A HISTÓRIA: Alex, um menino delicado de nove anos, que não sabe ainda bem se se sente menino ou menina, tem um sonho: ser um dia eleito Miss França. Quinze anos depois, Alex perdeu os pais e a autoconfiança e sente-se estagnado numa vida monótona. Um encontro imprevisto vem despertar esse sonho esquecido. Alex então decide concorrer ao título de Miss França, escondendo a sua identidade masculina. Beleza, excelência, camaradagem... Ao longo das etapas de um concurso implacável, ajudado pela sua pitoresca família que muito o apoia, Alex parte à conquista do título, da sua feminilidade e, acima de tudo, de si mesmo.
"Miss": nos cinemas a 26 de novembro.
Crítica: Daniel Antero
No novo filme do luso-francês Ruben Alves, realizador do sucesso comercial “A Gaiola Dourada”, o ator Alexandre Wetter, conhecido modelo para Jean-Paul Gaultier, abraça a sua androginia e interpreta Alex, um jovem não binário, decidido a vencer o concurso de beleza Miss França.
Ruben Alves age como os membros da família retalhada que Alex uniu em seu redor, que reconhecem que Alex, como homem, encontra a sua graça e encanto na feminilidade e há muito que se esconde e renega o seu potencial máximo.
Então, como o travesti Lola (Thibault de Montalembert), que o ajuda na transformação estética, física e comportamental, Randy (Moussa Mansaly) e Ahmed (Hedi Bouchenafa) que se responsabilizam pela conta de Instagram de Alexandra, e mesmo a senhoria Yolande (Isabelle Nanty), mãe emprestada, Ruben Alves não julga, só avança, de forma comovente e benevolente, com mensagens de tolerância, autoestima e afirmação.
Embora confronte pontualmente as suas personagens com alguns atos de homofobia e transfobia, o realizador não tem intenções militantes ou panfletárias para com a comunidade LGBTQ+, procurando somente projetar-nos na essência, crença e motivação de cada um, através da descoberta da identidade e da realização máxima, independente de se ser Alexandre, Alexandra ou Alex.
Pelo caminho, não esquece que estes momentos de afirmação podem trazer confusão emocional a aqueles que rodeiam quem conseguiu almejar o seu topo, visando a sobranceria, humilhação e amizades que se vão fraturando.
Filme simpático, "Miss", que pretende ser entretenimento familiar com ingenuidade, doçura e humor, vale-se da intrínseca familiaridade de Alexandre Wetter com a sua personagem. Delicado, de rosto iluminado, centra todas as atenções, revelando emoções que certamente viveu, com um encanto natural e experiente.
Infelizmente, com vincado objetivo comercial, orquestração de clichés e notória superficialidade narrativa, "Miss" é um estereótipo com receio de se aprofundar. A ousadia dá lugar à funcionalidade e o tema da identidade fluída acaba por se perder nos registos habituais da comédia francesa...
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