"Leaving Neverland", uma produção com quatro horas de duração do realizador britânico Dan Reed, é considerada tão explosiva que na sua estreia em janeiro, no Festival de Cinema de Sundance, contou com assistência psicológica à disposição do público que acompanhou a exibição.
O filme é centrado na história de James Safechuck, de 41 anos, e Wade Robson, de 36, que relembram como Michael Jackson abusou deles quando eram crianças.
Ambos descrevem como foram atraídos pelo cantor: ele convidou-os a participar na sua vida de sonho, ganhou a confiança das suas famílias e manipulou-os para que mantivessem a relação sexual em segredo.
"Tu e eu fomos unidos por Deus", teria dito Jackson, segundo Robson.
As mães das duas alegadas vítimas também falam de como foram seduzidas pelo culto a Jackson e a culpa que sentem por terem deixado os seus filhos dentro do mundo do cantor.
O australiano Robson, atualmente um reconhecido coreógrafo, conheceu Jackson depois de ganhar um concurso de dança quando tinha cinco anos.
Aos sete, foi convidado pelo artista para visitar a sua mansão Neverland, na Califórnia, onde, segundo Robson, começou o abuso.
Safechuk, que garante que as relações se iniciaram quando tinha 10 anos, após participar num anúncio da Pepsi com Michael Jackson, conta uma história similar, assinalando que o cantor lhe disse que se alguém soubesse o que estava a acontecer entre eles, as suas vidas "acabariam".
Décadas de negação
Esta é primeira vez desde a morte do cantor em 2009, aos 50 anos por overdose, que este assunto vem à luz. Enquanto estava vivo, o artista enfrentou acusações semelhantes nos tribunais.
A HBO, que pretende exibir o documentário este fim de semana em duas partes, está a ser processada em 100 milhões de dólares pelos administradores do património do cantor pelo "assassinato póstumo de personagem", que garantem que a exibição viola uma posição assumida pela empresa de não denegrir o ícone pop, devido a um acordo estabelecido após a autorização da exibição dos seus concertos no canal.
Em 1993, Jackson foi acusado de abusar de um rapaz de 13 anos e encerrou o caso com um acordo extrajudicial. Nesse processo Robson e Safechuck testemunharam a favor do músico, garantindo que ele nunca havia tocado neles.
Em 2003, num novo julgamento, Safechuk não se pronunciou, mas Robson voltou a defender Jackson, que foi absolvido.
Apesar de terem sido consultados em várias ocasiões pelas autoridades e familiares, nenhum dos dois mudou a história até há pouco tempo, quando se tornaram pais.
Ambos tentaram abrir novos processos, mas as ações foram rejeitadas pelo alegado crime ter prescrito.
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