Primeiro concerto: Josh Rouse. Em modo acústico, num showcase na Fnac de Santa Catarina, o cantautor norte-americano estreou o festival com um concerto intimistade deixar água na boca. Hoje, às 21h30, estará numa casa maior, no Teatro Sá da Bandeira.

Enquanto isso, no Coliseu, os Salto subiram à fachada para um momento algo inusitado, a que chamaram um “ensaio de som”, mesmo por cima do rodapé onde são anunciados os espetáculos da temporada. Gui Tomé Ribeiro e Luís Montenegro deram as boas vindas aos primeiros festivaleiros e chamaram a atenção dos curiosos que passavam casualmente pelas redondezas. “Isto é que é preciso! Não via uma coisa destas desde que o amigo Abrunhosa se acorrentou às grades”, confidenciou-nos um senhor, numa alusão às manifestações que travaram a venda do Coliseu do Porto à Igreja Universal do Reino de Deus, em 1995.

Por Ti Demais foi o convite aos primeiros passos de dança e aos primeiros movimentos de anca, aos primeiros telemóveis no ar e máquinas fotográficas em riste. É caso para dizer que só não pararam o trânsito porque a rua já se encontrava fechada...

Segundo concerto do dia. Os Capitão Fausto esgotaram a lotação. Prestes a lançarem o primeiro álbum, os cinco capitães navegaram de Lisboa até ao Café Guarany com guitarras, microfones e pandeiretas. Se não fossem os instrumentos, bem que passavam por qualquer outro dos milhares de jovens que marcaram presença pelos 15 palcos do Vodafone Mexefest no Porto.

Mais tarde, pelas 22h30, estiveram na Garagem Vodafone FM, em formato rock, mas agora, em versão acústica. Os Capitão Fausto ganharam palmas e arrancaram eco do público, sobretudo em Teresa, o primeiro single da banda.

E, à semelhança do que aconteceu no café Guarany, também o Majestic se veio a mostrar demasiado pequeno para acolher todos os interessados em assistirem à atuação de Tiago Sousa. Neste, que é consideradoo café mais emblemático da cidade, jornalistas, fotógrafos, público e turistas juntaram-se e misturaram-se, enquanto o músico do Barreiro, sentado ao piano, responsável pelas bandas sonoras à hora do lanche, tentava sobrepor-se ao barulho inevitável da rotina do estabelecimento.

O repertório clássico a que a clientela do Majestic está habituada foi trocado por “Walden Pond's Monk”, lançado em 2011, e por “Samsara”, com data de lançamento ainda por definir. Uma prestação algo curta, adequada aos moldes do festival, porém encantadora.

Às 19h00 em ponto, agora na Fnac Santa Catarina, os ALTO! A lembrar Joaquim Albergaria e os seus Vicious Five, os ALTO!, com a exposição das fotografias de Bergman nas paredes da Fnac como fundo, encheram o café e arrepiaram quem os viu. São um dos Novos Talentos Fnac e tocaram um rock cheio de garra, agressividade e pêlo na venta.

Música paralela

Ao longo do dia, enquanto vários artistas marcavam presença nos diferentes espaços programados, um carro elétrico estava parado entre a Fnac de Santa Catarina e os vendedores de castanhas. Lá, houve Farra Fanfarra às 19h45, às 21h30, às 23h05 e às 00h15. Artilhados com ritmos latinos, funk, sonoridades conhecidas do jazz e da disco, os Farra Fanfarra fizeram a festa eproporcionaram um pézinho de dança a quem passava por lá.

Às 19:30, longe das luzes da ribaltamas igualmente merecedores de atenção, Zé Alguém e Lazy Faithfull. Nas estações do metro da Trindade e do Bolhão, respetivamente, pararam o ‘trânsito’.

Zé Alguém, portuenses de gema, apresentaram numa das estações de metro mais movimentadas do Porto o seu funk/ rock. Tocaram Mar Português, uma adaptação do poema de Fernando Pessoa, uma versão de Cão Muito Mau, dos Boite Zuleika, entre outras.

Lazy Faithfull, banda de rock punk, com um cheirinho a blues, e também em casa,contornaram os sempre imprevisíveis problemas de som e acabaram por mostrar aos portuenses o que o Porto tem de bom.

Depois de uma pausa para um jantar improvisado, às 21h55, 15 minutos depois da hora marcada, sobem os Best Youth ao palco. Os portuenses encontraram uma sala Super Bock Super Rock no espaço Maus Hábitos cheia, com um ambiente saturado. São só dois mas encheram o palco. Tocaram, entre outras, a canção que fez deles uma das sensações online de 2011, Hang Out. Conseguiram cativar o público muito jovem ao longo de meia hora e, com Wait for Me, fecharam o concerto. Saíram pelo meio do público, portuenses, por igual.

