O Irão convocou o encarregado de negócios francês em Teerão para protestar contra os comentários "ofensivos" da França após a vitória do cineasta dissidente Jafar Panahi no Festival de Cannes, informou a imprensa estatal no domingo.

"Após os comentários ofensivos e as alegações infundadas do ministro dos Negócios Estrangeiros da França contra o Irão, o encarregado de negócios foi convocado", afirmou a agência de notícias oficial Irna.

Panahi, de 64 anos, recebeu a Palma de Ouro no sábado à noite por "It Was Just an Accident" (“Um Simples Acidente”, em tradução livre), um filme crítico do regime dos aiatolas, rodado clandestinamente, sobre cinco iranianos que confrontam um homem que acreditam que os torturou na prisão.

"Num gesto de resistência contra a opressão do regime iraniano, Jafar Panahi ganha uma Palma de Ouro que reacende a esperança de todos os que lutam pela liberdade em todo o mundo", escreveu o chefe da diplomacia francesa, Jean-Noël Barrot, na rede social X (antigo Twitter).

O Irão condena "o mau uso por parte governo francês" do Festival de Cinema de Cannes "para promover a sua agenda política contra a República Islâmica", indica a agência de notícias oficial do Irão.

No domingo, nenhuma autoridade iraniana comentou o prémio concedido ao cineasta dissidente, que foi preso duas vezes: 86 dias em 2010 e quase sete meses entre 2022 e 2023.

Os jornais reformistas Etemad, Shargh e Ham Mihan noticiaram a vitória de Panahi sem comentários, enquanto a maioria dos meios de comunicação ignorou a informação.

"It Was Just an Accident"

"Acho que este é o momento de pedir a todas as pessoas, a todos os iranianos, com todas as opiniões diferentes, em qualquer parte do mundo, no Irão ou no mundo, deixem-me pedir uma coisa: vamos deixar de lado [...] todos os problemas, todas as diferenças, o mais importante agora é o nosso país e a liberdade do nosso país", disse o cineasta ao receber o prémio das mãos da atriz Cate Blanchett.

"Ninguém tem o direito de nos dizer o que temos ou não que fazer", continuou.

O realizador pôde apresentar-se pessoalmente em Cannes pela primeira vez em 15 anos e saiu com o prémio máximo após ser celebrado por títulos como "O Círculo" (Leão de Ouro de Veneza em 2000), "Táxi de Jafar Panahi" (Urso de Ouro em Berlim em 2015), "3 Rostos" (Melhor Argumento em Cannes em 2018) e "Ursos Não Há" (Prémio Especial do Júri em Veneza em 2022).