O animador canadiano morreu esta sexta-feira na sua casa em Bristol, anunciou a família.
Richard Williams foi responsável pela realização da parcela de desenho animado do incontornável "Quem Tramou Roger Rabbit?", de 1988, realizado também por Robert Zemeckis, e era um dos animadores mais admirados das últimas décadas, tanto pelos filmes que realizou e animou como pela mestria das suas várias "masterclasses" sobre animação e pelo livro seminal sobre o tema que escreveu, "The Animator's Survival Kit", uma das bíblias dos profissionais do sector.
Nascido em Toronto, no Canadá, em 1933, Williams foi viver para Ibiza em 1953 e para Londres em 1955, onde se tornou rapidamente um dos animadores mais importantes da época, com muito trabalho feito para publicidade, o que lhe permitiu financiar os seus projectos pessoais. O primeiro deles foi a curta-metragem de 30 minutos sem diálogos "The Little Island", que lhe valeu o BAFTA em 1958. Em 1971, a sua adaptação para cinema de "O Conto de Natal", de Charles Dickens, valeu-lhe o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação.
Ao longo dos anos 60 e 70, Williams ganhou também grande visibilidade ao realizar os genéricos animados de filmes como "Que há de Novo, Gatinha?", "Em Roma... era Assim", "A Carga da Brigada Ligeira", "O Regresso da Pantera Cor-de-Rosa" e "A Pantera Volta a Atacar", animando nestes dois últimos a icónica personagem titular. Em 1977, realizou a longa-metragem de desenho animado "Raggedy Ann and Andy: A Musical Adventure".
Grande estudioso do desenho animado norte-americano, acabou por conviver e partilhar experiências com os seus grandes nomes, o que lhe foi essencial quando foi o escolhido para garantir a extensa parcela de animação do incontornável "Quem Tramou Roger Rabbit?", que referenciava de forma direta a idade de ouro da animação de Hollywood, nomeadamente a da Disney, da Warner Bros e de Tex Avery, cujas personagens também povoavam o filme.
Com Robert Zemeckis como realizador, "Quem Tramou Roger Rabbit?", co-produzido por Steven Spielberg e estreado em 1988, foi o filme que deu o grande pontapé de saída à nova idade de ouro da animação norte-americana, que nos anos seguintes daria origem a clássicos como "A Pequena Sereia", "A Bela e o Monstro" ou "O Rei Leão", e que, de alguma maneira, ainda hoje vivemos. Williams ganhou mais dois Óscares pelo filme, o de Melhor Efeitos Visuais (partilhado com Ken Ralston, Edward Jones e George Gibbs) e um Óscar honorário em nome individual "pela direção de animação e criação das personagens de desenho animado".
Altamente perfeccionista, Williams passou décadas a tentar concretizar o filme que via como a sua obra-prima, "The Thief and the Cobbler", inspirado nas "1001 Noites", com uma produção tão conturbada que até deu origem a um documentário de longa-metragem, "Persistence of Vision". Iniciado em 1964, foi sendo produzido de forma intermitente ao longo de cerca de 30 anos, até os financiadores terem assumido o controlo do filme e estrearem uma versão fortemente editada em 1993.
Mais tarde, já no século XXI, um grupo de fãs fez um restauro cuidadoso de todos os elementos da película, que relançou em 2006, 2008 e 2013, cada vez com mais material. O próprio Williams apresentou em 2013 a sua versão inacabada do filme na Academia de Artes e Ciências de Hollywood, que conserva hoje todos os materiais da obra.
Richard Williams era uma figura extremamente popular nos festivais de cinema de animação, não só pelo seu trabalho, primordialmente em "Quem Tramou Roger Rabbit?", mas principalmente pelas suas sempre muito concorridas "masterclasses", onde representava de forma enérgica os movimentos das personagens que animava. O livro que escreveu, "The Animator's Survival Kit", publicado inicialmente em 2001 e depois ampliado, é porventura o livro de ensino mais elogiado pelos profissionais da animação.
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