Mas antes dos CSS tomarem conta do palco, e fazerem jus à noite descontraída e animada que se adivinhava, coube aos portuenses Salto, duo composto por Gui Tomé Ribeiro e Luís Montenegro, a missão de aquecerem a audiência. E, a julgar pela adesão da sala, ainda semicomposta, que despudoradamente foi cedendo aos convites para dançar do indie pop eletrizante, os dois rapazes terão sido a escolha mais que acertada para esta primeira primeira parte. Uma versão de Gold Digger, de Kanye West, e o single Por Ti Demais fizeram parte do curto alinhamento.
Com Rythm to the Rebels, os CSS entraram em palco, numa chegada que se veio a mostrar propositadamente contida, e que terá deixado os mais atentos e menos eufóricos algo assustados. Oculta por uma iluminação ligeira, a presença morna da vocalista chegou num visual estranhamente pouco revelador, mas não muito distante do estilo “trashy” regente, com uma peruca de densos caracóis e um blusão enchumaçado. Mais do que pela qualidade musical – reza a história que, quando nasceram, os vários componentes da banda ainda estariam a aprender a tocar os instrumentos -, os CSS são um projeto que se tem vindo a fazer valer pelo poder da imagem e da performance, sendo esse descomprometimento e atitudes subversivas, aliados a uma indumentária “trendy” e provocatória, as razões do sucesso que os tem levado além-fronteiras.
Passado o “teaser” de pouca dura, Lovefoxxxx partiu para o segundo tema já com os jeans transformados nuns curtos calções, deixando os collants de rede rasgados à mostra. Off The Hook protagonizou o primeiro regresso ao passado e, gradualmente, a mudança de comportamento, à medida que a peruca e o casacoeram despidos, e as luzes voltavam ao normal, revelando o cabelo oxigenado de pontas rosa desbotadas da front-woman, agora convertida em deidade grounge.
A atuação, ao longo da qual os elementos da banda se foram mostrando, à semelhança da vocalista, imparáveis -a animação em palco foi mais que evidente pelas brincadeiras entre eles e pela boa disposição geral -, prosseguiu pelo novo disco, pela mão da faixa título e de Hits Me Like a Rock. Um novo retorno ao primeiro álbum fez-se com Music is My Hot Sex, com Lovefoxxx a protagonizar uma espécie de número de ginástica rítmica com o fio do microfone, ao qual se seguiu um dos momentos mais inusitados da noite -o anúncio da atribuição dos “prémios busão”. Objetos colecionados no decorrer das digressões, desde um lençol a um “kit twilight”, premiaram, ao longo do espetáculo, os elementos do público que mais se destacaram.
O serão continuou em beleza, em clima de visita e revisita pelos três álbuns da discografia dos CSS, embora “Donkey”, o filho do meio, tenha sido apenas contemplado através de Jager Yoga, Move e Let's Reggae All Night.
Let's Make Love and Listen to Death From Above e, sobretudo, Alala, foram os óbvios momentos de destaque, apesar da entrega músicos/público ter sido relativamente nivelada ao longo do concerto. Lovefoxxx, feliz por poder falar em português, esteve em constante interação com os sortudos das primeiras filas, chegando mesmo a pegar no telemóvel de um dos fãs e a cantar para o outro lado da linha.
A falsa despedida chegou com City Grrrl, não tardando o encore composto por Art Bitch, Superafim e Bezzi, que a banda lamentou não saber tocar na perfeição, mas que cumpriu num estilo “sala de ensaio”, por vontade dos presentes no Hard Club.
A 11 de Novembro deste ano, Adriano Cintra, fundador e compositor dos CSS, abandonou a banda, alegando divergências pessoais entre ele e os restantes membros, a quem terá proibido de utilizar os materiais por ele criados. Cedo se instaurou o pânico relativo ao futuro incerto do projecto e da digressão, entretanto agendada, onde se integravam as duas datas em Portugal. Rumores que, felizmente, foram logo sossegados, com garantias de que haverá ainda um longo caminho a percorrer. A julgar pelo espectáculo de ontem à noite, a falta de Adriano Cintra, que, desde Setembro, não partilhava o palco com os colegas, não foi sentida. A verdadeira prova-de-fogo, no entanto, surgirá apenas com regresso aos discos. Ficamos a aguardar...
Alinhamento:
Rhythm to the Rebels
Off the Hook
La Liberación
Hits Me Like a Rock
Music Is My Hot Sex
Red Alert
Let's Make Love and Listen to Death from Above
Jager Yoga
Move
You Could Have It All
Let's Reggae All Night
Fuck Everything
Alala
City Grrrl
Art Bitch
Superafim
Bezzi
Fotografias: Filipa Oliveira
Texto: Ariana Ferreira
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