Com um filme político e ao mesmo tempo espetacular, o cineasta francês Romain Gavras disputa o Leão de Ouro de Veneza com "Athena", exibido na sexta-feira: o tema da revolta dos jovens das periferias de Paris é narrado como uma tragédia grega.

Com o tom e a força do seu pai - o lendário cineasta político grego Costa-Gavras -, Romain Gavras, de 41 anos, descreve, num ritmo intenso, a espiral de violência incontrolável provocada nestes bairros marcados pela marginalidade, a emigração, o racismo e o conflito social.

O destino de três irmãos surge após a morte do mais jovem, aparentemente vítima de abusos da polícia, numa espécie de tragédia moderna, dominada pelos sentimentos de ódio, horror e também compaixão.

Numa cidade prestes a explodir, com centenas de jovens negros e magrebinos dos 'banlieues' (subúrbios) em pé de guerra, Abdel (Dali Benssalah), que faz parte do exército, tenta acalmar as pessoas e apelar à justiça, enquanto o mais velho, Moktar (Ouassini Embarek), traficante de droga, tenta salvar o seu negócio, e o mais jovem, Karim (Sami Slimane), lidera a revolta como um Spartacus moderno de cabelos longos.

"A ideia não é mostrar os bons e os bandidos. Pelo contrário, é mostrar que o assunto é mais complexo do que parece", explicou o cineasta à France-Presse.

O filme para a Netflix, rodado nos subúrbios de Paris, não quer tomar partido e foi feito como se fosse uma guerra.

Algumas sequências são notáveis, como a defesa do bairro-castelo, o ataque da polícia, o desalojamento de moradores e o confronto entre irmãos.

Além da violência crua, Gavras aborda um argumento explosivo, que gera polémica, ao denunciar não só os abusos da polícia, mas também a infiltração da extrema direita e pede que, de alguma forma, se encontre uma solução abrangente.

"Athena" é o símbolo de uma França dividida, racista, à beira da guerra civil, incapaz de conviver com as suas contradições.

"A ambição do filme é mostrar que há forças na sombra que querem a guerra. Hoje, a extrema direita é a força que mais instiga", assegurou o realizador durante a conferência de imprensa.

"São imagens, não tenho uma solução, não sou um político", explica Gavras, que compete com a sua terceira longa-metragem.

Conhecido pelos seus videoclipes, o realizador faz parte de um movimento informal de cineastas que trabalha desde 1990 nestes bairros populares.

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