Foi em 1999 que o então ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho decidiu criar uma rede nacional de teatros, onde estava incluída uma infraestrutura na capital algarvia, que se torna uma meta a concretizar, a 1 de julho de 2005, com a realização da Faro Capital Nacional da Cultura.

A atual comissária do Programa Cultural 365 Algarve, Anabela Afonso, acompanhou as primeiras reuniões com os projetistas e as apresentações do projeto, e recorda que a região “não tinha criado expectativas e nem se tinha questionado se era necessário ter um teatro”.

“Quando andava a apresentar o projeto às associações havia quem ficasse muito espantado e perguntasse porque é que era necessário um teatro e porquê tão grande, que nunca se iria encher” confessou à Lusa.

Para a responsável, que em 2005 fez parte da equipa como assistente de direção e programação e, entre 2010 e 2013, da direção, o primeiro ano “correu muito bem” e as expectativas passaram para o outro extremo, “de repente tinha de estar sempre a sala cheia”.

O atual diretor delegado do TF, Gil Silva, confessa que, “na altura, talvez fosse grande demais para a cidade, mas 15 anos depois a perspetiva mudou e, para algumas iniciativas, já é pequeno para a região”.

“O Teatro já se torna pequeno para as necessidades atuais e, no futuro, o edifício terá de ser equacionado, para se lhe criar mais valências”, afirmou à Lusa.

Posição similar defende o vice-presidente da autarquia farense, Paulo Santos, que lamenta que a sala não tenha sido “projetada para mil pessoas”, o que permitiria “atingir o equilíbrio financeiro de uma forma diferente, e trazer outros espetáculos de dimensão internacional”.

Como exemplo destaca o concerto do Caetano Veloso, no ano passado – que classifica como “um dos marcos destes 15 anos” –, mas que “elevou muito o valor do bilhetes entre 60 a 70 euros”.

O projeto inicial previa duas salas, mas por motivos vários foi redimensionado. No entanto, com o tempo, “percebeu-se que, pela sua dimensão e exigência de proximidade com o público, a segunda sala era essencial”. Fez-se a adaptação da traseira de palco para a criação de uma sala estúdio para projetos de menor dimensão, prosseguiu o autarca.

Consensual é o facto de 15 anos depois a estrutura “se ter conseguido afirmar como uma das salas de referência no país” e uma “mais-valia para a região”, com o número de “espectadores a crescer exponencialmente todos os anos”, e uma “procura por parte de artistas nacionais e internacionais”, destaca Paulo Santos.

Gil Silva, por seu lado, revela não sentir “qualquer bairrismo na região em relação à sala”, defendendo que há lugar para todos e que “as salas mais pequenas apostam num outro tipo de programação”, o que “se torna benéfico”, já que “cria alternativas e diferentes opções para o público”.

As restrições provocadas pelo chamado "período da 'troika’", também reúnem consenso quanto ao momento mais negativo destes 15 anos, que levou à extinção da empresa municipal Teatro Municipal, e “limitou a valorização dos trabalhadores técnicos essenciais para estes equipamentos e cujo enquadramento na função pública não é reconhecida”, sustenta Paulo Santos.

Do lado positivo o autarca destaca o TF como “um instrumento ao serviço da sociedade desde o setor cultural e criativo, ao social e associativo”, com um esforço feito para “estar cada vez mais próximo da população”.

Já Gil Silva considera injusto apontar um ponto alto, referindo que “foram muitos, desde vários grandes espetáculos dignificantes para a região, à assinatura da convecção de Faro entre ministros da Cultura de 50 países”.

Anabela Afonso realça a “mudança na oferta cultural e nas práticas culturais dos algarvios” e o efeito “de puxar ainda mais o trabalho já feito por outras estruturas”, destacando que “finalmente passou a haver uma sala por onde podiam passar algumas das ofertas internacionais que se apresentavam nas grandes salas do país”.

Quanto ao futuro, “falta fazer tudo”, atesta Gil Silva. Para o diretor delegado, este é “um trabalho que está sempre inacabado” e que “é necessário estar sempre a construir, num desafio mútuo e constante entre quem programa e quem assiste”.

Paulo Santos fala também de “vários desafios”, nomeadamente pensar se 15 anos depois “poderá haver um novo olhar mais estrutural” com a adaptação e otimização de alguns espaços.

“Temos agora uma equipa que está, nesta altura, a olhar para o edifício e perceber que equipamento queremos ter para os próximos anos, e se é possível trabalhar outras realidades", disse.

Ao longo destes 15 anos, a sala recebeu 1563 sessões, com um total de 569.682 espectadores e uma taxa média de ocupação de 58,2%, o que se traduz num valor médio de 334,3 espectadores por sessão.

A música, o teatro e a dança foram as áreas artísticas dominantes, à qual se junta a programação de serviço educativo.