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O filme português “Cesária Évora”, sobre a ‘diva dos pés descalços’, de Ana Sofia Fonseca, vai ser apresentado em dezembro em sete sessões gratuitas em três ilhas de Cabo Verde, anunciou hoje o Governo cabo-verdiano.
“Chegamos a um acordo com a produtora do filme ‘Cesária Évora’. O documentário vai ser exibido em Cabo Verde”, anunciou hoje, na Praia, o ministro da Cultura e Indústrias Criativas, Abraão Vicente.
O filme sobre a cantora (1941-2011), que está nomeado para os prémios da Associação Internacional do Documentário (IDA, sigla em inglês), será apresentado ao ar livre no Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD) no Mindelo, em São Vicente, com três sessões nos dias 13, 14 e 15 de dezembro.
“Exatamente para que também as pessoas possam conhecer melhor o outro lado da nossa diva”, disse ainda Abraão Vicente.
Segue-se a exibição em Ribeira Grande, ilha de Santo Antão, terra da mãe da cantora, ainda no dia 15, e depois uma sessão no dia 17 e duas no dia 18 de dezembro na Praia, ilha de Santiago, todas no auditório da Assembleia Nacional.
“O Governo já tinha financiado o filme, através do Fundo do Turismo”, recordou o ministro, sobre o documentário que agora chega a Cabo Verde com o “financiamento” do Estado.
Cesária Évora nasceu em 27 de agosto de 1941 e viveu no Mindelo, cidade onde também morreu, em 17 de dezembro de 2011, sendo considerada, com as suas mornas, a cantora de Cabo Verde com maior reconhecimento internacional.
“Cesária Évora”, que conta a história da cantora cabo-verdiana, teve estreia em março no festival South by Southwest, em Austin, nos Estados Unidos, e recebeu, em maio, o prémio do público do IndieLisboa para longa-metragem.
O filme, produzido pela Carrossel Produções, em associação com a Até ao Fim do Mundo, estreou-se nos cinemas portugueses em 27 de outubro. Realizado em Portugal, França e Cabo Verde, tem distribuição mundial pela Cinephil/WestEnd Films.
O impacto da doença bipolar na vida de Cesária Évora é um dos aspetos inéditos do filme que mostra como esta mulher negra e pobre deu a volta ao destino.
O filme “Cesária Évora” está nomeado na categoria de Melhor Documentário de Música festival IDA, na qual competem também três produções norte-americanas (“Louis Armstrong’s Black & Blues”, de Sacha Jenkins, “Moonage Daydream”, de Brett Morgen, e “You’re watching vídeo music box”, de Nasir ‘Nas’ Jones) e uma coprodução entre o Reino Unido e a Irlanda (“Nothing Compares”, de Kathryn Ferguson).
Os vencedores da 38.ª edição dos prémios da IDA são anunciados em 10 de dezembro, numa cerimónia em Los Angeles, nos Estados Unidos.
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“Cesária Évora” conta com imagens de arquivo, gravações inéditas e testemunhos de quem privou com 'Cize', como era conhecida, dos tempos da pobreza ao reconhecimento mundial que chegou depois dos 50 anos e após uma “explosão” de sucesso que começou em França e a levou a dar a volta ao mundo.
Cesária Évora sofreu dois acidentes vasculares cerebrais e o segundo, em 2011, mostrou-lhe que nunca mais poderia cantar. Morreu a 17 de dezembro de 2011.
Ana Sofia Fonseca tomou a decisão de fazer um documentário sobre a vida de Cesária Évora uns dias depois do funeral da cantora, quando se deparou com a tristeza e a solidão que enchia o olhar das pessoas no ‘seu’ Mindelo, ilha de São Vicente.
Apaixonada por Cabo Verde, a jornalista e contadora de histórias lembrou à Lusa, aquando da estreia do filme nas salas portuguesas de cinema, que 'Cize' “tinha colada à pele um conjunto de preconceitos: mulher, negra, pobre, não é particularmente bonita, vive em África e tem mais de 50 anos quando alcança o sucesso”.
Apesar disso, salientou, Cesária vence e, principalmente, “constrói pontes” e “traz Cabo Verde do meio do Atlântico para o mundo”.
A realizadora, que tem casa no Mindelo, partilhou que “toda a gente em São Vicente tem uma história da Cesária Évora para contar”.
Apaixonada pela voz de 'Cize', a realizadora debruçou-se essencialmente na pessoa, “uma mulher excecional” que “não se deslumbra com a fama, usa a fama para ajudar os outros”. “Também a si, mas contentava-se com o que tendemos a achar pouca coisa e a julgar como adquirido”, disse.
Ana Sofia Fonseca salientou que Cesária Évora era “feliz tendo uma casa onde albergar a família, um carro para andar, porque tem problemas nos pés, comida e comida para dar aos outros”.
E sublinhou: “É preciso conhecer a mulher para perceber melhor a voz, que nos emociona, arrepia, tanto nos faz acreditar no amor como chorar. Eu quis ir além daquela ideia do veio do nada, conquistou o mundo, manteve-se igual a si própria e era feliz a ajudar os outros. Tudo isso é verdade, mas há muito mais do que isso”.
E deste relato também consta a doença bipolar que afetava a diva dos pés descalços, o que “ajuda melhor a perceber muitas das atitudes da Cesária”.
Para Ana Sofia Fonseca, “isto ajuda a perceber a Cesária, não a define, mas ajuda a perceber algumas coisas da Cesária”, como o isolamento.
Na história de vida de Cesária, a realizadora encontrou “uma mensagem de esperança” - “Não importa muito de onde se vem, mas o que se pode alcançar. Tudo é possível, a vida de qualquer um pode mudar a qualquer instante” -, mas também de uma enorme generosidade - “Na mesa da Cesária havia sempre espaço para todos e ninguém era mais que ninguém”.
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