Dos 8 aos 80, todos estavam presentes no Coliseu do Porto. Havia animação, curiosidade e boa disposição para aquela que prometia ser uma noite memorável e, certamente, inesquecível. A voz de Ana Bacalhau, conhecida pela sua impressionante força, não iria, com certeza,deixar ninguém indiferente, independentemente das baixas temperaturas que se faziam sentir.

Pouco depois da hora prevista e já com o público acomodado, as luzes apagaram-se e a banda surgiu por trás de um pano escuro, onde só se conseguia distinguir alguns traços e luzes. Não tenho mais razões foi a música escolhida para inaugurar a noite. O público, como era de esperar, reagiu muito positivamente e começou a cantar logo, desde o início.

Com uma descontracção contagiante, Ana Bacalhau começou logo a puxar pela plateia, que aplaudia e cantava efusivamente, independentemente da idade. Contado ninguém acredita, Patinho de borracha e Passou por mim e sorriu foram as músicas que se seguiram.

Ana Bacalhau apresentou a banda que com ela partilha os palcos e agradeceu também aos convidados especiais. Sem noção e Um contra o outro seguiram-se e o público reagiu novamente. Cantando e batendo palmas, todos conheciam a letra do single de avanço de "Dois Selos e Um Carimbo". A banda, experiente, sabiaquando exigir mais da plateia presente. Mal por mal foi, também, exemplo disso.

Ignaras vedetas seguiu-se, antes de Ana Bacalhau fazer uma pequena visita aos bastidores, deixando a sua banda a tocar um fabuloso instrumental.

Já de volta ao palco, ouviu-se Canção da tal guitarra, O fado não é meu, Eu tenho um melro e a tão aguardada Fado Toninho. Todos cantavam. A própria banda parava só para ouvir as vozes do Coliseu, protagonizando, com esta atitude, um dos momentos mais altos da noite.Mas muitos ainda estavam para vir: o concerto ia a pouco mais de metade e as músicas mais conhecidas ainda não tinham sido tocadas...

Ana Bacalhaufazia sempre uma introdução em cada música, divulgando sempre o nome, ou parte dele, da próxima música. Fado castigo, Ai rapaz, Canção ao lado e Há dias que não são dias foram os temas que se seguiram. Havia sempre alguém a cantar, a bater com o pé ou a bater palmas. Nunca foi um concerto unilateral, pelo contrário, havia sempre correspondência do público ali presente.

Foi ao som de Clandestino que se feZ, finalmente, silêncio na sala. A letra, o cenário, a voz, tudo se enquadrava, gerandoum momento impressionante e, ao mesmo tempo, arrepiante no Coliseu.A própria banda reconheceu isso e procurou, com as músicas que se seguiram, trazer a alegria de volta à sala.

Quando janto em restaurantes e Fon Fon Fon seguiram-se, fazendo esquecer por completo os momentos vividos anteriormente. Inteligente, a banda: quando a plateia começava a reagir menos, uma música mais conhecida punha todos a bater o pé.

A problemática colocação de um mastro foi a música com que Ana se despediu, ainda que temporariamente,do Coliseu, sob um forte aplauso, já com a plateia totalmente de pé.

Mas concerto não é concerto sem a banda voltar, o que acabou por acontecer, poucos minutos depois. A banda sobiunovamente ao palco e, com um som mais “abrasileirado”, tocou Garçonete da casa de fado e a célebre Fungágá da Bicharada. O ambiente mudara totalmentee, em jeito de festa,a banda despediu-se novamente, para aquele que parecia o adeus final.

Com algum público já a sair,os Deolindasobiram ao palco novamente. Depois de ter agradecido a toda à sua esquipa, produtores e colaboradores incluídos, Ana anunciou que a bandaia tocar uma música nova, estreada pela primeira vez no Coliseu do Porto. Com o título Que parva que eu sou, esta tem uma letra curiosa, que retrata os momentos que se vivem actualmente no nosso país.

E por último, eis que se ouviu Movimento perpétuo associativo. Resultado? Toda a plateia de pé a aplaudir aquela que foi uma noite memorável e que certamente nunca irá esquecer. A banda saiu do palco pelo meio da multidão, que se amontoara para tentar tirar uma fotografiamais de perto, e, sem medo e sem receio, saíu pela porta principal do Coliseu, desaparecendo no meio do público e dos seus fãs.