A HISTÓRIA: O regresso à mente da recém adolescente Riley, no momento em que o Quartel General está a passar por uma demolição repentina para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas Emoções! A Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Repulsa que há muito tempo administram uma operação bem-sucedida em todos as áreas, não têm a certeza de como se irão sentir quando a Ansiedade aparecer. E parece que ela não está sozinha.

"Divertida-Mente 2 (Inside Out 2)": nos cinemas desde 11 de julho.


Crítica: Francisco Quintas

Não se deve partir para crucificar um estúdio quando este não consegue recriar a magia de outrora. Com uma epidemia de narrativas repetitivas e uma pandemia de COVID-19 que votaram muitos filmes ao catálogo do Disney+, após estreias comerciais de curta duração, a Pixar precisava, com alguma urgência, de recuperar a confiança da base de fãs, que começaria, porventura, a mostrar as histórias a filhos ou irmãos mais novos.

Para piorar, o lançamento de sequelas (não de menor qualidade) como “The Incredibles 2: Os Super-Heróis” (2018) e “Toy Story 4” (2019) levantou a suspeita de a Walt Disney Studios, a empresa-mãe, priorizar o investimento na nostalgia das gerações mais velhas, face a histórias originais e inovadoras. Tendo visto isto, suspeitava-se que o projeto de 2024 viesse replicar esse efeito – uma fórmula estourada e um lucro que justificasse, a longo prazo, um terceiro filme.

Não é o caso.

Realizado pelo estreante Kelsey Mann, "Divertida-Mente 2 (Inside Out 2)" não dispensa ingredientes de eleição. Como qualquer premissa da Pixar, é um filme de uma enorme criatividade e sentido de humor, uma proposta de reflexão de assuntos universais e, claro, uma animação de primeira categoria. Note-se, ademais, que está particularmente empenhado com a tarefa de, por mais redutor que pareça, explicar a adolescência.

Da mesma maneira que o primeiro filme, lançado em 2015, se encarregou de resumir as emoções primárias de uma pessoa, e o concílio natural e saudável das mesmas, a sequela conserva a habilidade de descrever fenómenos complexos, relativos ao amadurecimento humano, dentro de um emaranhado de entretenimento.

Tanto a criança como o adulto ficarão maravilhados com o requinte das imagens, das cores e da música, da autoria de Andrea Datzman, para, de seguida, se deixarem imergir na batalha interna da protagonista, em princípios de puberdade e, pela primeira vez, longe dos pais. Entregue às suas próprias emoções, a si mesma.

Como se a gestão de um dos capítulos mais determinantes da personalidade de Riley não fosse complicada o suficiente, os guionistas Meg LeFauve e Dave Holstein entenderam que a adolescência haveria de ter um despoletar repentino, em simultâneo com a ausência momentânea dos pais. Se estas personagens perdem drasticamente relevância, “Divertida-Mente 2” desenvolve sequências de tensão e embaraço muito engraçadas, a maioria da responsabilidade da nova emoção Ansiedade, com a voz de Maya Hawke, sempre bem-intencionada, mas em contramão.

A acompanhá-la surge uma 'entourage' de negativismo, composta pela Vergonha e o Tédio, com as vozes de Paul Walter Hauser e Adèle Exarchopoulos, alívios cómicos utilizados na dose certa. Já a Inveja, com a voz de Ayo Edebiri, é a personagem secundária que fica mais a perder. É provável que os criadores tenham preferido uma versão suave desta emoção, renegando o potencial de uma representação mais realista. Por outras palavras, a Inveja deveria ser uma personagem malevolente.

Na linha da frente, como seria de esperar, a Alegria, a Tristeza, a Raiva, o Medo e a Repulsa são um coletivo fortalecido pelo trabalho de equipa e do elenco de voz, bastante comprometido com os respetivos papéis. Ainda que a resolução dramática de “Divertida-Mente 2” não se desvie muito do expectável de uma história desta natureza, tal como foi a do primeiro filme – todas as emoções devem coexistir e abraçar-se –, é impressionante como a sequela consolida ideias passadas, contorna reviravoltas e progride para uma tocante mensagem de maturidade individual.

Mais uma vez, a Pixar demonstra que, quanto mais específicas forem certas matérias, mais universais são na verdade, mais se aplicam a cada de um nós. No fim do dia, pelos vistos, somos todos feitos do mesmo.