Paulo Rocha morreu em dezembro passado, aos 77 anos, deixando por estrear esta longa-metragem, que será exibida fora de competição, no dia 14, no festival de cinema de Locarno, que começa na quarta-feira.

Jorge Silva Melo foi um dos primeiros a visionar o filme, tendo escrito um texto, a pedido da Cinemateca, para acompanhar a divulgação internacional da obra.

Para o encenador, "Se eu fosse ladrão... roubava" "é um filme extremamente comovente, doloroso, feito à beira da morte, magistralmente filmado. É uma imensa despedida, mas não é com arrependimento. É uma despedida com vitalidade".

O filme articula uma ficção baseada nas memórias da vida do pai de Paulo Rocha, com imagens que o realizador retirou de vários filmes seus, dando-lhes uma nova interpretação. "É um filme sobre uma partida para longe", afirmou Jorge Silva Melo.

O encenador, que foi amigo de Paulo Rocha, disse não encontrar mais nenhum filme como este, pela "imensa descoberta" que Paulo Rocha oferece ao espetador ao revisitar filmes anteriores, como o emblemático "Verdes Anos".

No filme há ainda uma expressa admiração de Paulo Rocha pela obra de Amadeo Souza-Cardoso - de quem fez um documentário nos anos 1980 -, "pelo gosto pela colagem e pela pesquisa do original", disse.

Do elenco do novo filme fazem parte, por exemplo, Isabel Ruth, Márcia Breia, Luís Miguel Cintra e Carla Chambel.

O festival de Locarno irá ainda homenagear Paulo Rocha com a exibição dos filmes "Os Verdes Anos", distinguido em 1964, e "Mudar de Vida" (1966), este numa versão restaurada digitalmente pela Cinemateca, com a colaboração do realizador Pedro Costa.

Paulo Rocha deixou, em testamento, toda a obra e património cinematográfico à Cinemateca Portuguesa, e manifestou o desejo de que "Se eu fosse ladrão... roubava" fosse exibido em Locarno, um "festival que fora para ele importantíssimo na fase inicial da sua carreira", revelou o Museu do Cinema, em comunicado.

Até ao final do ano, a Cinemateca pretende fazer uma nova homenagem a Paulo Rocha, mostrando o conjunto da sua obra.

Paulo Rocha, que estudou Direito em Lisboa e cinema em França, foi assistente de realização de Jean Renoir e Manoel de Oliveira e assinou outros filmes como "A Ilha dos Amores" (1982), "O Desejado" (1988), "O Rio do Ouro" (1998), "A Raiz do Coração" (2000) e "Vanitas" (2004).