Passaram-se uns incríveis 35 anos desde “Appetite for Destruction”, o álbum de estreia que não só pôs os Guns N' Roses no mapa como ainda hoje fornece a grande maioria das canções mais celebradas dos concertos. Duas delas abriram este sábado os trabalhos no Passeio Marítimo de Algés: “It’s so Easy”, depois “Mrs. Brownstone”.
A “homenageada” desta última, aliás, esteve no já habitual cardápio das bandas de “rock” que se tornam grandes e os Guns não foram excepção: apenas cinco anos depois da estreia e de se tornarem uma das bandas mais famosas do mundo, a droga os dilacerava por dentro. No tumulto, partiram Izzy Stradlin, que saiu em 1991 em busca de uma vida mais sã, e Steven Adler, considerado “junkie” demais até mesmo para os padrões da banda. Terminou expulso em 1990.
De volta a Algés, a longevidade (e um público extremamente diversificado que incluía até alguns muito jovens) baseia-se no poderio que os três primeiros álbuns efetivaram – incluindo as peças do “pequeno” “Lies” (“Patience” é executada com três guitarras acústicas perto do fim, introduzida por uma curiosa versão instrumental de “Blackbird”, dos Beatles) e do megalómano “Use Your Illusion” (1 e 2). Isso foi em 1991; do século XXI, só o mal-amado “Chinese Democracy”, que certamente pouco contribuiu para o mito.
E o que se vê e ouve é uma banda extremamente pragmática. Axl, “cheinho” (calha a todos...), com cabelos curtos e calças rasgadas, surge contido nas habituais “litanias” dos “viva Portugal” e afins, dirigindo-se ocasionalmente ao público mas sem ser chato.
De resto Slash replica com precisão os magníficos e melódicos solos que salvaram o “rock’n’roll” do purgatório “poser” do final dos anos 80 (em “Sweet Child O’Mine”, uma das mais vulgarizadas, é um exemplo, onde os solos surgem vigorosos como sempre).
Os demais são obviamente muito treinados nestas lides – com destaque para Dizzy Reed e o seu piano da intensa “Estranged”, uma das mais belas pérolas escondidas da história dos Guns, e para o segundo guitarrista, Richard Fortus – a quem são concedidos os seus próprios momentos de visibilidade e virtuosismo (por exemplo na longuíssima versão de “Rocket Queen”).
“Welcome to the Jungle” pôs todos aos saltos, 35 anos depois, distante do perigo e da urgência do relato da chegada à grande cidade de um jovem Axl.
"Civil War” é facilmente transportada para a guerra da Ucrânia (uma bandeira do país esteve pendurada no palco ao longo do concerto). Duff assume o microfone para o clássico dos Stooges, “I Wanna Be your Dog” (impossível não funcionar) e, depois da violenta “You’re Crazy”, tudo se encontra e se solidifica na deliciosa “Paradise City”, onde a “relva” é verde e as meninas lindas.
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