"Adoro o 'Toy Story'. Quando se estreou, trouxe uma abordagem nova à animação. Fiquei entusiasmado por saber que iria haver mais", sublinha Chris Evans, o ator escolhido para dar voz ao protagonista do spin-off espacial da aclamada saga da Pixar que conta com quatro títulos.

"Amo profundamente todas as personagens de 'Toy Story'", reforça o norte-americano que nos últimos anos se tornou figura habitual junto do grande público ao encarnar Steve Rogers/Capitão América nos filmes da Marvel.

"Exploramos uma personagem que conhecemos muito bem, mas agora com uma perspetiva com mais nuances", explica ao apresentar Buzz Lightyear, o Ranger do Espaço que, apesar das parecenças físicas, é bem distinto do antagonista de Woody em "Toy Story - Os Rivais" (1995). A versão deste filme é a original, que no universo da saga protagonizou o filme que levou Andy (o dono dos brinquedos) a comprar o boneco astronauta.

Chris Evans Capitão América
Chris Evans Capitão América créditos: Lusa

"O Buzz que todos conhecemos é, obviamente, um brinquedo, e enquanto brinquedo, tem uma relação com o mundo sem o mesmo peso que nós temos. Um brinquedo sabe qual é o seu propósito, não tem de ser preocupar com doenças... as escolhas que fazemos como pessoas são um pouco mais consequentes e tentei dar ao Buzz esses contornos", compara.

O Buzz que todos conhecemos também tem, na versão original, a voz de Tim Allen. Mas depois de quatro filmes, não faria sentido apostar mais uma vez no ator para este recomeço, defende a produtora Galyn Susman.

"Tim Allen é o Buzz Lightyear, versão brinquedo. E incorpora o Buzz Lightyear, versão brinquedo. Mas não estávamos a fazer um filme 'Toy Story', estamos a fazer o filme do Buzz Lightyear. Por isso, antes de tudo, precisávamos de ter uma pessoa diferente a dar voz ao Buzz Lightyear", esclarece.

Buzz Lightyear
Buzz Lightyear

"Além disso, pegámos numa personagem secundária e tornámo-la a protagonista do seu próprio filme. Por isso, precisávamos de alguém muito experiente, alguém que fizesse drama e comédia, mas comédia que não sabotasse a espessura da personagem. Alguém que transmitisse 'pathos' e preocupação genuína com a sua segurança e que transmitisse conflito e culpa", recorda.

"Tecnicamente, esta personagem é um pouco mais engenhosa, porque não é o alívio cómico, tem de ser divertido mas não demasiado tonto. E foi por isso que escolhemos o Chris", acrescenta o realizador e coargumentista Angus MacLane.

"Sempre quis contar ou conhecer a história dos Rangers do Espaço"

Animador de "Toy Story 2 - Em Busca de Woody" (1999) e de vários outros títulos da Pixar, Angus MacLane partilhou a realização de "Buzz Lightyear of Star Command: The Adventure Begins" (2000), spin-off que saiu diretamente para vídeo, e de "À Procura de Dory" (2015). "Buzz Lightyear" marca sua primeira incursão a solo como realizador e assinala o reencontro com uma das primeiras personagens que trabalhou (na versão brinquedo).

"Sempre quis contar ou conhecer a história dos Rangers do Espaço e o filme é sobre isso. Também queria algo divertido de se fazer depois da Dory, que foi divertido mas muito desafiante, porque tinha uma protagonista que estava sempre a esquecer-se do que queria. Por isso pensei em fazer um filme de ficção científica fixe, e a proposta foi fazer o filme que o Andy tinha visto e que o tinha feito comprar o boneco do Buzz".

Buzz Lightyear
Buzz Lightyear

Se esta aventura espacial tem desde logo uma ligação forte ao passado, ao partir de uma personagem emblemática de "Toy Story", as influências são bem mais distantes e recuam várias décadas. O norte-americano aponta clássicos como "Metropolis" (1927), de Fritz Lang, ou "Desaparecida!" (1938), de Alfred Hitchcock, que lhe permitiram estudar as dinâmicas do thriller. Mas "Buzz Lightyear" tem ecos mais diretos da ficção científica da década de 1970 e sobretudo de 1980, de sagas como "Stars Wars" e "Alien". "Adoramo-la, crescemos com ela. Bom, eu já era mais velha, mas tudo bem, adoro-a. Há uma qualidade muito interessante imersiva, táctil, nesses filmes", elogia Galyn Susman.

