A informação foi dada hoje à Lusa pela histórica livraria, cujos responsáveis se reuniram na semana passada com a Câmara Municipal de Lisboa (CML), para tentar encontrar uma solução para a crise que atravessa, fortemente agravada pelas restrições e confinamento impostos pela pandemia de COVID-19, que a conduziu a uma perda de vendas entre 80 e 90%.

Face a esta quebra de receita, a Barata elaborou um plano de reestruturação, que incluiu um pedido de ‘lay-off’ parcial e uma reunião com a autarquia, que se realizou no final da semana passada, na qual foram transmitidas as necessidades e dificuldades da livraria, disse à Lusa a proprietária e gerente da Livraria, Elsa Barata, filha do fundador, à frente do negócio, em conjunto com o marido, José Rodrigues, há 30 anos.

Para além das necessidades financeiras, foi abordado o projeto da livraria para a dinamização do seu espaço, transformando-o num local também de eventos culturais, acrescentou, especificando que “foram enviados, posteriormente, elementos informativos mais detalhados, tendo ficado do lado da CML pensar em possíveis soluções/saídas para a questão”.

Nesse sentido, deverá ser marcada uma nova reunião “o mais breve possível”, adiantou Elsa Barata.

Para já, a boa notícia para a Barata é que as notícias das dificuldades financeiras que a livraria atravessa e o risco de encerramento, ao fim de 63 anos de existência e de uma história marcada por perseguições políticas ao seu fundador durante o Estado Novo, levaram clientes, amigos e simpatizantes a acorrer à loja, deixando a pequena equipa atolada em trabalho.

“O pedido de ‘lay-off’ ainda estava em curso e ainda não houve resposta. De qualquer forma, a Barata decidiu repor o funcionamento total da Livraria e a prestação normal dos seus funcionários, uma vez que a afluência à Barata nos últimos dias aumentou, fruto da vontade dos nossos clientes (novos e velhos) de nos apoiar, encomendando, reservando e comprando aqui os seus produtos de cultura, informação e entretenimento”, contou a proprietária.

No âmbito do plano de reestruturação pensado para reerguer a livraria, que já antes da pandemia atravessava uma crise, transversal a todo o setor das livrarias independentes, Elsa Barata contou que está a ser preparada uma campanha de angariação de fundos a ser divulgada nas próximas semanas.

“Temos também em desenvolvimento um plano de dinamização do espaço que terá uma elevada componente de eventos e ações culturais, informativas e de troca de conhecimento. Também a visão para a requalificação da Livraria está a ser preparada tendo em vista um melhor aproveitamento do espaço e a introdução de outro tipo de oferta e atividades”, acrescentou a gerente do espaço.

A Livraria Barata, criada em 1957, vive uma situação financeira de emergência que se agravou com a pandemia e o confinamento.

Em consequência desta nova realidade, a Barata sofreu uma redução de 80 a 90% das vendas, ainda que mantendo o negócio a funcionar com restrições e obrigando a alterações “que significaram sacrifício pessoal e financeiro: atendimento à porta, reforço da compra e encomendas através de meios digitais, montagem de um sistema de entregas ao domicílio”, lembrou a responsável.

A quebra de fornecimento de publicações periódicas obrigou a criar rotinas internas para não deixar que produtos informativos e culturais faltassem aos clientes, situação agravada pela decisão de manter todos os encargos de funcionamento sem geração de vendas suficientes.

O dinheiro que a livraria necessita atualmente visa garantir o restabelecimento de ‘stock’, assegurar os custos de manutenção e funcionamento até ao final do ano, a requalificação do espaço histórico, o lançamento de um plano cultural, no mínimo a 18 meses, e o lançamento de uma plataforma de comércio eletrónico.

As ações em curso para manter o projeto a funcionar são o lançamento, nas próximas semanas, de uma campanha de ‘crowdfunding’ com vista a conseguir manter o negócio a funcionar.

Os objetivos desta campanha são permitir ultrapassar o “grande constrangimento do momento covid conjugado com a dificuldade de acesso a linhas de apoio”, bem como ganhar tempo e sustentabilidade financeira “para implementar um plano de renovação e inovação para aplicar nos próximos dois anos”.

Segundo a proprietária e gerente da livraria, com a campanha de ‘crowdfunding’ será apresentado um conjunto de ações a que a angariação de fundos dará suporte e as contrapartidas que serão dadas aos seus apoiantes.

“Essas contrapartidas ainda estão a ser desenvolvidas e deverão ser vistas pelas pessoas que decidirem contribuir como um investimento, pelo que serão vertidas em produtos culturais e informativos a favor dos apoiantes”, acrescentou a responsável.