Um ruidoso arroto rompe o silêncio que reina na sala onde um grupo de jornalistas aguarda o ator num hotel de Beverly Hills para falar do seu último filme, "Ben-Hur", que estreia no dia 19 de agosto nos Estados Unidos.

"Peço desculpa, é que acabei de comer guacamole", explicou o ator de 79 anos, vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário por "Million Dollar Baby - Sonhos Vencidos" e nomeado a mais quatro estatuetas da Academia.

Desde a sua primeira aparição no grande ecrã, em 1964, Freeman rodou 79 filmes, que lucraram 4,3 mil milhões de dólares nas bilheteiras em todo o mundo. O valor é mais que o PIB combinado de 10 países africanos e o mesmo que os filmes de Al Pacino e Robert de Niro arrecadaram juntos.

O argumento: a base

Os críticos afirmam que o seu melhor trabalho foi em "Os Condenados de Shawshank" (1994), mas a sua filmografia também inclui obras-primas como "Se7en - Sete Pecados Mortais" (1995), de David Fincher, ou "Invictus" (2009), de Clint Eastwood.

Agora apresenta "Ben-Hur", a versão do cineasta Timur Bekmambetov do romance de Lew Wallace, cuja adaptação mais célebre é de William Wyler, de 1959, protagonizada por Charlton Heston e que ganhou 11 Óscares.

Jack Huston é Judah Ben-Hur, Tobby Kebell é Messala Severus e o brasileiro Rodrigo Santoro é Jesus Cristo. Freeman interpreta o xeque Ilderim.

Questionado sobre se tinha algum conselho a dar ao ator brasileiro para interpretar o papel divino que lhe coube, Freeman afirmou: "na verdade, não é difícil dar vida à divindade".

"As pessoas dizem-me: 'Você interpretou Deus (em 'Bruce, O Todo Poderoso'). Como se preparou para o papel?'", conta. "Indo à Igreja? Não. Leia o guião, é assim que se deve preparar para uma personagem", afirma.

A seriedade assume o tom das palavras. É a atitude que Freeman sempre teve ao longo de sua carreira.

Prestes a tornar-se um octogenário, o ator surpreende-se quando lhe perguntam por que continua a representar.

"É um trabalho", afirma. "Ouvi esta história - talvez seja falsa, mas não me parece", avisa. "É sobre um grande ator. Na última noite vivo escreveu antes de dormir: 'Eu trabalho'. Isso é realmente o que fazemos, procuramos trabalho. Quando se é tão sortudo como eu, de vez em quando deparamo-nos com filmes extraordinários", afirma.

Ao lado de Deus

Freeman não esconde o seu ceticismo sobre a existência de Deus. De facto, acredita que a humanidade "o inventou". Mas considera que uma história tão religiosa como "Ben-Hur" merece ser contada várias vezes.

"Há muitas coisas boas nesta história que de alguma maneira nos educam: a ideia de redenção, tolerância, perdão e amor. Todas essas coisas fazem-nos querer ser pessoas melhores", declara.

Embora seja agnóstico, Freeman utiliza as palavras religiosas para falar de política, num ano eleitoral carregado de tensões raciais.

"Isso é a América. E a América significa esperança. Recuperaremos sempre. Perceberemos sempre que, como povo, estamos ao lado de Deus".

A nova adaptação de "Ben-Hur" chega aos cinemas portugueses a 1 de setembro.

VEJA O TRAILER: