Amy Poehler e Melanie Laurent lideraram os contingentes americano e francês das dobragens de «Divertida-mente», o novo filme de animação dos estúdios Disney Pixar, um pequeno recital de psicanálise inteligente e tocante, acessível a todos e muito aplaudido no Festival de Cannes.

Claudia Cardinale, Andie Macdowell, Eva Longoria e até Paris Hilton foram outras estrelas que não perderam a sessão de gala do filme em que a Disney Pixar ofereceu aos pequenos e grandes espectadores a oportunidade de conhecer as suas emoções, «essas pequenas vozes que ecoam na sua cabeça», ao acompanhar uma rapariga chamada Riley, do seu primeiro choro (de alegria) até sua primeira depressão aos 11 anos, resultado da mudança de sua família a uma grande cidade fria e anónima.

Imerso na cabeça de Riley, o espectador descobre o centro de comando das emoções e pensamentos da jovem: a alegria que irradia entusiasmo como deveria, a tristeza que vê tudo preto, o medo que mina a sua segurança, a raiva que garante que a justiça reine e o desgosto que impede a criança de se deixar envenenar pela vida.

No quartel-general da consciência de Riley, as emoções estão constantemente interagindo quando uma decisão tem de ser tomada ou uma sensação aparece.

Segunda animação da Pixar a ser apresentada fora da competição no Festival de Cannes, após «Up - Altamente» em 2009, «Divertida-mente», também dirigido por Pete Docter, é especialmente belo tecnicamente, com imagens de síntese de grande beleza, servidas por um enredo original e inteligente com novos personagens adoráveis.

«A minha filha foi uma criança exuberante e muito ativa e sociável. Quando completou onze anos, tornou-se muito mais calma. Eu perguntava-me o que se passava na sua mente», disse o realizador em Cannes. «As nossas emoções não são realmente pessoas que vivem nas nossas cabeças. Espero não ter estragado nada revelando isso!», acrescentou.

Saudade, tristeza e alegria

Para «Divertida-mente», os estúdios Disney Pixar convocaram especialistas, psiquiatras e neurologistas, para compreender melhor o funcionamento da mente e da consciência, incluindo o Dr. Dacher Keltner, professor de psicologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, especialista internacional em emoções humanas.

«Os especialistas não concordam sobre o número de emoções. De acordo com os trabalhos do Dr. Keltner, haveria 21, incluindo tédio, desprezo e vergonha. Uma ampla escolha que nos era oferecida e foi emocionante explorar. Optámos por cinco emoções sobre as quais quase todos concordam», disse o realizador.

Mergulhada numa verdadeira depressão com o desaparecimento de qualquer emoção positiva, a jovem definha, perdendo um por um todos os seus interesses. Na sua cabeça, a alegria desamparada esforça-se para restaurar os parâmetros nominais de bem-estar, mas a tristeza, cheia de boa vontade, procura desesperadamente ser útil para a felicidade.

«É extremamente difícil descrever como as nossas emoções afetam o nosso comportamento, mas o filme consegue expressar de forma brilhante essa luta de controle», considera Dr. Keltner, que supervisionou cientificamente o argumento.

Enquanto a criança está prestes a fugir, a alegria entende como a tristeza e a saudade podem tornar-se valiosas aliadas, ao preço de incríveis aventuras e desafios enfrentados de forma brilhante nos meandros da sua consciência.