A organização do Festival de Cannes vai mudar as suas regras após ser envolvida numa polémica com a inclusão de dois filmes da Netflix (plataforma de transmissão de vídeo na Internet) na competição oficial pela Palma de Ouro.

A partir de 2018, qualquer filme que deseje estar em competição em Cannes terá de assumir o compromisso de ser distribuído nas salas de cinema em França.

A decisão foi despoletava pela presença na principal secção do festival de “The Meyerowitz Stories”, de Noah Baumbach, e “Okja”, de Bong Joon Ho, que são distribuídos pela Netflix.

A Federação Nacional dos Cinemas Franceses (FNCF) tinha criticado a seleção não só por contrariar "a própria natureza de obra cinematográfica", o que é uma questão antiga, mas também os próprios objetivos da existência do festival: ser uma montra mundial de apresentação para os próximos filmes destinados às salas de cinema.

A FNCF sublinhara ainda que, além de tudo, a Netflix encerrou recentemente os seus escritórios em França e que “se esquiva à lei francesa e às regras fiscais”, que “permitem a existência da maioria dos filmes franceses e estrangeiros da seleção oficial” do festival.

“A lógica financeira e de comunicação que impulsiona este operador não deveria ser ignorada pelo festival”, reforçou, pedindo um esclarecimento rápido para que se confirmasse se os filmes em causa seriam projetados em salas de cinema, “respeitando a regulamentação em vigor”.

A Netflix recusou posteriormente fazer essa estreia porque teria de se sujeitar à lei francesa que proíbe os filmes lançados em sala de ficarem disponíveis em "video on demand" durante três anos.

Corriam rumores que os dois filmes podiam ser removidos da secção competitiva após a plataforma ter anunciado que “estão programados para estrear mundialmente durante a competição" do festival.

"Recentemente espalhou-se um rumor sobre a possível exclusão da Seleção Oficial de Noah Baumbach e Bong Joon Ho, cujos filmes foram maioritariamente financiados pela Netflix. O Festival de Cannes reitera que, como anunciado a 13 de abril, esses dois filmes vão ser apresentados na Seleção Oficial e em Competição", revelou a organização a uma semana do início do festival, que decorrerá entre 17 e 28 de maio.

"O Festival de Cannes está consciente da ansiedade causada pela ausência de estreia nas salas desses filmes em França. O Festival de Cannes pediu em vão à Netflix que aceitasse que esses dois filmes chegassem aos espectadores das salas de cinema francesas e não apenas aos seus subscritores. Daí que o Festival lamente que nenhum acordo tenha sido alcançado", acrescentou o comunicado.

"O Festival está contente por dar as boas-vindas a um novo operador que decidiu investir no cinema, mas quer reiterar o seu apoio à forma tradicional de exibição de cinema em França e no mundo. Consequentemente e após consultar os membros do seu Conselho, o Festival de Cannes decidiu adaptar as suas regras a esta situação que não foi vista até agora: qualquer filme que deseja competir na Competição em Cannes terá de se comprometer a ser distribuído nas salas de cinema francesas. Esta nova medida irá aplicar-se a partir da edição de 2018 do Festival Intercional de Cinema de Cannes em diante", decretou.

De acordo com a plataforma, “The Meyerowitz Stories (New and Selected)”, escrito e realizado por Noah Baumbach, é protagonizado por Adam Sandler, Ben Stiller, Dustin Hoffman, Elizabeth Marvel, Grace Van Patten e Emma Thompson e “assenta numa história intergeracional, na qual irmãos adultos argumentam contra a influência de um pai envelhecido”.

“Okja”, de Bong Joon Ho, protagonizado por Tilda Swinton, Jake Gyllenhaal, Paul Dano, Giancarlo Esposito, Steven Yeun, Lily Collins, Devon Bostick, Daniel Henshall, Shirley Henderson, Hee Bong Byun, Je Moon Yoon, Woo Sik Choi e An Seo Hyun, “relata a história de uma jovem (An Seo Hyun), que se vê obrigada a arriscar tudo para evitar que uma poderosa multinacional rapte a sua melhor amiga – um enorme animal chamado Okja”.