![Salman Rushdie esteve 'perigosamente perto' de morrer, diz acusação no julgamento do agressor do escritor](/assets/img/blank.png)
Começou na segunda-feira o julgamento do homem que esfaqueou Salman Rushdie, acusado de tentativa de homicídio e agressão durante uma conferência literária no norte do estado de Nova Iorque em 2022.
Hadi Matar, um libanês-americano de 27 anos que cresceu nos Estados Unidos, apresentou-se em tribunal, acusado de tentar matar o famoso escritor Salman Rushdie, mais de 30 anos depois de o Irão ter emitido um decreto religioso muçulmano (fatwa) lançado em 1989 pelo antigo líder do Irão "ayatollah" Ruhollah Khomeini que pedia a morte de Rushdie pela publicação do livro “Os Versículos Satânicos”, que Teerão considerou blasfemos.
O arguido entrou no tribunal de Mayville, no condado de Chautauqua, perto da fronteira com o Canadá, gritando as palavras “Libertem a Palestina”.
A 12 de agosto de 2022, Salman Rushdie, o escritor que se tornou um símbolo da liberdade de expressão em todo o mundo, participava numa conferência sobre a proteção da liberdade dos escritores.
Ainda não tinha falado, perante cerca de mil pessoas, quando “um jovem de estatura média, usando uma máscara de cor escura, apareceu nas traseiras do teatro”, descreveu o procurador Jason Schmidt na sua primeira intervenção perante o júri.
“Uma vez no local, acelerou” em direção a Salman Rushdie e “assim que o alcançou, sem hesitar, desferiu a sua faca com força, eficácia e rapidez”, insistiu o procurador no primeiro dia do julgamento. “Atingiu a cabeça, o pescoço, o abdómen e a parte superior da coxa”, insistiu.
Segundo Schmidt, Rushdie levantou as mãos para se defender, mas permaneceu sentado após ser atingido diversas vezes.
Deborah Moore Kushmaul, funcionária do centro cultural, disse ao júri que recolheu a faca usada no ataque e a entregou à polícia. "Vi sangue, vi as pessoas a aglomeraram-se. O nosso público, em boa parte idosos, gritava. A minha maior preocupação era de que pudesse haver uma bomba nas bolsas, que pudesse haver outro agressor."
O autor do ataque esteve "perigosamente perto" de matar Rushdie, afirmou Schmidt, acrescentando que o autor foi esfaqueado no seu olho direito com tanta fúria que o nervo ótico foi afetado. "A pressão arterial dele estava baixa. Ele perdeu muito sangue."
Salman Rushdie sofreu ferimentos graves em todo o corpo e esteve hospitalizado durante semanas, tendo perdido o uso do olho direito.
“Ainda consigo ver o momento em câmara lenta (...) Levantei a mão esquerda num gesto de autodefesa. Ele enfiou a faca. Depois, recebi inúmeros golpes, no pescoço, no peito, nos olhos, em todo o lado”, conta o escritor no seu livro sobre o ataque, “Faca".
Henry Reese, cofundador da “Pittsburgh City of Refuge”, um projeto de ajuda a escritores no exílio, também ficou ferido.
Espera-se que Salman Rushdie, de 77 anos, testemunhe no julgamento.
Hadi Matar foi detido no rescaldo do atentado. Declarou-se inocente num tribunal do Estado de Nova Iorque de tentativa de homicídio e de agressão, pelos quais poderá ser condenado a 25 e sete anos de prisão, respetivamente.
Antes do julgamento, o procurador do condado afirmou que pretendia centrar-se mais no ataque, com a ajuda de vídeos e testemunhos perante o júri, do que nas motivações ideológicas do alegado autor.
Alguns dias após os factos, o arguido foi entrevistado na prisão pelo New York Post, ao qual confidenciou que estava “surpreendido” com o facto de Salman Rushdie ter sobrevivido.
Hadi Matar não disse se se tinha inspirado na fatwa emitida pelo Ayatollah Khomeini, chefe do Irão na altura, mas sublinhou que “(não) gostava dele” e criticou-o por ter “atacado o Islão”.
O arguido foi também acusado num tribunal federal americano de “atos de terrorismo em nome do Hezbollah”, o movimento xiita libanês apoiado pelo Irão.
Teerão negou qualquer envolvimento no atentado.
Após a fatwa no Irão, o escritor teve de viver escondido durante anos.
Depois, conseguiu estabelecer-se em Nova Iorque e viver uma vida relativamente normal até àquele dia de verão de 2022.
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