Mas, se o mote para o concerto se cumpriu logo nos primeiros acordes da noite, com a sublime Seated Night, tão depressa foi esquecido, dando a vez a deambulações por canções mais antigas do músico, como Extreme Ways, In My Heart (ambas do álbum “18”, de 2002) ou Go – o primeiro grande sucesso de Richard Melville Hall, produzido há cerca de 18 anos, aquando da edição do seu álbum homónimo.

Relembrada com regozijo pelo público presente – que assim atendeu ao desejo de Moby, que, numa breve troca de palavras com os seus fãs, confessou todo o afecto que nutre pelo tema – Go abriu alas para a música que dá nome ao novo trabalho, interpretada por Kelly Scarr, cujo talento ultrapassa, notoriamente, os admiráveis dotes vocais, estendendo-se ao piano, ao qual dedica a maior parte das suas atenções em palco.

No mesmo palco –note-se - co-habitam com o piano de Scarr dois violinos, duas guitarras, uma bateria, batuquese outro talento vocal, desta feita, oriundo da capital inglesa.

Repetidos agradecimentos, ora em inglês, ora num português (que, mais tarde, quando sujeito a avaliação, obteve nota máxima por parte da assistência, rendida ao músico), vieram quebrar a quietude de Wait For Me (quietude que, aliás, marca todo o novo registo), fazendo adivinhar um Moby amigável, com ligeiros toques de extroversão, que engrandeciam com o passar da noite, nitidamente, ainda de Verão.

Seguiu-se, no repertório que havia sido preparado para saudar a Invicta, Raining Again, o primeiro exemplar de “Hotel” (o registo que editou em Março de 2005) – que se revelou um verdadeiro aperitivo para aquele que seria o segundo grande momento dançante da noite: a entoação de Bodyrock, um dos sucessos de “Play” – o álbum que catapultou Moby para o estrelato internacional, responsável que foi pela venda de mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo, cujos êxitos todos aguardavam com saudosismo.

Mistake – mais uma amostra do novo álbum – devolveu a serenidade ao público, extasiado e surpreendido com a força e dinamismo então demonstrados por Moby em Palco. Afinal, nem só da tranquilidade de Why Does My Heart Fell So Bad, Natural Blues e Porcelain vive o trabalho daquele que é o autor do álbum de electrónica mais vendido de sempre.

E, precisamente, do álbum de electrónica mais vendido de sempre, eis que surge, igual a si mesma, Porcelain, entoada por todos com a satisfação de quem recorda um excerto da banda sonora da sua própria vida, há nove anos atrás…

Num alinhamento, que incluiu também Pale Horses e Walk With Me, de “Wait For Me”; os grandes hits de “Play”, como Why Does My Heart Feel So Bad , Honey e Natural Blues; bem como We Are All Made of Stars, de “18”, destacaram-se as performances electrizantes de Disco Lies – um tributo à contagiante movida nova-iorquina - e Lift Me Up – dedicada a todos que, pacientemente, suportaram os "dolorosos anos da governação Bush" -, que arrancaram dos presentes a sua faceta mais festiva.

Entre curiosas confissões, que revelaram a paixão de Moby por raves – “daquelas que duram até amanhecer”, houve tempo ainda para os parabéns (o rei do palco havia completado 44 anos no dia anterior), bem como para uma versão sentida da “melhor música alguma vez feita sobre Nova Iorque”, Walk on the Wild Side, de Lou Reed. Efectivamente, as saudades de casa já se faziam sentir, mesmo em noite de óbvia celebração.

O encore, pautado por um duelo musical entre a guitarra de Moby (que não resistiu aos encantos de Whole Lotta Love, dos Led Zepplin, ou Sweet Child O’Mine, dos Guns’n’ Roses) e a calorosa Joy Malcolm (que emprestou a voz à maioria dos sucessos ouvidos naquela noite), não tardou e o techno de Feeling So Real – exemplar único, neste concerto, do álbum “Everything Is Wrong”, de 1993 – disse adeus aos portugueses. Até porque Nova Iorque também já estava, naturalmente, com saudades de Moby.

Sara Novais