"O elemento central da primeira temporada foi o bunker, o facto de grande parte da ação decorrer no subsolo, num local estranho para se passar tanto tempo", aponta Mark Strong (saga "Kingsman", "A Toupeira") num encontro virtual com a imprensa no qual o SAPO Mag este presente, a propósito do regresso de "Temple". "Na primeira temporada, o bunker era seguro e o exterior perigoso. Mas agora toda a gente está a tentar sair de lá. Falámos sobre isso e achámos que tirá-los de lá era o melhor a fazer, porque têm de se confrontar com os seus medos", compara o ator britânico que volta a assumir o protagonismo e a produção executiva da série.
A viagem ao submundo londrino arrancou com o reputado cirurgião Daniel Milton a tentar encontrar uma forma de salvar a mulher, numa clínica ilegal no subsolo, e a primeira temporada tinha terminado com o plano a desencadear ramificações (muitas delas criminais) num novelo de personagens que vai muito além da sua família.
"As consequências das ações do Daniel vão ter com ele", antevê Strong, e aponta a relação do protagonista com a filha como um dos exemplos mais fortes dessa direção. "Pensámos muito para onde queríamos encaminhar essa relação, porque ele passou a primeira temporada toda a mentir-lhe. E isso tem de ter consequências. A relação que ele quer construir com a filha e o amor que espera receber da mulher, a união familiar que ele tentar moldar, acabam por desmoronar devido a todas as mentiras que ele foi acumulando".
Da adaptação à criação
Estreada em 2019, a aposta da Sky One estreada por cá na plataforma de streaming HBO Portugal adaptou a série norueguesa "Valkyrien"(2017), transpondo a ação da história original para a capital britânica. Criada pelo dramaturgo irlandês Mark O'Rowe (que também trabalhou no argumento da aplaudida "Normal People"), desvia-se agora da matriz da saga que a inspirou nos oito episódios da primeira temporada.
"A primeira [temporada] vinha de um modelo já existente, mas a segunda consistiu em pegar nestas personagens e levá-las para outros sítios, para onde quiséssemos", explica Mark Strong. "Queríamos levar esta temporada para Londres, mais do que na primeira. E isso torna-a uma proposta muito diferente", concorda Liza Marshall ("Taboo", "The State"), produtora executiva casada com o ator. "Tivemos muitas horas de conversas sobre como iniciar a segunda temporada. E acho que arrancamos de forma surpreendente. Espero que seja entusiasmante e com muito humor negro", recorda ao SAPO Mag.
"Há uma história de amor, há a história de uma relação pai e filha, há uma história de rivais", salienta Mark Strong, sublinhando que esse fator emocional ajuda a criar empatia por um protagonista que vai acumulando decisões moralmente questionáveis, mesmo que tenha começado com as melhores intenções.
Aliando o drama familiar e conjugal a situações de violência tão absurda como por vezes cómica, a primeira temporada gerou algum culto e teve o New York Times entre os entusiastas - o jornal norte-americano colocou-a na lista de melhores de 2019. "É uma série muito britânica, não esperava que tivesse uma aclamação tão forte lá fora. Mas às vezes as coisas mais específicas são mais apelativas. Temos um ponto de vista muito interessante sobre Londres que talvez tenha intrigado o público norte-americano", realça Liza Marshall.
Apesar da identidade "very british", a produtora executiva assinala influência do outro lado do Atlântico. "Quisemos fazer uma série com um formato semelhante a muitas norte-americanas, que tivesse muitas mudanças de tom. Pode ser divertida, noutro momento mais emocional... E alternar entre esses registos, como faz, de forma brilhante, a melhor televisão norte-americana", lembra a produtora executiva.
"Polícia, hospitais, espiões, crime... as pessoas sentem-se fascinadas por esses ambientes porque não fazem parte da sua realidade diária. Se tiverem sorte, não têm um contacto muito próximo com o mundo do crime. É algo entusiasmante porque é ilícito", considera Strong.
Além do ator, a segunda temporada de "Temple" traz de volta Catherine McCormack, Carice van Houten, Daniel Mays, Lily Newmark, Ryan McKen e Tobi King Bakare. Entre as novas caras contam-se Rhys Ifans, Michael Smiley, Ruthxjiah Bellenea, Mandeep Dhillon, Jamie Michie, Will Keen e Gbemisola Ikumelo.
Os sete novos episódios estão disponíveis na HBO Portugal a partir desta quinta-feira.
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