O projeto de conservação e restauro, reabilitação e modernização do Teatro Nacional de São Carlos, que se encontra atualmente na terceira fase, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que conta com um orçamento de 27.927.000 euros e um calendário de execução de 2021 a 2026, foi hoje apresentado publicamente.

Atualmente, o projeto encontra-se em fase de desenvolvimento e preparação de mudança, estando em curso o inventário geral dos acervos, que conta já com cerca de 30 mil registos, disse Conceição Amaral, presidente do conselho de administração do Organismo de Produção Artística (Opart), que gere o São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado (CNB).

“Dada a urgência de identificação e registo do património histórico e documental pertencente ao Teatro Nacional de São Carlos, começámos o inventário geral dos acervos. Estamos numa fase muito avançada do inventário, estamos a cerca de metade, com 30 mil registos”, afirmou.

Após fazer o inventário, colocava-se a questão de decidir onde depositar esses acervos, tendo a escolha recaído sobre a Academia das Ciências de Lisboa, onde vão ficar documentação, fotografias e material audiovisual, e o Edifício da Boa-Hora, que albergará adereços, guarda-roupa, maquetas e telões.

No edifício do ex-Tribunal da Boa-Hora, que está a ser alvo de obras de melhoramento, vai ficar também toda a equipa do São Carlos, num total de 250 pessoas, que irão ocupar uma área de 3.800 metros quadrados, enquanto decorrerem as obras.

Os instrumentos musicais ficarão no Museu Nacional da Música, as pinturas e porcelanas, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, os equipamentos e cenografias várias, figurinos e acessórios, nos armazéns do Opart.

O grande objetivo desta intervenção no único teatro lírico do país foi “preservar, requalificar e modernizar 230 anos” de património, o que constitui também “um desafio para o futuro”, afirmou a responsável.

Entre as intervenções previstas, contam-se a conservação e restauro, reabilitação e adaptação de todo o edificado, aumento da segurança das pessoas e do património, a abertura de uma nova cafetaria e de uma nova loja ao público, a criação de uma cantina, a climatização do teatro e a melhoria da eficiência energética.

No que diz respeito especificamente aos espaços de trabalho, vão ser requalificados gabinetes, camarins, salas de ensaios e espaços comuns, será criada uma nova sala de ensaios para o coro e uma sala de ensaios para a Orquestra Sinfónica Portuguesa, cumprindo uma necessidade com mais de 50 anos.

O projeto prevê também a dotação do teatro de capacidade técnica para acolhimento de produções de teatros europeus congéneres e para apresentar espetáculos ‘online’, contando igualmente com a modernização dos equipamentos técnicos, de iluminação, som e vídeo, bem como a abertura de um espaço multidisciplinar para projetos de mediação com o público.

Toda a zona cénica será também requalificada e modernizada, o que inclui o subpalco (piso por baixo do palco), o palco, o fosso da orquestra e a teia (gradeamento situado no alto da boca de cena, que sustenta o conjunto de cordas, panos e telões, mantendo-os escondidos do público).

De acordo com o arquiteto, a quem foi adjudicado o projeto em concurso internacional, João Mendes Ribeiro, a inclinação “muito exagerada” do palco será resolvida com um palco horizontal, mas com plataformas móveis que permitem ajustar a inclinação conforme o espetáculo.

Na plateia, o pavimento vai ser ligeiramente mexido para aumentar a visibilidade do palco, e o poço da orquestra vai ser aumentado em extensão e profundidade.

João Mendes Ribeiro revelou que ao estudar uma gravura do século XIX com a planta do teatro, descobriu que havia zonas no teatro que não estavam a ser usadas, como mais pisos na zona dos camarins, o que “permitiu tirar partido desse espaço”.

“Muitas das respostas [existentes neste projeto de arquitetura] estavam no projeto original”, disse.

Um vão existente sobre o espaço da sala que não era visitável vai ser aproveitado para fruição do público, disse o arquiteto, adiantando que será também recuperada uma área junto à cobertura, que terá o pé direito aumentado para dar espaço de ensaio à orquestra.

O espaço de oficina vai ser aumentado e vai ter uma escada de incêndio que fará também a ligação entre andares.

A este propósito, João Mendes Ribeiro destacou que o edifício dispunha de apenas uma saída de emergência, a que serão acrescentadas mais duas, passando a contar com três.

Outra grande aposta do projeto é o pátio que passará a funcionar como extensão da cantina e zona de estar para os artistas.

“A nova cantina, com muita luz natural, estabelece relação com a rua e com o pátio, que funcionará com uma extensão do próprio refeitório”, disse, sublinhando que o aproveitamento da luz natural foi uma preocupação que presidiu à elaboração do projeto, estando previsto também “tirar partido da iluminação vertical, a partir da cobertura”.

Outro aspeto que o arquiteto quer assegurar é o de “dar continuidade à estrutura da cobertura, do século XIX, e refazer os anexos”.

O diretor artístico do teatro, Ivan Van Kalmthout, considerou que este período de obras será uma “oportunidade para fazer a ligação com novos públicos e com o território nacional”.

“É a democratização da oferta cultural, através da ópera e da Orquestra Sinfónica Portuguesa, articulada com parceiros locais, com a missão de difundir as atividades do único teatro lírico português”.

Em Lisboa as atividades vão prosseguir noutros espaços, como o Teatro Camões, o Centro Cultural de Belém e o Teatro Tivoli.

Está prevista também uma programação para crianças, com encomenda de óperas de bolso e óperas infantis, uma exposição para dar a conhecer o espólio do teatro, bem como concertos de música de câmara e conferências a decorrer em espaços como museus, igrejas, monumentos e bibliotecas.

Até ao momento foram executados 431,6 mil euros em estudos de especialidades, 228,6 mil euros em equipamentos, e 366,8 mil euros em projetos e serviços de consultoria.

As próximas fases do projeto serão a transferência de pessoas e bens, o que acontecerá entre julho e setembro deste ano, e, a partir dessa data, inicia-se a empreitada geral, por um lado, e a atividade de gestão administrativa, produção e preparação de espetáculos, por outro.

Entre maio e julho de 2026, está prevista a reinstalação de pessoas e equipamentos no edifício do teatro.