E se o título deste segundo registo discográfico remete de imediato para uma certa religiosidade, o palco pisado por Christopher Owens, Chet “Jr” White (fundadores e membros oficias) e companheiros esteve condizente, com arranjos florais onde se misturaram flores verdadeiras e artificiais, a comporem o cenário, como se este setratasse de uma igreja.

My Ma, balada indie em tom confessional, suportada pelos teclados a reforçarem um certo onirismo, foi o ponto de partida para a noite de exorcização de demónios disfarçados por doces melodias. À semelhança de Honey Bunny, segundo single do referido último álbum, que apareceu mais tarde envolto numa falsa alegria surf rock, a figura materna surge como destinatária das palavras cantadas por Chris Owens.

Entre os dois longa-duração editados no decorrer da até então curta carreira dos Girls, foi lançado o ep “Broken Dreams Club”, em 2009, a título de amostra do que poderia ser esperado num futuro próximo, do qual contemplaram três temas. Se Heartbreaker e Broken Dreams Club vivem da sinceridade e do queixume adivinhados aos amores perdidos, Substance insere-se obviamente na adulação psicotrópica mais que assumida pela banda.

Mas como de outras adições está o inferno do vocalista e letrista cheio, chegou-nos versado o desmame amoroso de Vomit, curiosamente precedido por Lust For Life, tema inaugural de “Album”, inspirado, mais uma vez, nos despojos de uma relação defunta, a enganar os desatentos na roupagem animada de idílio de verão. E pelo meio deste entrelaçado de desventuras sentimentais e existenciais, que bom que não faltou Die, detentora da instrumentalização mais bonita e sofisticada criada pelos Girls, a engrandecer a atuação. A quase completar o alinhamento previsto para esta noite, surgiu Hellhole Ratrace, lamento cantado em partilha com as vozes da audiência, a confirmarem o momento mais aguardado.

O alinhamento cumpriu-se com os desvios shoegaze de Morning Light, tendo a banda abandonado brevemente o palco, para voltar para um encore de quatro canções. O público não se coibiu de atirar alguns pedidos ao ar e talvez tenha tido sorte. Caso contrário, que tenha servido de perdão o remate em tom apologético de Forgiveness, a fechar a atuação.

Antes de se irem embora, porém, os Girls agradeceram, distribuindo as flores que lhes embelezaram o cenário, a Sala 2 da Casa da Música.

Depois da polémica em torno da recusa dos Evols em fazerem a primeira parte a troco de remuneração zero, o concerto de abertura foi assegurado pelos Homem Mau, em condições que não foram tornadas públicas. O rock agressivo, coeso e bem liderado dos portuenses executou competentemente a tarefa, deixando ainda mais a lamentar a colagem do vocalista aos maneirismos vocais de Manuel Cruz, eterno vocalista dos Ornatos Violeta.

Alinhamento:

My Ma
Heartbreaker
Laura
Die
Honey Bunny
Love Like a River
Vomit
Lust For Life
Alex
Substance
Hellhole Ratrace
Broken Dreams Club
Morning Light

Magic
Saying I Love You
Darling
Forgiveness

Texto: Ariana Ferreira

Fotografias: José Pinto