Final de uma trilogia iniciada com a revelação de "Youth Novels" (2008) e a confirmação de "Wounded Rhymes" (2011), "I Never Learn" consolida a viagem de uma mulher em busca do amor e de si própria, que arrancou quando Lykke Li tinha vinte e poucos anos e termina quando se aproxima dos trinta. O ciclo fecha-se, mas a cantautora garante estar pronta para seguir em frente, com novas temáticas e aventuras sónicas. Para já, mostra-nos o resultado de um período de mais de dois anos de recolhimento em Los Angeles, onde lidou com o final (particularmente doloroso) de uma relação.

As mágoas amorosas já tinham inspirado grande parte do álbum anterior, mas "I Never Learn" leva mais longe o mergulho na dor, culpa ou vergonha, como a autora de "I Follow Rivers" tem assinalado em algumas entrevistas. O alinhamento parece derivar, aliás, da atmosfera desse single especialmente popular, onde o desespero da letra era iluminado por um sentido melódico com ponto alto no refrão, orelhudo como poucos. "No Rest for the Wicked", não por acaso o novo cartão de visita, será a aproximação mais evidente: o tom, grandioso e emocional, sugere que a (falsa) ingenuidade, o humor e a língua afiada dos primeiros tempos ficou mesmo arquivado no disco de estreia.

Se "Wounded Rhymes" ainda se prestava a algum atrevimento nas canções mais irrequietas, em "I Never Learn" encontramos quase sempre doses generosas de negrume, numa expansão da faceta sombria do antecessor. A procissão de torch songs densas faz deste o álbum mais homogéneo - e por isso também o menos surpreendente - de Lykke Li, mas o alinhamento mantém a consistência a que a cantautora nos habituou. Embora não haja cortes radicais nas atmosferas, nenhuma canção merece ser chutada para lado B e a própria duração - pouco mais de meia hora - contribui para que o resultado não se torne cansativo.

Noutros casos, letras tão pesarosas poderiam equivaler a um disco funguento e auto-indulgente. Sem conter o choro, "I Never Learn" ampara essas confissões numa sensibilidade pop capaz de transformar a dor em beleza - cortesia, também, da produção do habitual Björn Yttling (dos conterrâneos Peter Bjorn and John) e do pontual Greg Kurstin. Tirando a crueza esquelética de "Love Me Like I'm Not Made of Stone", as texturas não poupam no reverb, convocam memórias dos girl groups dos anos 1950 e ampliam a aura de hinos como "Just Like a Dream" ou "Never Gonna Love Again". E nos melhores momentos, como no alvoroço repentino de "Gunshot" ou no aconchegante coro gospel de "Heart of Steel", até tendemos a concordar com uma das máximas do disco anterior, "Sadness is a Blessing" - pelo menos quando é filtrada, trabalhada e partilhada desta forma.

@Gonçalo Sá