O Lobo sobe ao palco

De regresso à sala onde, em maio do ano passado, apresentou, a norte, o terceiro registo da discografia a solo, Norberto Lobo foi recebido pelo auditório do Passos Manuel já com poucas cadeiras por preencher. No centro do palco, envolto num jogo incidente de luzes amareladas, Norberto deu, mais uma vez, provas de virtuosismo, ao manejar a guitarra de forma aparentemente tão inata. A contrastar com a complexidade do aclamado “Fala Mansa”, considerado por muitos o melhor disco nacional da casta de 2011, a fluidez das novas composições, cuja saída para os escaparates acontecerá ainda em meados deste ano.

Pouco depois do início da atuação já a sala se encontrava lotada, sendo que um aglomerado persistente se juntou à entrada, na esperança de ocupar as vagas de um ou outro desertor.

Do “outro lado do Atlântico”

Do Brasil para aquele que, na perspetiva do músico paulista, é “o outro lado do Atlântico”, chegou Dani Black, pronto a estrear o auditório do Ateneu Comercial do Porto. Numa das salas mais subaproveitadas da Invicta, num cenário idílico a convidar à música e ao espetáculo, com apontamentos em talha dourada e um palco forrado a veludo bordeaux, cantor e banda apresentaram “Miragem”, primeiro disco, datado do ano passado. Encontros Carnais,Como as Coisas São e a canção que dá título ao álbum foram alguns dos temas tocados.

Dani Black, cujo pulo mediático se deu graças a Maria Gadú (cujo sucesso, curiosamente, se deveu ao apadrinhamento por Caetano Veloso), disse-se muito elogiado com o convite em integrar a programação do festival e mostrou-se muito à vontade para com o público, que encarou olhos nos olhos, numa espécie de flirt acentuado pelas letras cantadas.

No Coliseu, de cadeiras montadas, marcava o relógio as 22h40, eis que surge uma mulher, ruiva, vestida de branco com uma indumentária em tudo a preparar o cenário eletrónico que se seguiria. Num estilo musical e uma voz em muito a fazer lembrar Cindi Lauper, a vocalista de Nikki and the Dove surge de meias bordeaux, a condizer com a carapuça do microfone, luzes verdes, brancas e vermelhas nas mãos. No escuro, algumas luzes de telemóvel evidenciaram que os suecos atraíram muito público, mas deixaram muitas cadeiras vazias. Apontados como revelações pelo "The Independent", pelo "The Guardian" ou pela "NME", com duas baterias, batidas fortes, muita remistura, o som psicadélico de Nikki and the Dove estreava a sala do Coliseu.

Outros cabeça de cartaz

Um pouco mais tarde era a vez de Cass McCombs estrear o Teatro Sá da Bandeira. A atuação do californiano pautou-se pelo blues rock e por contínuas reclamações acerca da iluminação do palco, que, de reduzida, há-de ter dificultado a tarefa aos fotógrafos.

Acompanhado por uma banda de mais quatro elementos, o que justifica a orientação mais roqueira da noite de ontem, o folk introspectivo de "Wit's End" acabou por ficar relegado para segundo plano. Mccombs murmurou: “I wish i had a story to tell. My gandfather told me lot's of things”, para depois prosseguir por Robbin Egg Blue, numa apresentação suave para a plateia do Teatro Sá da Bandeira, relativamente composta. Segiu-se Burried Alive, com uma doçura melódica a disfarçar a angústia, ainda em clima de calmaria, promulgado por Dreams-Come-True- Girl e Angel Blood. Coube a Love Thine Enemy a missão de abrir o caminho para os blues. Em Lionkiller,mais uma queixa em relação à iluminação intermitente do palco, desta vez sob a forma de interrupção a meio do tema. No fim do concerto, foi mesmo pedido que a luz ficasse totalmente apagada.

À medida que o tempo foi passando, com a aproximação à hora marcada para a atuação de St. Vincent, a sala foi esvaziando, sendo que, no fim, poucos sobraram para bater palmas a County Line, canção do adeus para esta visita de Mccombs e porventura um dos momentos mais aguardados, para quem se deslocou até ao teatro com conhecimento de causa.

Com St. Vincent e Cass McCombs a dominarem o tempo de antena, Acrhy Marshall, que hoje se dá a conhecer ao mundo como King Krule, apesar de já por cá andar há mais tempo por debaixo da máscara de Zoo Kid, debateu-se com a ingrata tarefa de competir com dois dos nomes mais sonantes deste primeiro dia de Mexefest. Prova mais que superada, uma vez que o espaço Garagem Vodafone FM se encontrava tão ou mais populadodo queo Sá da Bandeira, para o final da atuação de McCombs.

