"Ainda Estou Aqui" é a escolha do Brasil a uma nomeação para os Óscares, os prémios norte-americanos de cinema, revelou hoje a comissão de seleção.

Ainda sem estreia anunciada para Portugal, a longa-metragem foi escolhida por unanimidade para ser candidata a uma nomeação na categoria de Melhor Filme Internacional em 2025, uma lista que tinha ainda como finalistas "Cidade Campo", de Juliana Rojas, "Levante", de Lillah Halla, "Motel Destino", de Karim Aïnouz, "Saudade fez Morada aqui Dentro", de Haroldo Borges, e "Sem Coração", de Nara Normande e Tião.

Com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, filme "Ainda Estou Aqui" revive fantasma da ditadura militar brasileira
Com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, filme "Ainda Estou Aqui" revive fantasma da ditadura militar brasileira
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Distinguido no recente Festival de Veneza com o Melhor Argumento para Murilo Hauser e Heitor Lorega, "Ainda Estou Aqui" tem sido elogiado como um regresso à boa forma do realizador Walter Salles, que já teve outros três filmes escolhidos para representar o Brasil nos Óscares: "A Grande Arte" (1991), "Central do Brasil" (1998) e "Abril Despedaçado" (2001).

“Tenho orgulho de presidir a esta comissão, que foi unânime na escolha deste grande filme sobre a memória, um comovente retrato de uma família sob ditadura militar. 'Ainda Estou Aqui' é uma obra-prima, sobre o olhar de uma mulher, Eunice Paiva, e com atuações sublimes das duas Fernandas [Torres e Montenegro]”, disse a presidente Bárbara Paz.

E acrescentou: “Este é um momento histórico para o nosso cinema. Não tenho dúvida de que este filme tem grandes chances de colocar o Brasil de novo entre os melhores do mundo. Nós, na indústria audiovisual brasileira, merecemos isso”.

Citado no comunicado, Salles diz que é uma "honra" representar o país nos Óscares e noutros festivais, destacando que "este filme existe, antes de mais nada, para se relacionar com o público brasileiro. Nada disso seria possível sem o livro fundamental de Marcelo Rubens Paiva e o apoio da família Paiva, que nos inspiraram constantemente nesta jornada".

"Aproveito para celebrar o facto de o cinema brasileiro estar a ser abraçado e premiado desde o início do ano nos principais festivais internacionais como Sundance, Berlim, Cannes, Veneza, Locarno. [...] Este conjunto de filmes prova que a nossa cinematografia reergue-se depois de anos difíceis. Torço para que o ano que vem seja ainda melhor para o cinema brasileiro", notou.

"Ainda Estou Aqui" narra o sequestro e a desaparecimento do engenheiro e político Rubens Paiva, com argumento adaptado do livro homónimo escrito pelo filho da vítima, Marcelo Rubens Paiva.

Paiva era um deputado de esquerda até que a ascensão dos militares em 1964 forçou-o ao exílio. Mas ele voltou inesperadamente ao Brasil e retomou a sua carreira de engenheiro, sem abandonar os seus contactos com a clandestinidade.

Quando a situação no país piorou, com atentados e sequestros por grupos de extrema esquerda e a sangrenta repressão militar, Paiva foi detido em janeiro de 1971.

Um grupo de homens armados levou-o da sua casa no Rio de Janeiro e nunca mais foi visto. A sua esposa, Eunice, também foi detida juntamente com uma das filhas e passou 12 dias a ser interrogada.

Interpretada por Fernanda Torres, e depois pela sua mãe Fernanda Montenegro na velhice, Eunice não desistia de procurar o seu marido, sem abandonar a educação dos filhos.

"A história de Eunice confunde-se com a do Brasil naqueles anos horríveis que vivemos", declarou Salles no dia da estreia do filme em Veneza.