Enquanto Idris Elba caminhava pelos corredores do Africa Cinema Summit, em Acra, capital do Gana, tornou-se evidente que o premiado ator britânico não era apenas um convidado.
Nascido e criado em Londres, filho de pai da Serra Leoa e mãe ganense, a estrela do cinema e TV esteve no principal evento da indústria cinematográfica do continente como um defensor apaixonado do futuro do cinema africano.
Elba, que protagonizou filmes centrados em África, como "Mandela: Longo Caminho para a Liberdade" (2013) e "Beasts of No Nation" (2015), filmado no Gana, há muito que fala da sua ligação profundamente enraizada ao continente.
Na cimeira deste ano, que reuniu as partes interessadas da indústria entre 7 e 9 de outubro, Elba assumiu o papel de embaixador da importância das histórias africanas e da melhor forma de contá-las ao mundo.
O futuro do cinema africano
"O cinema africano não é jovem. Já existe há muito tempo", sublinhou o ator de 52 anos, destacando a rica herança cinematográfica da África francófona.
"Mas as nossas histórias ainda não foram lançadas nesse cenário mais amplo", notou.
O continente africano tem a população mais jovem do mundo, mas apenas cerca de 1.700 cinemas, em comparação com cerca de 44 mil nos EUA e 75.500 na China, segundo a Autoridade Nacional do Cinema do Gana.
A crença de Elba no potencial inexplorado do cinema africano era palpável enquanto falava. Para o ator, a chave é aumentar o seu perfil através de melhores infra-estruturas, canais de distribuição e ligar os cineastas ao público no continente e a nível mundial.
“Precisamos de espectadores nos lugares. O futuro depende de nós... da nossa própria distribuição. Primeiro, devemos encher os cinemas com o nosso público", explicou.
Este foco em África distingue a visão de Elba de outras figuras da indústria, que muitas vezes se concentram apenas no reconhecimento internacional.
Elba disse que deseja que o cinema africano tenha tanto sucesso a nível interno como no estrangeiro.
O ator traçou paralelismos com Hollywood, onde o sucesso é medido tanto pelos números de bilheteira doméstica quanto pelas vendas internacionais.
Mas em vez de apenas apoiar das margens, Elba tem trabalhado para moldar o futuro do cinema africano, tomando medidas para investir nas indústrias criativas do continente e estimulando o talento africano através das suas produtoras IE7 e The Akuna Group.
Paixão e otimismo<
Enquanto outros podem ver os desafios de financiamento, educação ou infra-estruturas como barreiras ao progresso, Elba diz estar otimista – viu “oportunidades com potencial”.
“Muitos jovens cineastas estão a fazer filmes nos seus telemóveis”, disse à France-Presse, descrevendo com entusiasmo a abordagem inovadora e popular que emerge da juventude africana.
"Mas ainda precisamos ampliar esses filmes. Ainda precisamos de métodos de distribuição", observou.
O ator argumentou que os cineastas africanos não devem depender apenas de gigantes globais de streaming como a Netflix ou a Amazon Prime Video.
Embora tenha reconhecido o valor destas plataformas na apresentação de conteúdos africanos ao público internacional, insistiu que o verdadeiro sucesso reside na construção de capacidades e infra-estruturas locais.
Elba disse que queria um ecossistema cinematográfico africano robusto que se pudesse sustentar, com canais de distribuição independentes das plataformas ocidentais.
“Queremos penetrar nos mercados internacionais. Mas precisamos de penetrar também nos mercados africanos", defendeu.
Algo partilhado pela diretora geral da Autoridade Nacional de Cinema de Gana, Juliet Asante: "África tem 1.500 milhões de habitantes e a maioria nunca foi ao cinema. Sem dúvida que é a próxima geração de consumidores de cinema", sustentou.
Neste sentido, reconheceu a necessidade de criar um sistema viável para financiar a criação de filmes no continente e garantir a sua distribuição.
De acordo com um relatório da UNESCO de 2021, os países africanos sofrem de uma falta estrutural de investimento nesta indústria, que gera cerca de 5 mil milhões de dólares por ano. Mas “um aumento nos investimentos poderia criar mais de 20 milhões de empregos e gerar 20 mil milhões de dólares em rendimentos anuais”.
Para promover a indústria cinematográfica local, Elba investiu na criação de dois estúdios, no Gana e na ilha de Zanzibar (Tanzânia), que ainda se encontram em fase preliminar de projeto.
Um legado em construção
O ator sublinhou a necessidade de os cineastas africanos assumirem o controlo dos seus destinos criativos.
"Avancem”, aconselhou aos aspirantes a cineastas.
“A barreira entre fazerem o vosso filme e sonharem com ele é muito menor agora”, disse.
Impulsionado pelo seu amor por contar histórias, Elba desenvolveu uma paixão precoce pela representação durante a sua infância em Londres, que conciliou com vários empregos.
A revelação veio com o papel como o traficante de drogas Russell "Stringer" Bell na aclamada série norte-americana "The Wire", e mais tarde consolidou o estrelato com a série policial britânica "Luther", que lhe rendeu um Globo de Ouro.
Ao longo dos anos, a versátil filmografia de Elba, desde sucessos de bilheteira de Hollywood a projetos independentes, fez dele um dos atores mais respeitados e influentes no cenário global.
E como um dos atores de herança africana mais visíveis em Hollywood, ele disse sentir a responsabilidade de garantir que as histórias africanas cheguem ao maior público possível.
“Temos um longo caminho a percorrer”, reconheceu.
Mas à medida que as luzes se apagavam na Cimeira do Cinema de África deste ano, a visão que Elba pintou não foi apenas a de prémios ou distinções, mas de uma indústria cinematográfica florescente que ressoa profundamente junto dos espectadores africanos, ao mesmo tempo que continua a captar a atenção do mundo.
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