James Earl Jones conquistou a imortalidade como a sinistra voz de Darth Vader na saga "Star Wars", mas a sua carreira versátil com seis décadas abarca muito mais, no cinema, televisão e principalmente teatro.

A festejar 92 anos esta terça-feira (Arkabutla, 17 de janeiro de 1931), é um dos poucos que almejou o "EGOT", o acrónimo para quem conquista os principais prémios da indústria de entretenimento nos EUA (ainda que um deles tenha sido simbólico): tem dois Emmy (televisão), um Grammy (música), um Óscar honorário (cinema) e três Tony (teatro), um deles honorário.

James Earl Jones em 1961

James Earl Jones era filho de Ruth Williams, uma professora, e Robert Earl Jones, pugilista e a seguir um dos primeiros atores profissionais negros com carreira regular e que, embora sem tanta fama como o seu descendente, teve relativa proeminência desde o final dos anos 1930 até ao início dos anos 1990, com participações de destaque nos filmes "A Golpada" e "Cotton Club". Mas os pais separaram-se antes de nascer (só conheceu o pai e fez as pauses muitos anos mais tarde) e foi viver com os avós maternos numa quinta no Michigan, uma mudança tão traumática que fez com que adquirisse uma gaguez que só ultrapassou no ensino secundário com a ajuda da poesia e representação.

Entrou na Universidade do estado, inicialmente para frequentar medicina, ao mesmo tempo que ingressou no exército. Mais tarde, diria em entrevistas que se sentia integrado na estrutura do ambiente militar e da camaradagem, mas percebeu que não tinha vocação para ser médico e sabendo que inevitavelmente seria convocado para a Guerra da Coreia (1950-1953), preferiu focar-se em algo que gostava, o estudo de Teatro na Escola de Música, Teatro e Dança na mesma universidade. Acabou por ser chamado só após o fim do conflito e frequentou o curso básico de oficiais de infantaria e antes de ser dispensado, já tinha sido promovido a primeiro-tenente.

Os primeiros passou como ator ainda foram dados em 1953 em Michigan, mas mais tarde seguiu para Nova Iorque para estudar Teatro, sustentando-se a trabalhar como porteiro. Em 1957 fez a estreia na Broadway como ator substituto. Na década seguinte, torna-se um dos atores mais conhecidos de peças de William Shakespeare, como Hamlet, Otelo, Rei Lear e outras personagens. É nesta fase que faz a estreia no cinema e não foi uma qualquer: foi o Tenente Lothar Zogg em "Dr. Estranhoamor", o clássico de Stanley Kubrick (1964).

"The Great White Hope"

Um outro papel como cirurgião e líder rebelde haitiano no filme "Os Comediantes", ao lado de Richard Burton e Elizabeth Taylor (1967) antecedeu o primeiro prémio Tony (teatro) em 1969 pela interpretação de um talentoso mas problemático pugilista em "The Great White Hope", um sucesso gigantesco que acabou por repetir na adaptação ao cinema em 1970, que lhe valeu a nomeação para o Óscar de Melhor Ator, a única competitiva da carreira (foi o segundo ator negro nomeado na categoria, a seguir a Sidney Poitier, que ganhou a estatueta com a segunda nomeação em 1963 com "Os Lírios do Campo").

A partir daí, foi intercalando com mais frequência teatro, cinema e, mais perto do fim dos anos 1970, a televisão. Não consegue chegar aos Óscares, mas é nomeado pela segunda vez para os Globos de Ouro pela comédia romântica "Claudine - Corpo e Alma" (1974) e a fama internacional e imortalidade chegaram quando George Lucas usou a sua forte capacidade vocal para dar voz a Darth Vader na trilogia "A Guerra das Estrelas" (1977-1983), um fenómeno instantâneo tanto nas bilheteiras como na cultura popular. Ainda em 1977, ganhou o seu único Grammy com a narração de "Great American Documents".

