O realizador e montador Paulo Carneiro, presente no programa de talentos do festival de cinema de Berlim, confessa que, apesar de Portugal dar margem aos novos profissionais para evoluir, dificulta o processo de financiamento.

“Dá espaço para crescer, mas é complicado. É complicado fazer-se cinema em Portugal, é muito complicado ter-se financiamento enquanto jovem […] Também me causa alguma dificuldade sair do meu país, apesar de já o ter feito. Vou esperar, vamos ver como corre este ano, é uma luta”, confessou à agência Lusa Paulo Carneiro, acrescentando que tem refletido sobre a possibilidade de sair do país.

Ainda assim, reconhece que o cinema português é “bastante diversificado e livre”.

“Até hoje tenho sempre feito aquilo que quis, filmado da maneira que quis e seguido as histórias que me interessavam, mas não tenho tido grandes compromissos, sempre trabalhei sem financiamento”, acrescentou.

O realizador de “Bostofrio”, a sua primeira longa-metragem, estreada em novembro nos cinemas, foi um dos 255 escolhidos para integrar o programa “Berlinale Talents 2020”, a par de outros dois portugueses, a designer de som Joana Niza Braga e o realizador e argumentista José Magro.

“São umas palestras e também encontros com produtores em que podes apresentar o teu trabalho. Neste momento já tenho produção portuguesa e coprodução estrangeira, sobretudo de França, com quem temos uma ligação mais estreita na forma de ver o cinema. Talvez fizesse sentido, para o meu próximo trabalho, uma coprodução com a Alemanha”, admitiu, sublinhando não querer criar, para já, “grandes expectativas”.

Paulo Carneiro vai também participar num 'workshop' de som e tentar ver os filmes da secção Forum. “É a que me interessa mais porque reflete uma nova aproximação ao cinema”, defende.

O realizador e montador (editor de imagem), que já participou noutra edição da Berlinale como assistente de realização, está neste momento a trabalhar em dois novos documentários, um deles passado na Suíça, junto à comunidade portuguesa.

“É um filme sobre carros. Eles servem de veículo para falar de outros temas, é uma espécie de metáfora para chegar a questões de identidade, emigração, racismo. Sempre de um ponto de vista formal muito específico, muito duro e regulamentado por mim, porque é a minha forma de trabalhar. De forma cinematográfica não é parecido com nada, mas é muito parecido comigo”, partilha.

Outro dos filmes, que está em processo de escrita, desenrola-se em Cabo Verde e retrata uma transição da juventude à idade adulta.

“Apesar de ter uma das melhores democracias de África, tem uma vida bastante difícil se comparada com a Europa. O filme mostra a transição que algumas pessoas, mais ou menos da mesma idade que eu, estão a atravessar. Tentam construir uma família, e veem muita gente da aldeia onde vivem a emigrar, mas defendem que é ali que querem ficar”, frisa.

O festival internacional de cinema de Berlim termina no dia 1 de março.

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