Desaparecido há mais de 50 anos, o Óscar de Melhor Atriz que Hattie McDaniel ganhou com o clássico "E Tudo o Vento Levou", de 1939, vai ser substituído.
A Academia de artes e Ciências Cinematográficas e o Museu da Academia vão oferecer o prémio à Universidade de Howard, a instituição que o recebera como doação da atriz após a sua morte em 1952 e lhe perdeu o rasto no início da década de 1970.
Graças ao papel da criada Mammy, Hattie McDaniel tornou-se a primeira pessoa negra nomeada e vencedora de um prémio da Academia de interpretação, mas o produtor David O. Selznick teve de fazer pressão para fosse autorizada a estar presente na 12.ª cerimónia a 29 de fevereiro de 1940 no Hotel Ambassador, que praticava a segregação racial: foi-lhe reservada uma mesa separada daquela com as estrelas principais, Vivien Leigh e Clark Gable.
"Hattie McDaniel foi uma artista inovadora que mudou o rumo do cinema e causou impacto nas gerações de artistas que vieram a seguir. Estamos contentes por apresentar uma substituição do Óscar de Hattie McDaniel à Universidade Howard. Esta ocasião importante celebrará o notável talento e a vitória histórica de Hattie McDaniel", disseram os responsáveis das duas organizações ligadas às estatuetas douradas no comunicado.
Curiosamente, a atriz não recebeu uma estatueta, mas uma placa comemorativa, reservada aos atores secundários entre 1936 e 1942.
Alguns setores da opinião pública defenderam e defendem que o papel de Mammy ajudou a perpetuar estereótipos raciais ofensivos.
A atriz, muito criticada por interpretar principalmente papéis de criada, terá dito um dia: "Devia queixar-me por ganhar 700 dólares por semana a fazer de criada porquê? Se não o fizesse, estaria a ganhar sete dólares por semana a ser uma".
Passados 84 anos após a estreia, "E Tudo o Vento Levou" é considerado um filme "problemático" por causa da sua representação de escravatura e de sul dos EUA idealista, mas a substituição do prémio parece estar a ser pacífica para a instituição que fará uma cerimónia de receção a 1 de outubro.
"Quando era estudante na Faculdade de Belas Artes da Universidade Howard, no então chamado Departamento de Teatro, muitas vezes sentava-me e olhava maravilhada para o Óscar que fora entregue à senhora Hattie McDaniel, que ela tinha doado”, disse no comunicado a atriz Phylicia Rashad.
A atual reitora da instituição agora conhecida por Faculdade de Belas Artes Chadwick A. Boseman da Universidade Howard, em homenagem ao ator e estrela de "Black Panther", falecido em 2020, disse estar muito contente pelo regresso do prémio.
"Este gigantesco pedaço de história estará de volta à Faculdade de Belas Artes para que possa dar inspiração aos nossos alunos. A senhora Hattie está a regressar a casa!", concluiu.
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