Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker
A HISTÓRIA: A conclusão da saga Skywalker, onde vão nascer novas lendas e a batalha final pela liberdade ainda está para chegar.
Crítica: Daniel Antero
[SPOILERS MODERADOS SOBRE A PRIMEIRA METADE DO FILME]
O universo que definiu a cultura pop, moldou sonhos e se tornou culto, tem agora um marco na sua longevidade. "Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker" é o final da trilogia das trilogias, a batalha das batalhas, o destino da galáxia.
Ao leme da última iteração de uma saga sempre disposta a entreter as massas, mas sujeita ao escrutínio fervoroso dos fãs acérrimos, o realizador J.J. Abrams tinha uma opção a fazer: jogar pelo seguro, fazendo um filme de "fan service", com todas as referências possíveis, criando uma meta-narrativa da mitologia; ou assumir um arrojo criativo, trazer algo novo ao franchise e focar-se na nova dualidade entre a esperança e o medo, a Jedi Rey e o Sith Kylo Ren.
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Pois, este fã incondicional da saga, que escreveu o argumento a par de Chris Terrio ("Liga da Justiça"), decidiu por uma mistura das duas: numa celebração iconográfica, criou uma "check-list" repleta de vinhetas do passado, com memórias, locais, vozes e efeitos práticos, relembrando 42 anos de admiração pela fantástica obra de George Lucas.
Como a lista é extensa, recorreram a MacGuffins episódicos e "deus ex machina" esforçados, de forma avançar a narrativa sem apelo nem agravo. E também introduziu algo “novo”, entretanto anunciado nos trailers: distorcendo a narrativa composta na trilogia encabeçada por Rey, Kylo, Poe, Finn e o espetacular vilão Snoke, colocando mesmo em causa alguns actos de "O Regresso de Jedi" (1983)... o Imperador Palpatine está de volta.
Na galáxia muito, muito distante, o filme arranca com o Líder Supremo Kylo Ren (Adam Driver) em busca do Imperador (Ian McDiarmid), que escondido nas sombras, há muito que manipula o destino da galáxia. O confronto é iminente e ao que parece inevitável, mas Palpatine oferece a Kylo Ren o poder da sua derradeira arma: a Ordem Final, uma frota de Star Destroyers. Em troca, quer a morte de Rey (Daisy Ridley).
Do outro lado estrelar, Finn (John Boyega), Poe (Oscar Isaac), Chewbacca (Joonas Suotamo), C-3PO (Anthony Daniels) e Rey, partem em busca de um artefacto que os levará ao planeta do imperador. Pelo caminho, Rey enfrenta Ren e, finalmente, irá descobrir a sua origem.
Esta busca levará a equipa a vários planetas, e é aqui que o génio de "Star Wars" se eleva: extra-terrestres, dróides, stormtroopers voadores, criaturas engenhosamente desenhadas para nos arrancar suspiros e gargalhadas - como o amoroso e tresloucado Babu Frik -, batalhas épicas... e o que de melhor a indústria de efeitos especiais nos pode oferecer.
Acompanhados da banda sonora de John Williams, estamos preparados para tudo. Mesmo para buracos na história, motivações por explicar ou sequências demasiado curtas, onde os diálogos são expositivos e preguiçosos, e novas personagens que servem somente para deixar objetos de desbloqueio aos nossos heróis.
Rey (a personagem com o história mais sólida) e Kylo continuam a sua dança telepática de olhares lamechas e sofridos, mas rapidamente passam a batalhas espectrais divididas entre várias localizações; Poe e Finn têm a camaradagem sempre em alta, com um espírito de aventura pleno do cinema dos anos 80; C-3PO, R2-D2 e BB-8 acolhem um novo dróide D-0 na família. E ainda há espaço para a intriga e espionagem no seio da Primeira Ordem.
A narrativa é vagamente coerente, debitada a um ritmo alucinante, repleto de adrenalina. São muitos personagens para um final apoteótico, percebe-se, e sente-se a falta de decisão nesta última trilogia e as viragens que aconteceram ao longo do caminho.
Mas os fãs preparem-se para respostas, surpresas chocantes, reviravoltas que poderão criar espanto ou desapontamento, diversão e emoção. Sentida, pois a ficção confunde-se com a realidade, e Carrie Fisher (que é a espinha dorsal do filme com a sua relação poderosa, quase simbiótica, com o filho Kylo Ren/Ben Solo) tem aqui o seu tributo.
E é isto que é "Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker": um tributo ao tributo, um ciclo de "loops" narrativos que fazem eco das primeiras trilogias, "cameos", retornos, lutas épicas de sabres de luz em cenários estonteantes, momentos embaraçosos e outros sumptuosos. Será um filme divisivo, como qualquer outro de "Star Wars". Mas num ano único de ciclos e sagas concluídos na Sétima Arte, que melhor forma de o fechar com este marco do entretenimento, celebrando a sua existência?
"Star Wars: Episódio IX - A Ascensão de Skywalker": nos cinemas a 19 de dezembro.
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