"O filme pretende celebrar todos estes filmes que nos inspiraram, mas sem que isso se sobrepusesse à história que estamos a contar. Há algumas referências visuais desses filmes, mas queríamos sobretudo captar a sensação de ver esses filmes na infância, a forma como nos permitiam viajar para outro mundo, embarcar numa aventura espacial divertida que nos preenchesse", realça o realizador.

Taika Waititi, que dá voz a Mo Morrison, um dos aliados do protagonista, defende que a própria Pixar também já conta com vários exemplos desse efeito de maravilhamento e aplaude a sua "procura implacável por uma história perfeita".

créditos: Lusa

O ator neozelandês, que também é realizador de títulos como "Jojo Rabbit" (2019) ou "Thor: Ragnarok" (2017), diz ser um estudioso afincado dos filmes dos estúdios. "Volto sempre a eles não tanto pelo valor de entretenimento, ou para sentir emoções, mas para estudar a sua estrutura, a economia narrativa, a forma como o argumento está escrito. E acertam sempre, o que é irritante. Não tenho medo de copiar o método deles".

Solta-se o beijo

Além de se centrar no percurso de Buzz, o filme apresenta duas Rangers do Espaço que marcam fases diferentes da sua história. Alisha (Uzo Aduba) e Izzy Hawthorne (Keke Palmer), respetivamente avó e neta, são duas mulheres afro-americanas que ajudam a Pixar a dar mais um passo na representatividade. E em mais de um aspeto, uma vez que Alisha tem um relacionamento homossexual.

"Estávamos entusiasmados com essa representatividade, mas acima de tudo isso é um reflexo da realidade do mundo em que vivemos. A ficção científica foi sempre a minha porta de entrada para uma sociedade mais diversa. 'Star Trek', na altura, era muito diversa para uma série do seu tempo. E seguimos o exemplo de 'Star Trek' para tentarmos apresentar a maior diversidade possível nas nossas personagens", diz o realizador.

"Essa relação está lá para mostrar ao Buzz o que ele não tem", sublinha Galyn Susman. Afinal, "Buzz Lightyear" também é um relato da solidão de um astronauta cujas circunstâncias da missão o obrigam a abdicar da vida amorosa, familiar e social. Também por isso, o único beijo que se vê no filme não é entre o protagonista e uma cara-metade, mas entre Alisha e a sua companheira. "Queríamos apresentar uma relação de amor profunda e um beijo é parte disso. Ficámos muito felizes por poder fazê-lo", louva a produtora, embora o gesto já tenha sido alvo de censura.

Vencer o medo

Outra forte ligação emocional do filme é a admiração de Izzy pela avó. Keke Palmer diz que esse é, aliás, um dos traços determinantes da personagem, a par do legado "em relação ao qual ela quer estar à altura".

"Quer fazer com que a família se orgulhe dela e julgo que todos podemos relacionar-nos com isso. Apresenta muitas qualidades de liderança, embora por vezes possam passar despercebidas. Sabe encorajar os amigos, sabe ver algo em alguém para que cumpra o seu papel, empodera os outros. Adoro a personagem", aponta.

Keke Palmer
Keke Palmer créditos: AFP

O compositor Michael Giacchino ("The Batman", "Up - Altamente!"), admite mesmo que Izzy é a sua personagem favorita do filme. "Adoro a ideia de assumirmos o nosso medo e de o usarmos como uma ferramenta para seguir em frente e progredirmos. De não deixarmos que nos paralise e nos domine, e neste mundo é fácil que isso aconteça", assinala a propósito do arco narrativo da jovem astronauta.

"Julgo que é essa a grande mensagem do filme. Enquanto músico, era isso que queria transmitir emocionalmente. Sim, todos os dias há coisas assustadoras à nossa volta, mas podemos usar esse medo para aprender com isso. O medo é algo que nunca estará ausente da nossa vida, e quanto mais cedo o aprendermos a aceitar e a usá-lo a nosso favor, melhor para nós".

TRAILER DE "BUZZ LIGHTYEAR":