Antigas forças especiais americanas a tentar derrubar o presidente venezuelano Nicolás Maduro? Lanchas e aviões sem matrícula prontos para invadir a Venezuela a partir da selva colombiana?
Tudo isso faz parte do enredo de "Men of War", um documentário que estreou esta semana durante o Festival Internacional de Cinema de Toronto (Tiff), o maior da América do Norte.
O filme relata a missão fracassada de Jordan Goudreau, um ex-membro das Forças Especiais do Exército dos EUA que agora enfrenta acusações de contrabando de armas após tentar um golpe de estado na Venezuela em 2020.
"Ele é o único mercenário, ou a única pessoa que foi rotulada como mercenário, que nunca foi pago", disse a cineasta Jen Gatien à France-Presse (AFP) numa entrevista com o codiretor Billy Corben.
Contratos e negação
Gatien e Corben reconstruiram esta história intrigante a partir de imagens originais fornecidas por Goudreau e entrevistas com outros protagonistas.
Goudreau, de 48 anos, é um veterano do exército dos EUA condecorado no Iraque e no Afeganistão, que fundou a empresa de segurança Silvercorp após a sua reforma por motivos médicos.
O ex-oficial esteve no centro da turbulenta "Operação Gideão", desde as suas fases iniciais em Miami, em meados de 2019, até uma tentativa real em maio de 2020 de infiltrar-se na Venezuela, juntar-se a militares desertores e derrubar Maduro.
A missão fracassou entre mal-entendidos com o movimento opositor da Venezuela, então liderado por Juan Guaidó, traições e falta de recursos.
Oito "mercenários", como foram chamados pelas autoridades venezuelanas, morreram em confrontos com militares, e outros 29 foram condenados pela justiça da Venezuela em maio passado.
Goudreau conseguiu fugir para o México, porém regressou mais tarde aos EUA.
Corben e Gatien dizem que o ex-agente tinha um contrato assinado com Guaidó, embora com uma cláusula de negação ao estilo do filme "Missão Impossível".
Ele também tinha uma gravação de áudio de um encontro com o líder político, que muitos países, incluindo os EUA, reconheciam como o presidente legítimo da Venezuela após Maduro ter sido declarado eleito em 2018 em eleições contestadas.
"Bode expiatório"
O desfecho final do filme é surpreendente: após quatro anos de investigação, Goudreau foi preso em julho nos EUA e acusado num tribunal federal.
Após declarar-se inocente, o ex-militar foi libertado sob caução e aguarda julgamento, onde pode enfrentar uma sentença de até 20 anos de prisão.
Dada a sua situação legal complicada, por que Goudreau aceitou fazer o documentário?
"Ele tinha um grande interesse em fazer o filme porque realmente sentia que fora usado como bode expiatório", disse Gatien.
Enquanto isso, Maduro foi novamente acusado de vitória fraudulenta na sua reeleição em julho passado.
"Devido às notícias de última hora e ao desenvolvimento aparentemente semanal dos acontecimentos nesta história, este é um trabalho em progresso que estamos a exibir", diz Corben.
O Tiff decorre até domingo.
Comentários