Embora nunca tenha sido feito um filme a 3 Dimensões com o realismo e a escala de
«Avatar», é o processo e não o resultado que promete revolucionar a história do cinema. Desde
«Parque Jurássico» que o espectador já se habituou ao foto-realismo e à integração na imagem real de elementos imaginários, criados por computador. A partir de
«O Senhor dos Anéis: As Duas Torres», a personagem de Gollum introduziu na acção real uma personagem criada em «motion capture» com um realismo inusitado.
Só que
James Cameron subiu tudo isto a uma potência superior, com um realismo inédito até à data e uma escala verdadeiramente inusitada, e ainda lhe adicionou as 3 Dimensões, concretizadas com uma precisão técnica nunca antes alcançada.
Mas a revolução de «Avatar» começou muito antes. James Cameron escreveu o primeiro esboço do argumento em 1994 e, segundo comentou várias vezes, esperou desde então que a tecnologia estivesse à altura de lhe permitir levar ao ecrã a história do confronto entre os seres humanos e os pacíficos seres azuis de um planeta chamado Pandora. Mas como o cineasta não é homem para ficar de braços cruzados, resolveu dar uma ajudinha à revolução tecnológica que permitiu criar «Avatar».
O filme é concretizado com câmaras especiais criadas de propósito, descendentes das que Cameron tinha criado em parceria com Vince Pace, e que tinham sido instrumentais na eclosão do novo cinema a 3 Dimensões. O designado Fusion Camera System permitiu a rodagem de filmes a 3 Dimensões com um realismo inusitado, bem comprovado nos dois documentários com que o cineasta testou e apresentou o sistema:
«Fantasmas do Abismo» (2003) e
«Extraterrestres nas Profundezas» (2005), rodados em alta definição nas profundezas do oceano para serem vistos nos gigantescos ecrãs IMAX.
Recorde-se que o novo sistema a três dimensões elimina por completo a sensação de náusea do sistema anterior, em que a projecção do filme era feita por duas câmaras (com cada uma a projectar a imagem que cada olho devia captar para dar a ilusão de tridimensionalidade) e em que a imagem de cada uma tinha de estar completamente alinhada para não provocar dor de cabeça e arruinar o efeito. Agora, com uma única câmara a alternar os fotogramas que cada olho deve captar e imagens de uma definição e contraste antes impensável, a revolução 3D veio para ficar e os óculos vão passar a ser acessório essencial em cada vez mais filmes (quem já usa óculos para corrigir miopia, pode colocá-los por cima dos seus que o efeito é idêntico).
A primeira película no novo sistema?
«Fantasmas do Abismo» , de James Cameron. A mais recente e espectacular?
«Avatar», de James Cameron.
Mas não é só o efeito das 3 Dimensões que melhora substancialmente em «Avatar». O outro grande avanço está no processo de rodagem com recurso à tecnologia de «motion capture» (em que a interpretação dos actores é decalcada para um computador através da digitalização dos vários pontos do seu corpo). Por um lado, o espaço de rodagem (designado por «volume») é seis vezes maior que os utilizados até à data por cineastas como
Robert Zemeckis (o principal defensor desta tecnologia, em filmes como
«Polar Express»,
«Beowulf» e
«Um Conto de Natal».
Por outro, se no sistema utilizado até agora os cenários só eram integrados na acção muito depois dos actores terem sido filmados, as novas câmaras virtuais de Cameron permitem-lhe observar num monitor, directamente e em tempo real, as contrapartes virtuais dos actores já integradas no seu mundo digital, e dirigir as cenas como se de um filme de imagem real se tratasse. Mais: a nova câmara colocada em frente da rosto do actor, permite, segundo Cameron, transferir cerca de 95% da interpretação dos actores para as suas versões digitais. Ou seja, um realismo nunca antes visto numa personagem virtual.
Tudo isto junto, agregado à imaginação fulgurante de James Cameron e à sua insistência de que todas as inovações tecnológicas sirvam a história que conta, fazem de «Avatar» uma experiência inovadora em cinema, que promete ser um ponto de viragem tão grande como o foram, na sua época
«A Guerra das Estrelas» ou
«Parque Jurássico».
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