Um dos temas mais recentes no debate sobre diversidade em Hollywood tem andado à volta dos atores heterossexuais interpretarem personagens gay.
Só nos últimos meses, Scarlett Johansson desistiu de interpretar um homem transgénero após muita indignação nas redes sociais e alguma comunicação social, enquanto a Disney foi muito criticada por escolher o comediante (heterossexual) Jack Whitehall para representar em "Jungle Cruise" aquela que se acredita ser a primeira personagem abertamente gay num filme do estúdio.
Kit Harington interpreta uma estrela de TV secretamente homossexual que tenta controlar a sua imagem pública e privada no filme "The Death and Life of John F. Donovan", apresentado recentemente no Festival de Toronto, e apesar de ter criticado em Toronto a Marvel por ainda não ter nenhum ator ou personagem abertamente gay nos seus filmes, defendeu o direito de ele e outros atores heterossexuais interpretarem as personagens conhecidas pela sigla LGBTQ.
"É um debate interessante que precisa acontecer, que devia estar a acontecer. Se me está a perguntar se acho que esta personagem devia ter sido representada por um ator gay, tenho de discordar", afirmou a estrela de "A Guerra dos Tronos" ao Yahoo Movies UK.
"Somos atores, representamos coisas diferentes. Não penso necessariamente que, pelo facto do John F. Donovan ser gay no filme, tem de ser representado por um ator gay. Tenho alguns problemas com esse tipo de argumentação. Como atores representamos todos os tipos de personagens diferentes. Não temos de ser aquilo que estamos a representar no filme. Onde é que isso vai acabar?", acrescentou.
Por sua vez, o realizador do filme, Xavier Dolan, abertamente homossexual, diz que o tema é "complicado".
"Tenho empatia e percebo as extremidades do espectro neste debate, mas tenho um problema complicado com pessoas a terem direito por receita e natureza a certos papéis e não a outros. Claro que a verdade é que, no passado, os atores LGBTQ, os artistas queer, têm tido muito menos oportunidades do que os atores heterossexuais, e que atores heterossexuais têm interpretado muitas vezes belíssimmas personagens gay e que isso, em si mesmo, pode ser condenado", salientou o conhecido realizador de filmes como "Amores Imaginários" e "Mamã".
"Representar personagens é sobre tornar-se noutra pessoa e se não se pode ser, ou ser a oportunidade, para uma personagem porque não tem a mesma orientação sexual, o oposto também é verdadeiro. Se sou gay e devia ter direito a personagens gay, então as pessoas heterossexuais deviam ter direito a personagens heterossexuais e não posso ser um ator e ser heterossexual no ecrã", explicou Dolan, que também costuma ser ator.
"Acho que há uma necessidade legítima de representação para minorias. Quer seja a comunidade transgénero ou apenas a comunidade queer no geral, quando dizem que precisam de fazer essas personagens, e que há mais personagens e portanto mais oportunidades, percebo isso. Por outro lado, ficou a pensar no que isso significa para eles, como atores, se agora decidimos fazer escolhas baseado na sexualidade ou identidade em vez do talento", concluiu.
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