Dez temas compostos por Nice Weather For Ducks, First Breath After Coma, Surma, Whales, Labaq, Cabrita, Few Fingers ou Jerónimo são interpretados por formações originais, que juntam elementos das cerca de duas dezenas de projetos do catálogo da editora.

Entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, as gravações decorreram às escondidas do mentor da Omnichord, Hugo Ferreira, que recebeu o disco como prenda no dia 13 de fevereiro, na festa dos 10 anos da editora. Hoje, o disco chega ao público.

“Fiquei absolutamente impressionado, por variadíssimas razões. E estou absolutamente maravilhado”, disse à agência Lusa Hugo Ferreira. O mais recente disco é o 54.º lançamento da Omnichord em 10 anos - até final de 2022 ambiciona-se chegar às 60 edições.

“A capacitação e a profissionalização que tanto tentámos e perseguimos desde o início, existiu e tem consequências”, acrescentou Hugo Ferreira.

O lançamento surpresa acaba por ser “uma lição” para Hugo Ferreira, pela “genialidade, forma de trabalhar e empenho”: “O maior orgulho que podes ter em estar numa instituição é saberes que és dispensável. É uma lição chegar aos 10 anos e sentir isso. O maior orgulho é não pelo que fiz, mas pelo trabalho que eles podem fazer. Eles conseguiram fazer um disco inteiro sem mim. Enche-me mesmo a alma”.

Musicalmente, “10” reflete o espírito do projeto, porque “é absolutamente despreocupado” e “explora fronteiras”, revelando, “em muitas camadas”, uma “química difícil de conseguir num disco que junta muitas pessoas” e que, como coletivo, mostram “coerência e um ADN familiar”.

A Omnichord surgiu oficialmente a 13 de fevereiro de 2012, para fazer acontecer “Quack!”, o primeiro disco dos Nice Weather For Ducks.

A partir daí foi sempre a crescer, revelando talentos, sobretudo de Leiria, mas não só. Nos últimos três anos, alargou a ação à área social e educativa, com projetos que criaram novos desafios e exigências. Por isso, o quadro de pessoal integra hoje 11 elementos, e até cresceu durante a pandemia.

“Poucas editoras independentes, em dez anos, conseguem 54 edições, entre CD e vinis. Só as ‘majors’ chegam a estes números”, frisou Vasco Silva, produtor da Omnichord e baterista dos Whales, uma das bandas da editora.

Para Hugo Ferreira, parte importante do mérito está na “nova geração de criativos”, que “é cada vez mais multifacetada e foi desenvolvendo competências em diversas áreas de produção”.

O fundador considera que o maior feito nestes 10 anos é ter resistido, garantindo “estabilidade laboral a uma equipa de profissionais apenas com os proveitos da edição musical e do agenciamento”.

Isso permitiu “juntar um coletivo de jovens profissionais sempre com os mesmos princípios norteadores do início, a liberdade criativa, a vontade de sonhar, de reter talento e de fazer acontecer, sempre a partir da cidade onde gostamos de viver”.

Na Omnichord a música é encarada, cada vez mais, como “um veículo essencial para potenciar projetos culturais de proximidade, educativos, e de cruzamentos disciplinares que são, muitas vezes, transformadores”.

Vasco Silva vê o sucesso como resultado de um “misto de muito trabalho e sorte”, mas “a principal razão é só uma: o Hugo [Ferreira]. Ele é o grande motivo deste crescimento”.

A experiência do empresário em gestão de empresas, a passagem por projetos como a Rádio Universidade de Coimbra e pela associação Fade In e “uma paixão incrível pela música e pela arte em geral” justificam a obra e o crescimento que a Omnichord numa década.

“Ele trouxe isso tudo para a Omnichord e para a CCer Mais Cooperativa - de que a editora faz parte - e isso deu um dinamismo novo e expandiu a atividade. O Hugo tem sempre o cérebro a fervilhar ideias e isso permitiu um crescimento enorme, sobretudo nos últimos três ou quatro anos”, frisou o produtor.

Telmo Soares, guitarra e voz dos First Breath After Coma (FBAC), não tem dúvidas: “Em momento algum estaríamos na mesma posição sem a Omnichord ou o Hugo”.

A banda foi descoberta num concurso escolar, em 2012. “Estávamos cheios de vontade e ideias. Mas era preciso alguém que acreditasse em nós e tivesse noção do mercado. O Hugo caiu-nos do céu”, diz o músico, que integra também o “braço” multimédia da estrutura, a produtora Casota Collective.

O futuro do projeto vai passar sempre pela música - “será sempre o pilar” -, mas cada vez mais se assumirá como “uma pequena fábrica de ideias”. “Estamos cheios de vontade de fazer isto acontecer”, frisa o músico dos FBAC.

Com larga experiência na música nacional, o saxofonista e compositor João Cabrita foi um dos últimos a integrar o catálogo da editora.

“Ao longo destes anos, noto que as coisas [no meio editorial] são sempre um bocadinho impessoais e isso sempre me deixou um bocadinho frustrado. Na Omnichord é exatamente o aposto. Aqui, toda a relação é centrada na música enquanto arte e não enquanto produto. É uma coisa do coração”.

E foi por impulso que Cabrita ficou ligado ao projeto: Hugo Ferreira viu um ‘showcase’ do músico no “Indigente Life”, da Antena 3, e fez questão de o contratar. “Ele apaixonou-se pela música, ouviu o disco e quis logo editar”, recorda o músico, orgulhoso por integrar “um catálogo muito valioso e rico”, onde constam artistas que “de outra forma não teriam outro veículo onde fazer sair o seu trabalho”.

Com um extra frequentemente difícil de encontrar: “O Hugo Ferreira é um gestor incrível que faz com que as coisas sejam viáveis. A editora não é um buraco por onde se escoa dinheiro à toa. É uma coisa bem pensada, bem estruturada”.

Após a primeira década, o passo seguinte para a Omnichord está já definido, garante Hugo Ferreira: “Pretendemos trabalhar cada vez mais a cultura que procura novos caminhos, que documenta, que tenta, direta ou indiretamente, capacitar e promover a participação plena, que procura parcerias, cruzamentos e proximidades”.