
A informação foi avançada à Lusa pela atriz, à margem da cerimónia em que foi anunciada como a galardoada com o I Prémio Revelação Ageas D. Maria II, realizada na segunda-feira na sala Garrett deste teatro nacional, em Lisboa.
Destinado a premiar talentos emergentes, com idades até 30 anos, na área do teatro, cujos trabalhos se tenham distinguido no ano anterior, Sara Barros Leitão recebeu a distinção, num montante de cinco mil euros.
O montante do prémio reverterá na totalidade para a concretização de “Heroides - Clube do Livro Feminista”, uma comunidade de leitores gratuita e aberta a todos que se queiram inscrever, a decorrer no último sábado de cada mês, disse a atriz à Lusa.
Um projeto que considera “muito importante” e que através do montante do prémio permite à atriz “atribuir um lugar de fala a quem o tem”.
Através do clube de leitura feminista, a atriz sublinha que vai poder “convidar 12 pessoas a ocuparem os seus lugares de fala e a partilharem 12 livros que achem que são completamente fundamentais” para lerem em conjunto.
Apesar de se mostrar “muito feliz” por ter sido contemplada com um prémio “que lhe foi atribuído por pares, e que, portanto, tem um sabor ainda mais especial”, a atriz revelou também “algum espanto e perplexidade” por ter sido a premiada.
O facto de ter sido escolhida deixa-a também “muito feliz, e um bocadinho com mais certeza, dentro de todas as inseguranças normais, de que o caminho” que tem trilhado, as suas escolhas, a sua intuição, o seu trabalho e a sua integridade “são reconhecidas”.
“E isto dá-me mais força para o futuro”, assegurou.
Cada sessão do clube terá um convidado que debaterá e lerá em conjunto com os participantes um livro de modo a possibilitar a abertura de “pensamento e de discussão a outras pessoas”, referiu. “Porque acho que é assim que se começa a mudar o mundo”, frisou.
Pensado há cerca de um ano e sem que tenha sido posto em prática por falta de condições financeiras, Sara Barros Leitão mostrou-se feliz por, finalmente, poder concretizar este projeto tal como o pensou.
Entre os autores a ler conta-se Virginia Woolf, revelou.
O projeto será divulgado no site da estrutura artística criada pela atriz para a produção dos seus trabalhos – www.cassandra.pt, que também é divulgado hoje e que o prémio ajudou a concretizar.
O título do projeto “roubou-o” Sara Barros Leitão à obra de Ovídio, que integra 15 poemas epistolares compostos pelo autor romano e que apresenta uma seleção de cartas como se fossem escritas por heroínas da mitologia grega e romana aos seus amantes e que, de alguma forma, as tenham maltratado, negligenciado ou abandonado.
As pessoas podem inscrever-se de forma gratuita e o montante do prémio permite à atriz “remunerar de forma muito digna todas as pessoas que vai convidar para colaborarem” consigo no projeto, acrescentou.
“Isso para mim é fundamental, é um direito laboral”, enfatizou.
Entre os 12 convidados para o projeto estão personalidades de diversas áreas, “com diversas experiências de vida e que a atriz “admira muitíssimo e com quem quer aprender”.
A atriz Sara Carinhas, a presidente do Instituto da Mulher Negra em Portugal, Ângela Graça, a advogada Alcina Faneca, a ativista LGBT+ Verónica Lopes, a socióloga, investigadora e ativista pelas pessoas com deficiência Ana Catarina Correia, o ator e ativista antifascista Marco Mendonça e a cantora Muna contam-se entre os convidados para o projeto, adiantou a atriz.
Ainda este mês, a atriz revelará no site Cassandra os 12 livros a ler em 2021, de modo a que as pessoas “se possam organizar para os comprar, requisitar ou pedir de empréstimo” .
Os encontros mensais realizar-se-ão através da plataforma Zoom, em modo fechado, permitindo a participação dos inscritos com a atriz e seus convidados.
Nascida no Porto, em 1990, a atriz licenciou-se em interpretação pela Academia Contemporânea do Espetáculo e iniciou a licenciatura de Estudos Clássicos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Com trabalho regular na televisão, cinema e teatro, a atriz assume-se como feminista e tem sido ativista em causas contra desigualdades e injustiças sociais, bem como crítica da política cultural do ministério tutelado por Graça Fonseca.
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