O cineasta alemão Wim Wenders defendeu esta terça-feira uma Europa com um ideário comum, estruturado na sua História, herança cultural e na sua diversidade cultural e advertiu para os que defendem o encerramento das fronteiras.
O realizador falava em Lisboa, após ter recebido o Prémio Helena Vaz da Silva, afirmou que a “Europa não é o problema é a solução” e defendeu que é o “melhor telhado protetor, numa sólida estrutura e não pode abrigar apenas os que estão debaixo dele, deve proteger línguas, tradições, regiões, minorias, indústrias locais”.
O realizador apelou, em seguida, ao diálogo entre catalães e espanhóis e aconselhou-os para chamarem a Europa para os ajudar a resolver as divergências, interrogando “por que colocam a Europa fora das vossas questões?”-
Wenders apelou a Bruxelas, Paris e Berlim para que “não deixem estes nacionalistas arruinarem a casa comum e questionou se fizeram tudo para que o povo britânico saber o que estão a deitar fora, numa referência ao 'Brexit'.
“Se acreditamos na Europa como acredito, estamos a fazer o suficiente para a defender e a lutar o suficiente para trazer os britânicos de volta, ou vamos cruzar os nossos braços?”, questionou.
Para o realizador de “Paris, Texas”, o que mantém a Europa coesa e unida no futuro “é aquilo que há de melhor, a herança comum” e sublinhou: “pela qual estamos hoje juntos”.
Nesta herança comum, Wenders destacou o “precioso património imaterial”: filósofos, compositores, pintores, pregadores, poetas, escritores, historiadores, arquitetos, cientistas, atores, padres, músicos, realizadores, médicos, inventores, professores e, acima de tudo, “mulheres fortes”.
“A Europa é um paraíso e onde todo o planeta gostaria de estar”, como fantasiou quando ainda pequeno cresceu num país devastado pela II Grande Guerra.
“Vejo problemas no paraíso, um continente que se agita em confusão, onde vergonhosamente se ouvem vozes em alto e bom som a dizer ‘vamos voltar aos bons velhos tempos, vamos restaurar as nossas fronteiras, vamos excluir os outros para que voltemos a ser nós próprios, como uma nação gloriosa’, ao longo dos tempos estas trombetas querem fazer esquecer que os ‘bons velhos tempos’ estão cheios de guerras, desespero, desgraça, instabilidade e hostilidade”.
O realizador classificou estas vozes como defendendo “acanhados sonhos nacionalistas” e argumentou que a Europa vive “uma enorme crise” levada pelo evoluir civilizacional”.
“Nós vimos de uma longa história onde tudo era real, podia ser tocado e passado fisicamente para uma nova História em que tudo é virtual, efémero e em cada vez mais as coisas não são tangíveis. Um processo que nos obriga a deixar muita coisa para trás, muita coisa que nos é querida, mas este processo é irreversível, e o nosso futuro depende de como nos adaptaremos, temos de fazer isso como europeus”.
A eurodeputada italiana Silvia Costa, que recebeu a Menção Honrosa do Prémio Helena Vaz da Silva, defendeu que é necessário criar um novo diálogo intercultural e inter-religioso,
“Acredito firmemente numa edução para a beleza, para a criatividade e a cultura, é fundamental para o enriquecimento do desenvolvimento pessoal, mas também na crença pela dignidade e liberdade de todo o ser humano, que o valor central do projeto europeu”, afirmou a eurodeputada.
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