Em "The Crossing", as pessoas já não fogem de um país ou de um continente, mas de uma guerra que se arrasta durante séculos no futuro. Este é o conceito da série do canal norte-americano ABC, cuja primeira temporada será transmitida a partir de 2 de abril nos Estados Unidos.

Escrita e produzida pela dupla Dan Dworkin e Jay Beattie ("Mentes Criminosas", "Intrigue"), a saga apresenta misteriosos migrantes que aparecem, nos dias de hoje, numa vila de pescadores no estado de Washington, onde pedem asilo.

Os 47 sobreviventes dos 500 que embarcaram nesta viagem afirmam ter fugido de uma guerra terrível que ameaça o mundo daqui a 250 anos. Mas as circunstâncias da sua chegada podem, por sua vez, iniciar uma guerra em 2018.

"Ainda é uma época pacífica, em comparação com o passado, e comparada à época de onde essas pessoas chegam. Ainda é um lugar de esperança", explicou Dworkin numa entrevista recente em Pasadena, Califórnia.

"Eles voltam ao passado, a situação complica-se e eles percebem que talvez não seja um período tão esperançoso como pensavam", indica.

O ator Steve Zahn dá vida a Jude Miller, um xerife local com um passado obscuro que se associa a um agente federal e a um refugiado que procura a filha.

"Estava sentado - não trabalhava algum tempo - a ler guiões. Li este e fiquei sem fôlego", contou o ator de 50 anos, visto recentemente na série "Mad Dogs", da Amazon.

Do Pulitzer a uma saga futurista

A ideia de "The Crossing" nasceu com a fotografia - premiada com um Pulitzer - do iraquiano Laith Majid, quando desembarcava na ilha grega de Kos com a mulher e os quatro filhos em 2015.

A imagem tornou-se um dos símbolos do calvário experimentado pelos refugiados na travessia do Mediterrâneo. Mais de 117 mil pessoas cruzaram-no em 2017, enquanto 3000 perderam a vida ao tentar chegar à Europa.

"Vi esse homem a amparar os filhos depois da travessia marítima e pensei que 'Boum, Jay, vamos falar sobre os refugiados, fazer alguma coisa", explicou Dworkin. "E então tivemos o mote de uma ideia".

The Crossing

"Casámos a ideia com o nosso amor pela ficção científica e por escritores como Richard Matheson, Harlan Ellison e Ray Bradbury. Esses autores escreveram ficção científica muito interessante sobre viagens no tempo".

Se esses nomes de referência foram inspirados pela realidade, os criadores de "The Crossing" asseguram que a série não é uma análise de como o Ocidente administra a crise dos migrantes.

"Há semelhanças, eles vêm aqui e são detidos como qualquer um que quer obter asilo. Isso dá-nos a oportunidade de comentar a situação atual", indicou Beattie, observando que sua intenção não era "fazer uma crítica direta do que está a acontecer".

"A ficção científica dá-nos distância para contar nossa história", apontou.

A primeira temporada de "The Crossing" tem dez episódios, além do piloto. Os críticos levantaram algumas preocupações sobre a tendência de a ABC terminar prematuramente séries como "Ressurrection" (2014), cancelada após duas temporadas, e "DNA, ameaça imediata" (1998), depois de apenas uma.

Para Dan Dworkin, o final da primeira temporada dará aos espectadores "uma grande quantidade" de razões para quererem uma segunda.