Ainda há poucos meses
«A Turma», de Laurent Cantet, apresentou um olhar sobre o ensino através do quotidiano de um liceu francês, e agora o novo filme de Christophe Honoré,
«La Belle Personne», volta apostar nos mesmos ambientes como centro da acção.
Os contrastes, contudo, dificilmente poderiam ser maiores. Onde os alunos de Cantet eram exemplo do
melting pot parisiense, frequentemente desordeiros e muito pouco interessados no que a escola lhes propunha, os de Honoré são filhos da classe média alta, emocionam-se ao ouvir Maria Callas, discutem literatura e aprendem italiano ou russo.
Mas «La Belle Personne» também não tem, de resto, ambições de ser um ensaio realista sobre o ensino, desde logo porque adapta (mesmo que de forma livre) o romance do século XVII «A Princesa de Clèves», de Madame de La Fayettel, cuja carga de romantismo quase fora de moda e aura trágica em crescendo assentam como uma luva ao universo de Honoré - ou não fosse ele o autor de um filme tão apaixonado (e apaixonante) como
«As Canções de Amor».
«La Belle Personne» não volta a oferecer, infelizmente, o encanto desse brilhante antecessor, mas esta história sobre um triângulo amoroso centrado numa adolescente (Léa Seydoux, magnética) indecisa entre um colega tímido e fiel (um genuíno Grégoire Leprince-Ringuet) e um jovem professor carismático e sedutor (Louis Garrel, quem mais?) ainda tem os seus méritos.
Se nos seus primeiros filmes Honoré era muitas vezes comparado (nem sempre de forma elogiosa) a referências da
nouvelle vague, nos últimos tem conseguido criar um estilo singular e reconhecível, não obstante essas heranças assumidas. Prova disso são os absorventes planos-sequência pelas ruas de Paris, cuja atmosfera ora lacónica ora melancólica é reforçada pela determinante presença da banda-sonora - embora desta vez as canções de Nick Drake ganhem espaço às de Alex Beaupain (que assina apenas uma).
Curiosamente essas «marcas de estilo», embora resultem em belos momentos, são parte do que impede o realizador de dar continuidade a um percurso criativo em fase ascendente - contrariando o que tinha acontecido nos trabalhos anteriores. Agora há reconhecimento em vez de surpresa (nem sequer faltam as
habitués Clotilde Hesme ou Chiara Mastroianni em pequenas aparições), e mesmo o modo como as personagens se entrecruzam é menos fluída do que se esperaria.
Mas se «La Belle Personne» não se junta aos melhores filmes de Honoré sai-se bem em vários aspectos: como adaptação de um romance de época aos dias de hoje (transpondo o cenário de uma corte para o de uma escola), como abordagem sensível e adulta aos dramas da adolescência (que são figuras tridimensionais e nunca caricaturas) e como envolvente retrato de alguns ambientes de Paris (onde a fotografia de tons azulados volta a conjugar o simples e o sublime). Já é muito, e compensa largamente alguma falta de arrojo formal e a intromissão de demasiados (embora interessantes) sub-enredos na narrativa nuclear.
«La Belle Personne» é exibido no Cinema City Alvalade a 1 de Maio, às 21h45, e a 3, às 18h15, no Cinema City Alvalade, em Lisboa.
A sexta edição do
IndieLisboa - Festival de Cinema Independente decorre até 3 de Maio nos Cinemas Londres, City Alvalade e São Jorge, assim como no Fórum Lisboa e Museu do Oriente.
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