Os prémios para o teatro deste ano, recomendados pelos diretores do departamento de teatro da Bienal de Veneza, Gianni Forte e Stefano Ricci, aprovados pelo conselho de administração do certame, serão enttegues numa cerimónia durante o 49.º Festival Internacional de Teatro, previsto para os dias 2 a 11 de julho, em Itália.

A bienal escolheu o encenador Krzysztof Warlikowski, por ser uma "figura emblemática do teatro pós-comunismo, que deixou a sua marca no teatro internacional com visões memoráveis", enquanto Kae Tempest, com uma obra em textos de teatro e narrativas, rapper e performer, irá receber o Leão de Prata.

"Durante 40 anos, Krzysztof Warlikowski, advogou uma profunda renovação na linguagem do teatro europeu, baseando-se em referências do cinema, e uma utilização original do vídeo, para inventar novas formas de teatro que visam restabelecer a ligação entre o público e as peças, de forma a descobrirem o que está escondido sob a superfície", assinalam os diretores, na justificação divulgada hoje, em comunicado.

Sobre Kae Tempest, destacam "a mais poderosa e inovadora voz dentro da declamação dos últimos anos", que conseguiu atingir o consenso além-fronteiras das publicações em inglês, pela "coragem ardente demonstrada na dissecação e descrição lúcida da angústia, solidão, medo e inseguranças da vida", e atacando, ao mesmo tempo, os “moralismos” da atualidade, sobretudo em relação às questões da identidade de género e da marginalidade".

"The Book of Traps & Lessons" é o seu mais recente trabalho, que será apresentado, num espetáculo em estreia, em julho, na Bienal de Veneza.

Nascido na Polónia, em 1962, Krzysztof Warlikowski dirigiu as primeiras peças em 1989, aos 27 anos, depois de ter completado os estudos em Filosofia e História em Cracóvia, e de ter estudado língua francesa e teatro grego na Universidade da Sorbonne, em Paris.

Assume, desde 2008, o cargo de diretor artístico do Centro Cultural Internacional Nowy Teatr, em Varsóvia, trabalhando também na direção de ópera.

Concebeu uma nova forma de apresentar as obras de Shakespeare em palco, tendo assinado, entre outras, as peças "(A)pollonia" (2009), "The End" (2010), "African Tales by Shakespeare" (2011), "Kabaret warszawski" (2013), "The French" (2015), e "We Are Leaving" (2018), apresentadas em vários festivais e teatros europeus, nomeadamente o Festival de Avignon, o Teatro Nacional de Chaillot e o Odéon, em Paris, assim como o Teatro Real de la Monnaie, em Bruxelas.

Apresentou-se em Portugal, pela primeira vez, em 2008, com a encenação de "Krum", de Hanoch Levin, que esteve em cena no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Kae Tempest, pseudónimo de Kate Esther Calvert, nasceu em Westminster, em 1985, e assumiu uma identidade não-binária em 2020, anunciando publicamente o novo nome - Kae (pronunciado como a letra K) Tempest - e a preferência pelo uso do pronome plural e não-binário "they", em inglês.

A sua obra "Brand New Ancients" conquistou o Ted Hughes Award, em 2012, um dos mais prestigiados prémios para poesia, e, em 2014, a Poetry Book Society, fundada pelo poeta T.S. Eliot (1888-1965), inseriu o nome de Kae Tempest na lista da nova geração de poetas criada a cada dez anos.

Obteve uma nomeação para os Brit Awards 2018, e os álbuns "Everybody Down" (2014) e "Let Them Eat Chaos" (2017) foram nomeados para o Prémio Mercury de Música, enquanto "The Book of Traps and Lessons", lançado em 2019, foi um dos candidatos ao Prémio Ivor Novello.

Em 2020, foi publicada a primeira obra de não-ficção de Kae Tempest, intitulada "On Connection".

Em 2020, Franco Visioli conquistou o Leão de Ouro de carreira para teatro da Bienal de Veneza, enquanto o Leão de Prata, atribuído a um jovem talento emergente, foi entregue a Alessio Maria Romano.