O Festival de Cannes encerra a sua maratona de estreias esta sexta-feira, com uma crítica que parece caminhar para a coroação, pelo terceiro ano consecutivo, de um filme asiático, o japonês "Drive my Car", embora as surpresas de última hora também sejam uma marca da maior competição do cinema mundial.

"Nitram", do australiano Justin Kurzel ("Assassin's Creed"), e "Les intranquilles", do belga Joachim Lafosse, são os últimos dos 24 filmes que competem este ano pela Palma de Ouro.

O primeiro, um retrato do autor de um massacre que deixou 35 mortos na ilha da Tasmânia em 1996, gerou polémica na Austrália antes mesmo da sua estreia, especialmente entre as famílias das vítimas.

"Les intranquilles", drama sobre transtorno bipolar baseado na própria experiência do realizador, vai baixar a cortina desta edição, que marcou o regresso do cinema mundial à Croisette. O evento foi cancelado no ano passado pela pandemia do coronavírus.

Os vencedores serão anunciados no sábado (17), após um dia de deliberações de portas fechadas pelo júri presidido pelo cineasta americano Spike Lee.

Murakami em competição

Drive My Car

Com vários filmes ainda por pontuar, incluindo "Memoria", com a atriz Tilda Swinton, e o francês "Les Olympiades", ambos lançados esta quinta-feira, a crítica internacional concorda até agora que "Drive my car", do japonês Ryusuke Hamaguchi, merece a Palma de Ouro, de acordo com a revista especializada ScreenDaily.

Baseado na história de Haruki Murakami, um dos mais célebres romancistas contemporâneos, o filme avança no tempo da mesma forma que os seus protagonistas - um dramaturgo e a sua jovem motorista - viajam dia após dia pela cidade de Hiroshima, onde o primeiro ensaia "Tio Vânia", o clássico de Anton Chekhov.

O mais longo de toda competição (2h59), o filme aproxima estas personagens atormentadas pela morte de um ente querido, na medida em que quebram o silêncio em que estão mergulhados há anos.

"Absorvente", "profundamente comovente", com "profundezas poéticas"... estes são alguns dos elogios da crítica internacional ao filme de Hamaguchi, que já competiu em Cannes, em 2018.

Se vencer, será a terceira Palma de Ouro consecutiva asiática, depois de "Shoplifters", do também japonês Hirokazu Koreeda (2018), e de "Parasitas", do sul-coreano Bong Joon-ho (2019).

Nessa última edição, o tragicómico "thriller" que mais tarde arrebatou os Óscares foi lançado perto do final da competição e mudou as apostas, em detrimento do até então favorito, "Dor e Glória", de Pedro Almodóvar.

Além das surpresas de última hora, a história do Festival de Cannes também mostra que crítica e júri não precisam andar de mãos dadas.

Este foi o caso, por exemplo, em 2010, quando ninguém viu a Palma de Ouro chegar a Apichatpong Weerasethakul, por "O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores".

Meditar com "Memoria"

Memoria

E o realizador tailandês, que se caracteriza por uma filmografia alegórica admirada pelos seus colegas e pelos grandes cinéfilos, mas que é incompreendida pelo grande público, voltou este ano ao concurso com "Memoria".

Ambientado na Colômbia, com sequências filmadas na selva e poucos diálogos, a longa foi definida pela revista especializada IndieWire como "um exercício mais de meditação do que um filme, o que o torna magistral".

O musical "Annette", que abriu a competição, a 7 de julho, com Adam Driver e Marion Cotillard, "A Hero", do diretor iraniano vencedor do Óscar Asghar Farhadi, e o norueguês "The Worst Person in the World", um retrato da geração dos "millennials", também conquistaram a crítica e colocam-se entre os favoritos para a Palma.

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