Tal como no registo anterior, a banda de Barcelos volta a ser porta-estandarte da máxima “quantidade não é qualidade”. São oito faixas, curtas e lestas, e uma banda sonora do verão frenético, com lições de bolso sobre como agarrar a eterna adolescência e a pulsação das vidas com pouco tempo para tristezas, mas desta vez com um som mais trabalhado. Já são mais do que uma promessa, e o seu mérito vai muito além da frescura que trouxeram com a sua chegada.
O início de “Super Villain”, com o timbalão e a guitarra capazes de pôr o galo de Barcelos a bater o pé, é um justo cartão de visita de “Leeches”. Com raras variações no ritmo, dá o mote para quase 20 minutos cheios de rimas leves, muitos gritos de ordem e um habilidoso toca e foge entre o rock sujo, que caracteriza o grupo, e passagens bem polidas.
Parece não haver muitos segredos. Depois do apelo “Stay Irresponsible” do primeiro álbum, o mais explícito entre tantos, a mesma mensagem vem agora em versos como “It’s alright to get it wrong” de “Losing Doubt Manthra”. Mais incisiva que as palavras é a maneira de estar dos quatro amigos – modelos de como se imagina a juventude -, que vem, mais uma vez, bem estampada neste novo trabalho e fazem questão de enfatizar ao vivo.
Videoclip de "Leeches":
“I try my best to look cool when you’re around”, do tema-título do álbum, prossegue a marcha. Não é que seja uma grande novidade na música portuguesa espetar assuntos triviais nas músicas (é até uma tentativa com alguma adesão), mas o difícil é concretizá-lo de modo a soar natural. Os Glockenwise são bons na arte de simplificar e a isso juntam uma intensidade entusiasmante, de nos fazer acreditar, por ela embalados, que o caminho mais acertado na vida é aumentar o volume das colunas. Há também alguns rasgos de lucidez e maturidade, como pede “Time to Go”, mas continuamos a (querer) acreditar que os barcelenses ficaram retidos na idade da despreocupação.
Sem apetrechos, como manda o bom rock independente, o álbum conta, no entanto, com dois momentos de exceção: o saxofone a acompanhar a parte instrumental de “Bad Weather” e o piano de “Goodbye”, a última, que lhe dá mais crédito a servir de ressaca de minutos ininterruptos a destilar energia.
Combinam com a estação e o termómetro, reforçam, com pinta, a identidade “orgulhosamente irresponsável” da banda e acrescentam consistência ao seu arsenal discográfico. Mais do que cuidadoso escrutínio, estas novas malhas merecem é ser bem fruídas no próximo concerto. Ficámos com água na boca. Até lá, esprememos ao máximo, à espera que fartem, a florida “Napoleon” ou a determinada “Mood Swings”, duas paragens obrigatórias destas férias.
@Pedro Pereira
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