Com a designação roubada a uma personagem de um jogo da Nintendo, desengane-se quem possa achar que isso se reflete, de alguma forma, na sonoridade adotada. Ontem à noite, então, muito menos. Acompanhado em palco por uma banda igualmente imberbe, a base trip-hop low-fi que suporta as canções de Marshall, como as ouvimos nos registos discográficos, moldou-se numa variante mais “rock-apopzada”, a fazer lembrar o tempo em que os conterrâneos Arctic Monkeys cantavam sobre sapatos e pistas de dança. A diferença faz-se pela voz, pelo conteúdo, pelo tom algo genuinamente revoltado com que são proferidas as palavras das canções e a postura assumida de quem sabe que as marcas da adolescência demoram mais que muito a sarar.

De t-shirt azul, saia pelo joelho, voz límpida e guitarra preta aparecia no palco Russian Red, a madrilena que, pelo mundo fora, já é conhecida como a Feist espanhola. Na sala do Ateneu, de cortinas vermelhas e candeeiros antigos de fundo, as luzes de tons amarelados davam um ambiente de espetáculo intimista, apesar das centenas de pessoas que deverão ter passado por aquele espaço, nas palavras de Lourdes Hernandéz, “precioso”. Cigarettes foi, provavelmente, o momento de maior empatia com o público. Pena que a sala estivesse já meio vazia. Nem podia ser de outra forma para um concerto que começou com meia hora de atraso. Russian Red teve aindatempo para conversar com o público, sempre em espanhol, e para tocar guitarra, em jeito de homenagem ao público do Porto. Um estado de espírito leve, doce e alegre em estado de música.

E do Ateneu seguiu para o Coliseu. Agora não para tocar, mas para assistir ao concerto de St. Vincent que, perante uma sala já bem composta, incendiava o palco.

De guitarra frenética, voz límpida, calções de couro curtos, Anne Clark mostrou um rock versão encaracolado. Cruel, do álbum “Strange Mercy” do ano passado, teve direito a introdução: no novo vídeo, Anne é raptada, forçada a limpar ecozinhar, e é enterrada viva. Em palco, é guitarrista, dançarina, animal: arranca acordes neuróticos de cada guitarra em que pega e ilustra-os com ensaios de dança igualmente frenéticos. Saint Vincent foi sempre, desde o início, rotulada de “talento em ascensão”; ontem, o coliseu cheio, com chão a vibrar e dança pelos corredores, assistiu à conjunção desenfreada de rock e luz.

A fechar, com chave de ouro, Your Lips are Red, já com o público de pé. Anne Clark desceu do palco e, vendo que uma das raparigas na frente do público fazia anos, deixou-a tocar na guitarra. Um rock psicadélico em auge, bem ao jeito de Saint Vincent.

SuperTudo

Último concerto do primeiro dia do festival que mexe com a cidade do Porto: Super Nada. Manel Cruz, com um dos seus projetos pós-Ornatos Violeta, de novo, em palco, num Teatro Sá da Bandeira cheio até à rolha.

Começou à hora certa mas a meio gás, com sonoridades calmas e taciturnas. Depois de Arte Quis Ser Vida, e de outras malhas à trela da força das guitarras, Manel Cruz tirou a camisola, e,de costelas à mostra, como já é a sua imagem de marca, seguiu o concerto com Anedota, nas suas palavras, uma “sobrevivente”. Na plateia ouviu-se um “Estás igual!” e, no palco, Manel riu-se.

Com um toque cruz-manuelino nas letras, os Super Nada lançam este mês “Nada é possível”, o primeiro álbum: até março eram uma banda só de concertos, e poucos. Talvez por isso o Teatro Sá da Bandeira se tenha enchido para os ver. É sabida a legião de fãs de Manel Cruz e SuperNada era mesmo uma das mais esperadas atuações da noite.

SuperNada teve um pouco de tudo: espera à porta para entrar, o megafone - tão amigo de Manel Cruz -, teve saltos, poucos, palmas e bocejos. É que ao fim de mais de 25 concertos num só dia o cansaço tomou conta de uma boa parte do público.

Até Ao Lavar Dos Cestos, Ainda É Vindima

Mas a noite não terminou com SuperNada. A animação seguiu pela baixa do Porto, pelos espaços Maus Hábitos, com Papercutz + António & Chantily DJ Set. A noite no cinema Passos Manuel esteve a cargo da Antena 3, com a caixa de ritmos. Pelo Pitch, ainda passaram Social Disco Club, André Cascais e Peak & Swift.

As fotos do primeiro dia do Vodafone Mexefest:

p>

Texto: Ariana Ferreira e Inês Espojeira

Fotografias: Filipa Oliveira e Carolina Prata