A HISTÓRIA: Uma expedição enfrenta regiões equatoriais isoladas para extrair ADN de três enormes criaturas pré-históricas com vista a uma descoberta médica inovadora.

"Mundo Jurássico: Renascimento": nos cinemas desde 3 de julho.


Crítica: Manuel São Bento
(Aprovado no Rotten Tomatoes. Membro de associações como OFCS, IFSC, OFTA. Veja mais no portfolio).

"Parque Jurássico" (1993) é, sem qualquer sombra de dúvida, um dos filmes da minha vida. Um marco da história do cinema, não só a nível técnico, mas especialmente pela forma como consegue misturar entretenimento puro com comentários filosóficos e éticos sobre ciência, natureza e humanidade. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer da restante saga: "O Mundo Perdido: Parque Jurássico" (1997) e "Mundo Jurássico" (2015) são, para mim, as únicas sequelas que realmente oferecem algo digno de nota, as outras variam entre o esquecível e o verdadeiramente insultuoso.

No entanto, como é que alguém resiste a um novo filme com dinossauros? Por muito dececionante que tenham sido as últimas entradas, por mais formulaica que a saga se tenha tornado, a promessa de voltar a ver estas criaturas majestosas no grande ecrã é suficiente para despertar um entusiasmo genuíno. A curiosidade supera sempre o cansaço, mesmo quando tudo aponta para mais um capítulo descartável... o que não é o caso de "Mundo Jurássico: Renascimento", pois quando se junta Gareth Edwards ("Rogue One: Uma História de Star Wars") atrás das câmaras e David Koepp ("Parque Jurássico") no argumento, dois nomes com história e talento, é impossível não entrar na sala com um mínimo de esperança.

Infelizmente, "Mundo Jurássico: Renascimento" é mais um capítulo agridoce... uma obra que, apesar de conter momentos visivelmente envolventes, continua sem saber como justificar a existência contínua desta saga. O filme tenta funcionar como um novo ponto de partida, onde a narrativa decorre alguns anos após os eventos do último filme, num mundo onde os dinossauros coexistem - de forma cada vez mais forçada - com os humanos.

A história centra-se num grupo de cientistas e investigadores que descobre que uma poderosa empresa farmacêutica está a utilizar ADN de dinossauro para criar medicamentos de alto valor, com potencial para curar doenças incuráveis. O problema? Apenas os mais ricos terão acesso a esses tratamentos. Scarlett Johansson ("Marriage Story") lidera o elenco ao interpretar Zora, uma agente de operações secretas, acompanhada por Mahershala Ali ("Green Book - Um Guia Para a Vida") no papel de Duncan Kincaid, um ex-militar com motivações pessoais e Jonathan Bailey ("Wicked") como o paleontologista da equipa. Juntos, infiltram-se numa ilha proibida - antigamente usada para investigação e estudo genético - que, obviamente, alberga mais do que apenas segredos corporativos.

Edwards tem um olhar visual inegavelmente competente. Os seus filmes anteriores provaram que sabe criar uma sensação de escala e imponência, elevando narrativas que, por vezes, são bastante simples. Em "Mundo Jurássico: Renascimento", essa capacidade é visível em momentos pontuais, em especial na forma como filma os dinossauros com um respeito quase sagrado, como se fossem deuses perdidos no tempo. A sensação de espanto, mesmo que menos frequente do que se desejava, ainda se faz sentir através de certos planos abertos que, nos melhores momentos, remetem para Steven Spielberg de 1993.

No entanto, a impressão geral é a de um realizador amarrado por uma estrutura demasiado familiar. Edwards parece mais preocupado em prestar homenagem a sequências icónicas do passado do que em criar algo verdadeiramente seu. "Mundo Jurássico: Renascimento" encontra-se repleto de recriações de cenas do original, desde o suspense silencioso dos Velociraptors até ao rugido obrigatório do T-Rex. Nada de errado com nostalgia quando usada com propósito, mas quando se torna o principal motor emocional da obra, algo está mal.

O argumento de Koepp também deixa muito a desejar. O regresso do argumentista original era uma das principais razões pelas quais as expectativas estavam mais altas. Afinal, se alguém conhece os temas, o tom e o ADN da saga, seria Koepp. Contudo, o que se encontra é um guião surpreendentemente superficial e oco, onde os conflitos morais são substituídos por dilemas ético-sociais que parecem deslocados no contexto em questão.