"O Império Contra-Ataca" (1980)

O segundo Tony competitivo chegou com a peça "Vedações" em 1987, numa altura em que já era um ator secundário de prestígio com aquela inconfundível voz no cinema, em filmes com mais ou menos sucesso e tão diversos como "Conan e os Bárbaros" (1982), "Jardins de Pedra" (1987) ou "Matewan" (1987) e, infelizmente, nesse fracasso chamado "O Exorcista II: O Herege" (1977).

Continuou a passear classe no grande ecrã como o pai de Eddie Murphy em "Um Príncipe em Nova Iorque" (1988), "Campo de Sonhos" (1989), "Os Três Fugitivos" (1989), "Caça ao Outubro Vermelho" (1990), "Jogos de Poder - O Atentado" (1992), "Heróis Por Acaso" (1992), "The Sandlot" (1993), "Jefferson em Paris"(1995) ou, após uma longa ausência, "Bem-Vindo a Casa Roscoe Jenkins" (2008).

A sua voz também se ouviu na CNN entre o final dos anos 1980 e o início do século XXI, mas foi em 1994 que lhe trouxe outro grande momento na carreira, como Mufasa, o pai de Simba, no mega sucesso que foi a animação "O Rei Leão". Um trabalho com um impacto tão grande que foi o único a regressar para o mesmo papel na versão fotorrealista da Disney, 25 anos mais tarde.

"Gabriel's Fire" (TV)

Ainda no início da década de 1990, intensificou o trabalho em televisão, em séries e principalmente telefilmes. Na cerimónia dos Emmy de 1991 ganhou dois prémios, como Melhor Ator em Série dr Drama como "Gabriel's Fire" e Ator Secundário pelo telefilme "Onda de Violência" (1990).

Já considerado um dos grandes e mais versáteis atores do teatro e cinema norte-americanos, consagrado com várias homenagens, o ritmo diminuiu no século XXI e cinema e televisão perderam para o trabalho no teatro, tendo nos palcos parceiras como Phylicia Rashad, Angela Lansbury, Annaleigh Ashford ou Cicely Tyson.

A mais recente aparição num filme foi um regresso a uma personagem que descreveu como uma das "mais divertidas e icónicas" que teve o "prazer de representar": a do Rei Joffer na sequela para a Amazon Prime Video de "Um Príncipe em Nova Iorque". E é impossível ignorar o momento: em plena festa e com sentido do dever cumprido, anuncia ao filho que vai morrer.

Apesar da sequência estar envolvida numa grande festa, devido à sua idade avançada foi gravada em separado em separado dos outros atores e integrada graças à magia do cinema.

"O Príncipe volta a Nova Iorque" (2021)

No final de setembro de 2022, James Earl Jones voltou à atualidade: ficou a saber-se que não voltará a gravar novos diálogos como Darth Vader após gravar pela última vez uma frase para "Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker" em 2019.

Uma reportagem da Vanity Fair dava conta que a voz se alterou com a idade e Jones se reformou do papel, mas a sua voz continuou a ouvir-se com a imponência majestática de sempre na recente minisérie "Obi-Wan Kenobi" e o mistério ficou esclarecido: o ator cedeu os direitos para que as gravações no arquivo continuem a ser usadas para manter Vader vivo com a ajuda, ironicamente, de um programa de inteligência artificial desenvolvido por uma 'start-up' da Ucrânia.

O seu nome aparece nos créditos da produção para o Disney+ e Matthew Wood, um veterano na edição de som na Lucasfilm, descreveu a sua contribuição como a de um "padrinho generoso" que, informado sobre os planos do estúdio para Vader, se manteve envolvido no processo de aperfeiçoar a voz, orientando a interpretação e dando conselhos sobre continuar na direção certa com a personagem. Graças à magia da tecnologia, a sua voz tornou-se, por sua vontade, literalmente imortal...

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