«Peso Pesado» é o primeiro reality show com um objectivo «nobre» e uma vertente pedagógica, o que o torna «mais aceitável», mas não deixa de ser um espectáculo baseado na exploração do ser humano, defendem especialistas. Esta é a dualidade do novo programa da televisão portuguesa, inspirado no modelo norte-amerciano «The Biggest Loser», que acompanha vários obesos na senda de perder peso através de dieta e ginástica intensiva.
Para Alexandra Bento, presidente da Associação Portuguesa de Nutricionistas, se o programa se focar «na necessidade de incrementar a actividade física e ter um plano alimentar correcto e personalizado, então podemos ter um programa com uma vertente pedagógica interessante, que mostra que é possível perder peso sem recorrer a técnicas cirúrgicas».
O «voyeurismo» está sempre associado a estes programas e a nutricionista lamenta o espectáculo em torno de pessoas com obesidade, mas adianta que «se não for mal explorado poderá não ser um problema. Caso contrário, passa da vertente interessante, pedagógica e eventualmente educacional, para o lado de lá».
Salientou por isso a necessidade de acompanhamento por profissionais durante e após o programa, mas Carlos Oliveira, presidente da Associação de Obesos e ex-Obesos de Portugal (ADEXO) garante que esse acompanhamento é feito. A associação colabora com a produção para garantir que os concorrentes têm acompanhamento médico e um hospital de campanha permanente.
«E vão ter gratuitamente dois anos de apoio nutricional e um de actividade física após programa», contou. Por isso, considera-o «sempre positivo para quem concorre», quanto mais não seja porque quem se inscreveu, e foram quase dez mil pessoas, já assumiu que tem um problema, uma das principais dificuldades associadas à obesidade.
Carlos Oliveira acredita também que quem concorre não o faz pelo mediatismo, mas para tentar encontrar a solução para o seu problema, pois são pessoas na maioria desempregadas e sem meios económicos.
Quanto à figura do «comando», um militar que humilha e castiga os concorrentes, Carlos Oliveira não se mostrou particularmente chocado: «é o método militar, usado na recruta, isso dou de barato, desde que atinjam os objectivos e mudem de vida, é o mais importante».
A mesma opinião não tem Jorge Gravanita, da direção da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica, para quem essa componente é «deplorável». «Sou crítico dos ‘reality shows' porque são experiências com seres humanos e que fazem do espectador cúmplice das cenas de humilhação».
Mas também poderá ser positivo, no sentido em que os concorrentes superam provas, ganham outra resistência e capacidade de se valorizar, porque comer demais também é auto abuso e uma violência com o corpo, lembrou. Para as pessoas normais, que no dia a dia incorrem em excesso, também pode ser um bom exemplo.
É mais fácil ver os outros, servem de elemento de identificação. Mas não deixa de haver aqui uma perversidade: «sentimo-nos livres e sentimos gozo de pensar naqueles que chegaram àquele ponto. É por isso que o programa é altamente didático mas também anti-ético».
@Lusa
Site oficial do programa: «Peso Pesado»
Comentários