O foco do enredo gira em torno do uso de ADN de dinossauro para desenvolver medicamentos revolucionários, o que levanta a questão de quem deve ter acesso a esses tratamentos - os mais ricos ou toda a população. Um tema importante, sem dúvida, mas que em nada dialoga com o espírito da saga original. A reflexão sobre o poder da ciência, os limites da manipulação genética e a imprevisibilidade da natureza é relegada para segundo plano, substituída por uma discussão fria sobre patentes farmacêuticas que parece saída de outra saga.

Ainda assim, se há algo que evita que "Mundo Jurássico: Renascimento" descambe totalmente, é o elenco. Johansson é, como sempre, um farol de presença magnética no ecrã. Cada gesto, cada olhar, cada inflexão na voz demonstra uma segurança e uma capacidade de cativar que poucos atores possuem. Tanto se comenta da falta de verdadeiras estrelas em Hollywood e, pessoalmente, observo aqui uma atriz com um carisma inegável. Duas vezes vencedor do Óscar, Ali está igualmente à altura, oferecendo uma interpretação contida mas intensa, com uma energia própria que carrega as cenas onde participa.

Bailey mostra química convincente com Johansson e todos os restantes atores fazem o possível para elevar os seus papéis. Infelizmente, as personagens são tão vazias, com motivações tão genéricas e diálogos tão expositivos, que nem mesmo os melhores intérpretes conseguem esconder as costuras do argumento. Além disso, existe um claro excesso de personagens e linhas de enredo, nomeadamente uma família que naufragou e que se mantém até ao fim da obra como "peso extra". Existem momentos em que literalmente se limitam a recitar ficheiros biográficos uns aos outros, como se o público precisasse urgentemente de saber o passado traumático de determinada personagem para justificar uma ação qualquer. Não existe desenvolvimento orgânico. Tudo é imposto, artificial e quase mecânico.

O aspeto técnico mais memorável de "Mundo Jurássico: Renascimento" é, sem grande surpresa, a banda sonora. Alexandre Desplat ("O Esquema Fenício") agarra nos temas clássicos de John Williams e dá-lhes nova vida com variações emocionantes e orquestrações poderosas. A música eleva cenas que, de outra forma, seriam absolutamente banais. Mas mesmo aqui, a dependência do passado é notória. O impacto emocional provém diretamente das associações que o espectador tem com a música original. O mérito não é tanto da composição em si, mas da memória afetiva que carrega consigo.

Talvez o elemento mais frustrante de "Mundo Jurássico: Renascimento" seja a sua falta de identidade. O título promete renascimento, mas o que encontramos é mais uma reciclagem. A tentativa de recomeçar a saga com novas personagens e novas ameaças não é suficientemente ousada para se destacar como início de uma nova fase, nem suficientemente coerente com os anteriores para funcionar como continuação. Fica num limbo estranho, como um "spin-off" de luxo que não sabe bem para onde quer ir. E isso sente-se no desfecho, que deixa mais pontas soltas do que resoluções, como se estivesse a preparar caminho para uma nova trilogia que, honestamente, não se sente merecida.

Claro que existem momentos de puro entretenimento. Certas sequências de ação com dinossauros ainda despertam aquela adrenalina infantil que nos leva de volta ao fascínio original. E mesmo quando "Mundo Jurássico: Renascimento" falha, fá-lo com uma estética suficientemente polida para nunca ser abertamente mau. Mas talvez o maior sinal de fadiga seja pessoal. Se as próprias personagens da obra demonstram sinais de exaustão e indiferença perante este mundo onde os dinossauros deviam ser uma constante ameaça, talvez o público também esteja a começar a sentir o mesmo. A ideia já não é nova, já não surpreende nem fascina como dantes. O cinema vive de reinvenções, não de repetições.

Conclusão

"Mundo Jurássico: Renascimento" acaba por ser um reflexo do próprio estado da saga. Um produto visualmente competente, com talento à frente e atrás das câmaras, mas que se perde na falta de propósito e ambição narrativa. O elenco é excelente, mas as personagens vazias. Os dinossauros continuam impressionantes, mas a sua presença já não tem o mesmo impacto. E os temas, outrora tão ricos e provocadores, foram substituídos por dilemas contemporâneos que, embora válidos, não pertencem verdadeiramente a este universo. Talvez esteja na altura de aceitar que a vida, de facto, encontra um caminho - mas nem sempre esse caminho é o da continuação. Às vezes, o melhor que podemos fazer… é deixar para trás.