente uma relação de sedução baseada no respeito e prazer com a violência".
Consideram que a maior parte das personalidades citadas no jornal francês são "reincidentes em termos de defesa de criminosos pedófilos ou apologia da violação e utilizam a sua visibilidade mediática para banalizar a violência sexual", além de "desprezar o facto de que milhões de mulheres sofram ou tenham sofrido este tipo de violência".
Em março passado, Deneuve, de 74 anos, gerou polémica ao defender na televisão o cineasta Roman Polanski, acusado de ter violado uma menor há mais de 40 anos nos Estados Unidos, e assegurar que o cineasta certamente não sabia que a jovem tinha 13 anos.
"Sempre gostou de raparigas novas. Sempre achei que a palavra violação era excessiva", afirmou.
"Com este texto tentam voltar a impor o tabu que começamos a levantar. Não conseguirão", reforçam as signatárias do novo protesto.
Referindo-se ao movimento que nasceu na França #Balancetonporc ["Denuncia o teu porco", semelhante ao #MeToo], o grupo concluiu que "os porcos e os seus aliados têm motivos para se preocupar. O seu velho mundo está prestes a desaparecer".
O grupo do qual Deneuve, além de alertar para o "puritanismo" que se instalou após o caso Weinstein, considera ainda "legítima a consciencialização sobre a violência sexual exercida contra as mulheres, sobretudo no âmbito profissional".
Mas, também afirmam, "esta libertação do discurso transforma-se hoje no contrário: somos intimadas a falar como se deve, a silenciar o que irrita, e aqueles que se recusam a vergar-se são considerados traidores, cúmplices!"
Há homens que foram "sancionados no exercício da sua profissão, obrigados a demitirem-se, quando o seu único erro foi ter tocado num joelho, tentado conquistar um beijo, falar de coisas 'íntimas' durante um jantar profissional ou ter enviado mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia uma atração recíproca", asseguram, falando de uma "onda purificadora".
"Enquanto mulheres, não nos reconhecemos neste feminismo", afirmam as signatárias, acrescentando que defendem "uma liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual".
O artigo considerado antifeminista provou reações no mesmo dia da sua publicação.
Nas redes sociais, a ex-ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, lamentou "esta estranha angústia de deixar de existir sem o olhar e o desejo dos homens, que leva mulheres inteligentes a escrever enormes asneiras".
"Este é um artigo para defender o direito de agredir sexualmente as mulheres e para insultar as feministas", denunciou ainda Caroline de Hass.
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