O seu início é de uma poesia agressiva e alarmante que vai ecoar pelo resto da narrativa. Pai e filha avançam pelo gelo e neve, em busca de um animal para caçar. Mas o alvo parece ser outro. Fade out. Strob de luzes sobre o título. Thelma.

Anos volvidos, encontramos Thelma (Eili Harboe), sozinha, a caminhar para a universidade. Deixou os seus pais no interior da Noruega, mas não deixa de ser controlada, com estes a seguir o seu calendário escolar, as suas contas nas redes sociais, todos os seus passos.

São fanáticos que descobriram na religião um refúgio e modo de expurgação dos estigmas que assaltam a família. Assinalados inicialmente como epilepsia, são mais do que isso...

Quando Thelma conhece Anja (Kaya Wilkins), uma bonita estudante, o desejo de liberdade aumenta e os episódios epilépticos passam a ser mais frequentes, revelando poderes sobrenaturais escondidos... e que a preocupação dos pais parece ter justificação.

No novo filme do norueguês Joachim Trier, acompanhamos a descoberta de Thelma, desde a razão dos seus ataques às consequências dos mesmos, com uma narrativa tensa e enervante, tendo momentos de êxtase com uma carga fatalista inesperada.

Thelma

Veja-se uma cena na ópera, onde Thelma é acariciada por Anja, expondo o poder todo da nossa protagonista, deixando o público em risco de vida… Ou a indução de um ataque epiléptico, no ambiente controlado de um hospital, que vai ter repercussões graves, a quilómetros de distância.

Cenas oníricas são-nos reveladas pelo ponto de vista de Thelma, onde a repressão sexual e opressão religiosa são metaforicamente interpretadas por símbolos de purificação e pecado, deixando Thelma em conflito, com a serpente e o fogo nas mãos. Excelentes cenas de CGI, que surpreendem e incomodam.

Não sabendo o que esperar, somos manipulados por Joachim Trier, que usa planos de enquadramento longínquo para nos confundir, e revela flashbacks da infância, colocando-nos a dúvida sobre a premeditação das ações de Thelma.

Como uma versão gélida de “Carrie”, repleto da força mental e fantasmagórica de Stephen King, “Thelma” é um filme de sensações, controlo e final inesperado.

A abrir a sessão poderá ver também a curta-metragem “A Estranha Casa na Bruma” de Guilherme Daniel, obra vencedora do prémio MOTEL X para Melhor Curta de Terror Portuguesa.

Com os pés descalços e feridos, um peregrino caminha pela floresta queimada. Esta é atravessada por um vento ensurdecedor, como a crença do homem que vive nas entrelinhas da natureza.

Perdido, avista uma casa na bruma, com a porta virada para uma falésia, para o abismo. O seu credo muda quando conhece o ocupante.

Uma curta densa, misteriosa e cheia de engenho na sua produção de som e realização, enquanto adaptação do conto reli “The Strange High House in the Mist” de H.P.Lovecraft.

"Thelma": nos cinemas a 4 de outubro.

Crítica: Daniel Antero

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