Mohammad Rasoulof está em 'local não revelado na Europa' após ter fugido clandestinamente do Irão, anunciaram os seus representantes na segunda-feira.

“Estamos muito felizes e aliviados por Mohammad ter chegado em segurança à Europa após uma viagem perigosa. Esperamos que possa comparecer à estreia de ‘The Seed of the Sacred Fig’ em Cannes, apesar de todas as tentativas de impedi-lo de comparecer pessoalmente”, disse em comunicado Jean-Christophe Simon, presidente executivo da distribuidora francesa.

O aclamado realizador de “O Mal Não Existe”, vencedor do Urso de Ouro de Berlim, fora condenado a oito anos de prisão (cinco depena efetiva), flagelação, multa e confisco de bens, na semana passada. Já outro filme controverso, "Lerd" (2017), abordava a corrupção e a injustiça na sociedade do seu país.

“O principal motivo da emissão desta sentença é a assinatura de declarações e a realização de filmes e documentários. Na opinião do tribunal, estas ações foram exemplos de conluio com a intenção de cometer um crime contra a segurança do país”, escrevera o seu advogado na rede social X (antigo Twitter).

Rasoulof  foi detido em julho de 2022 por apoiar os protestos que eclodiram no Irão após o desabamento de um prédio no sudoeste do país, que deixou mais de 40 mortos.

Naquela ocasião, um grupo de cineastas iranianos reunidos por Rasoulof pediu, numa carta aberta, que as forças de segurança "deponham as armas" diante da indignação popular contra "a corrupção" e "a incompetência" dos líderes.

Foi libertado no final de 2023, após terem diminuído gradualmente os protestos antigovernamentais que começaram em setembro de 2022.

As autoridades do Irão também estavam a pressionaram o realizador, atores, produtores e equipa técnica para retirar o seu último trabalho, “The Seed of the Sacred Fig”, da competição à Palma de Ouro do Festival de Cannes, que começa na terça-feira: o filme será apresentado no dia 24, véspera do encerramento.

Esta segunda-feira, um comunicado também foi enviado em nome Rasoulof, disponível na íntegra na revista Variety.

“Cheguei à Europa há poucos dias depois de uma viagem longa e complicada. Há cerca de um mês, os meus advogados informaram-me que a minha pena de oito anos de prisão foi confirmada no tribunal de recurso e seria implementada num curto espaço de tempo. Sabendo que, muito em breve, seriam reveladas as novidades do meu novo filme, sabia que, sem dúvida, uma nova pena seria acrescentada a estes oito anos. Não tive muito tempo para tomar uma decisão. Tive que escolher entre a prisão e deixar o Irão. Com o coração pesado, escolhi o exílio. A República Islâmica confiscou o meu passaporte em Setembro de 2017. Por isso, tive de deixar o Irão secretamente", escreveu.

Notando que alguns atores do seu novo filme conseguiram sair do Irão, o realizador dissidente descreveu a repressão enfrentada por muitas outras pessoas da sua equipa no Irão e pediu o 'apoio eficaz' da comunidade internacional de cinema.

"A liberdade de expressão deve ser defendida alto e bom som. As pessoas que enfrentam a censura de forma corajosa e altruísta, em vez de a apoiarem, têm a certeza da importância das suas ações através do apoio das organizações cinematográficas internacionais. Como sei por experiência própria, pode ser uma ajuda inestimável para continuarem o seu trabalho vital", notou.

"Muitas pessoas ajudaram a fazer este filme. Os meus pensamentos estão com todos eles e temo pela sua segurança e bem-estar”, conclui.